Terapia Infantil não é “solução mágica”.

O atendimento infantil possui características específicas, dentre elas, a participação direta da família (principalmente pais e responsáveis) no processo terapêutico. Desde a formulação da demanda, o papel da família se evidencia. Não é a criança que busca terapia e sim, a família que identifica essa necessidade, por diversos motivos. Deste modo, a demanda inicialmente é da família e foi constituída a partir das dificuldades enfrentadas e questões específicas de cada uma.

Nos primeiros contatos com a família o psicólogo irá avaliar a demanda de forma geral, coletando dados sobre o motivo de procurar a terapia, tratamentos anteriores e em andamento, hábitos da criança e da família, história de vida (saúde, relações familiares, vida escolar, sono, alimentação) e detalhes necessários para analisar funcionalmente queixas específicas (Vermes, 2012).

Seja qual for a demanda, o profissional deve deixar claro para a família que ela também faz parte do processo e que o atendimento da criança não será uma “saída mágica”. A família pode supor que, uma vez que a criança está em atendimento, podem se despreocupar em relação à promoção de mudanças, e isto é um equívoco (Vermes, 2012). Qualquer modificação efetiva e duradoura dos comportamentos da criança pressupõe uma mudança prévia na forma com que os cuidadores lidam com ela (Pinheiro, et al., 2006).

Visto que para alcançarmos os resultados esperados no atendimento infantil serão necessárias mudanças na família, a orientação familiar surge como uma maneira de conduzir a família nesse processo.

“Alguns programas de treinamento introduzem, de modo didático, os fundamentos da análise do comportamento aplicada, instruindo os pais a motivarem os filhos a se comportarem bem e supervisionando-os na aplicação de técnicas de incentivo, de atenção ao bom desempenho e de retirada de atenção quando a criança não se comporta da maneira combinada”. (Pinheiro, et al., 2006)

Não há uma “receita de bolo” para a orientação de pais. Todas as orientações deverão ser analisadas considerando as particulares de cada caso e o perfil de cada família. A necessidade de orientação também pode variar. “O encontro com os pais costuma acontecer pelo menos uma vez por mês. Em muitos casos, observa-se a necessidade de encontros quinzenais ou até semanais. Não raramente, em algum momento, opta-se por maximizar as sessões com os pais e diminuir o número de encontros com a criança.” (Vermes, 2012).

Dizer que terapia infantil não é uma “solução mágica” tem o objetivo de esclarecer para as famílias que as mudanças esperadas não dependem apenas do profissional, muito menos só da criança, e sim, de um trabalho em conjunto e cooperativo, que envolve a dinâmica familiar como um todo.

Referências:

Pinheiro, Maria Isabel Santos et al . Treinamento de habilidades sociais educativas para pais de crianças com problemas de comportamento. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre, v. 19, n. 3, p. 407-414, 2006. 

Vermes, Joana Singer. Clínica analítico-comportamental infantil: a estrutura. In: Borges, N. B.; Cassas, F. A. Clínica analítico- comportamental: aspectos teóricos e práticos. Porto Alegre: Artmed, 2012. Cap. 24, p. 214-222.

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Escrito por Débora Louyse

Psicóloga com experiência em acompanhamento terapêutico de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo em ambiente escolar e domiciliar, atendimentos psicológicos direcionados a dificuldades de aprendizagem de crianças e adolescentes com desenvolvimento típico; Experiência em aplicação do método ABA (Análise do Comportamento Aplicada) para intervenções multidisciplinares em crianças e adolescentes e realiza atendimentos psicológicos clínicos de adultos e idosos a partir da abordagem Analítico-Comportamental.
E-mail: deboralouyse@hotmail.com

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