Empatia em Tempos de Pandemia

Falar de empatia nunca foi tão importante como nos tempos atuais. Devido à Covid-19 a atual recomendação dada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é que fiquemos em casa e evitemos o contato social, a fim de preservar nossa própria vida e a daqueles que estão entre a população de risco.

Mas, diante de uma recomendação que pode nos levar a olhar para o outro com afeição, por que existem pessoas que não conseguem seguir tal recomendação da OMS? E aqui não falo das que precisam manter suas atividades, mas daqueles que, mesmo tendo condições financeiras e logísticas de permanecer em casa, não o fazem.

Mas como modificar comportamentos que acabam afetando a sociedade? Abib (2004) afirma que o comportamento operante está na origem de práticas que produzem consequências de sobrevivência cultural, pois uma pessoa pode emitir respostas diferentes das do grupo e, então, tal comportamento pode produzir as mesmas consequências reforçadoras para as pessoas que o imitarem. Práticas culturais sugerem um ato contínuo e são as consequências que as mantêm. Isso implicaria para Abib (2001) apud Turine e Carrara (2010), que as sociedades deveriam planejar consequências específicas em prol da sobrevivência das culturas. Uma cultura pós-moderna requer controle do imediatismo da natureza e invenção de novas práticas culturais. Uma vez que são as consequências reforçadoras que selecionam o comportamento operante. Para Skinner (1974) apud Turine e Carrara (2010), tal seleção ocorre também no âmbito das práticas culturais.

Para Baum (1999), a evolução cultural altera o comportamento social de um grupo, possivelmente por trazer consequências reforçadoras comuns a esse grupo e não necessariamente para os indivíduos de forma particular; cultura implicaria, portanto, comportamento verbal e não verbal adquirido na interação com determinado grupo.

Teoricamente, os conceitos de habilidades sociais e de competência social (Del Prette e Del Prette, 1999) remetem à ocorrência de comportamentos (socialmente habilidosos) que aumentariam a probabilidade de resolver problemas sem, contudo, prejudicar as demais pessoas, estando de acordo com os pressupostos da ética skinneriana, porque, em última análise, o que é bom para o indivíduo é aquilo que lhe traz reforçadores na atualidade e no futuro (Abib, 2001).

A empatia se caracteriza como uma experiência indireta de uma emoção próxima a emoção vivida pelo outro (Eisenberg & Miller, 1990). E, portanto, pode ser um caminho para a mudança para uma prática cultural da empatia.

Se colocarmos tal conceito em prática será possível entender a importância de ficar em casa se possível, para não prejudicar outras pessoas, sem transmitir e/ou ficar doente ou perder, por exemplo, um ente querido.

Ainda a respeito da empatia e habilidades sociais os Del Prette e Del Prette (2017) trazem um conceito importante que chamam de regra Aurea, que consiste em fazer com o outro o que gostaria que lhe fizesse, evitando trocas negativas.

Defendemos a ideia de que as pessoas socialmente competentes são as que contribuem na maximização de ganhos e na minimização de perdas para si e para aquelas com quem interagem […] o desempenho socialmente competente é aquele que expressa uma leitura adequada do ambiente social, que decodifica corretamente os desempenhos esperados, valorizados e efetivos para o indivíduo em sua relação com os demais (Del Prette & Del Prette, 2001, p. 33). Algo que tem se mostrado essencial em tempos de pandemia.

Te convido a fazer uma reflexão… Será que estou sendo empático, será que estou colocando a “regra de ouro em prática”? Se não, quais são os motivos que me levam a não fazer isso?

Exercitar a empatia e evitar conflitos pode ser uma boa maneira de passarmos por esse momento de forma mais rápida e amena. Acho que as Habilidades Sociais nunca se fizeram tão necessárias como nesse momento!

Referências

Abib, J. A. D, (2001). Teoria Moral de Skinner e Desenvolvimento Humano. Universidade Federal de São Carlos Psicologia: Reflexão e Crítica, 14(1), pp.107-117

Baum, W. M. (1999). Compreender o behaviorismo: ciência, comportamento e cultura. (M. T. A. Silva; M. A. Matos & G. Y. Tomanari, Trad.). Porto Alegre: Artmed. (originalmente publicado em 1994).  

Del Prette, Z. Del Prette, A (2017). Competência social e habilidades sociais: Manual teórico-prático.

Del Prette, A.; Del Prette, Z. & Barreto, M. C. M. (1999). Habilidades sociales en la formación profesional del psicólogo: análisis de un programa de intervención. Psicología Conductual, 7 (1), 27-47

Eisenberg, N. Miller, (1990). Empathy, sympathy and altruism: empirical and conceptual links. N. Eisenberg & J. Strayer (org), Empathy and its development (pp292-316) New York: Cambridge University Press.

Turini Bolsoni-Silva, A. e Carrara, K. (2010) Habilidades sociais e análise do comportamento: compatibilidades e dissensões conceitual-metodológicas. Psicol. rev. (Belo Horizonte) 

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Escrito por Fernanda Cerqueira

Psicóloga Clínica. Mestre em Análise e Evolução do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás). Especializada em Terapia Analítico Comportamental Clínica pela Unijorge. Psicóloga, formada pela União Metropolitana de Educação e Cultura (Unime) Salvador BA.
E-mail para contato:
nandacerqueira-@hotmail.com

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