A pandemia nossa de cada dia: Ansiedade e cansaço no cotidiano

A pandemia de COVID-19 apesar dos avanços na identificação, tratamento e prevenção ainda afeta o cotidiano e a saúde física e mental de milhões de pessoas ao redor do mundo. As consequências físicas e psicológicas para as pessoas que tiveram as suas rotinas alteradas pela pandemia ainda estão sendo discutidas. Nas últimas semanas, o cansaço da pandemia e a ansiedade ganharam destaque por novas publicações na área.

            A ansiedade ganhou destaque por estar presente em dois aspectos: ansiedade por um possível contágio e ansiedade por possíveis impactos da doença. O consumo de informações também tem sido destacado como fundamental para compreender essas relações. Aspectos de frequência, diversidade de mídias e duração da exposição tem sido associados com ansiedade relacionada especificamente ao COVID-19. O consumo de diferentes formas de mídia afetam de maneira singular as pessoas que tinham maiores índices de sofrimento psicológico pré-pandemia e são mais afetadas por essa relação (Bendau et al., 2020). Contudo, esse consumo de mídias não estava somente relacionado com ansiedade, mas também com maior frequência de comportamentos de lavar as mãos, usar álcool 70%, entre outras medidas protetivas (Liu, 2020).

            Uma das dificuldades das estratégias de políticas públicas é conseguir balancear esses elementos ligados à ansiedade na pandemia, ao mesmo tempo fornecendo informações suficientes sobre as medidas protetivas, mas sem gerar ansiedade e comportamentos de sofrimento psicológico. Compreender como as pessoas têm enfrentado essas situações e quais estratégias têm sido mais eficazes para lidar com a pandemia na realidade brasileira são fundamentais para o planejamento dessas respostas.

            Ao mesmo tempo, um cansaço do isolamento social e da quarentena ameaçam as medidas protetivas de isolamento social. Dados norte-americanos apontam que a reabertura e retomada de atividades diminuem sensivelmente os índices de isolamento social (Zhao et al., 2020). Essa diminuição rápida aumenta a possibilidade de novas ondas de contágio. Os dados na Noruega também mostram uma característica semelhante, com queda acentuada do isolamento social após um mês de quarentena. Esses dados indicam que as medidas de quarentena e isolamento social tem um limite de alcance ao quanto os indivíduos estão dispostos a sacrificar aspectos sociais e pessoais para a manutenção do isolamento social (Steens et al., 2020).

            Os dados brasileiros coletados pelo InLoco (2020) apontam o mesmo padrão: aumento expressivo do isolamento social durante, aproximadamente, um mês seguido de quedas consecutivas. Os índices de isolamento social pré-pandemia no Brasil variavam entre 30 e 40%, atingiu um pico em abril (62,2%) e atualmente encontra-se com 44,3%. Pesquisas devem investigar se essa queda do isolamento se reflete na continuidade ou adoção de medidas preventivas para o COVID-19. Compreender as estratégias e formas de prevenção mais adotadas é um dos principais passos para atuar de maneira coerente em todo o país.

Psicólogos e profissionais da saúde devem buscar atuar nos aspectos relativos à ansiedade e à fadiga da pandemia, bem como propondo possíveis estratégias comportamentais que consigam manter os comportamentos protetivos. A análise do comportamento pode e deve contribuir com esse debate na proposição de contingências que consigam estabelecer as condições mais favoráveis para um menor sofrimento psicológico e maior aderência as novas regras de higiene e prevenção.

Para saber mais:

Bendau, A., Petzold, M. B., Pyrkosch, L., Maricic, L. M., Betzler, F., Rogoll, J., … & Plag, J. (2020). Associations between COVID-19 related media consumption and symptoms of anxiety, depression, and COVID-19 related fear in the general population in Germany. European archives of psychiatry and clinical neuroscience, in press.

InLoco (2020). Mapa de isolamento social – Brasil. Disponível em https://mapabrasileirodacovid.inloco.com.br/pt/

Liu, P. L. (2020). COVID-19 Information Seeking on Digital Media and Preventive Behaviors: The Mediation Role of Worry. Cyberpsychology, Behavior, and Social Networking, in press.

Steens, A., de Blasio, B. F., Veneti, L., Gimma, A., Edmunds, W. J., Van Zandvoort, K., … & Robberstad, B. (2020). Poor self-reported adherence to COVID-19-related quarantine/isolation requests, Norway, April to July 2020. Eurosurveillance, 25(37), 2001607. Zhao, J., Lee, M., Ghader, S., Younes, H., Darzi, A., Xiong, C., & Zhang, L. (2020). Quarantine Fatigue: first-ever decrease in social distancing measures after the COVID-19 pandemic outbreak before reopening United States. arXiv preprint arXiv:2006.03716.

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Escrito por Sidnei R. Priolo Filho

Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos. Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Forense da Universidade Tuiuti do Paraná em Curitiba.

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