Diminuindo os abismos e fortalecendo o relacionamento amoroso: desafios de uma vida a dois

Quando as pessoas narram o início de relacionamentos amorosos e são questionadas acerca das razões que os aproximaram, as respostas podem ser as mais variadas, desde preferências físicas, gostos musicais e de lazer, amigos em comum ou serem uma boa companhia. Nesse início o casal parece estar blindado de grandes diferenças e incompatibilidades, uma vez que a interação mais ocasional aumenta a probabilidade do foco em momentos de prazer e satisfação em detrimento dos conflitos. Com o passar do tempo e a construção da intimidade, começam a surgir temáticas mais pessoais e consequentemente mais profundas acerca de planos e projetos de vida individuais, o que os leva a pensar na compatibilidade e viabilidade do entrelaçamento de ambos em uma vida a dois. “Finalmente nos comprometemos com alguém quando as atrações parecem fortes e as incompatibilidades gerenciáveis” (Christensen, Doss, Jacobson, 2018, pág. 82).

Cada indivíduo possui uma história de vida permeada de interações e experiências singulares e essa equação norteará suas concepções e comportamentos. Ao se deparar com o parceiro que também possui esse mesmo arsenal singular surgirão desencontros próprios a qualquer interação humana, especialmente as mais próximas e cotidianas. O conflito conjugal traz consigo a chance de crescimento e amadurecimento do casal e também a cada um individualmente, ou pode ser fonte de distanciamento e criação de um grande abismo entre os parceiros.

Os desencontros trazem à tona suas formas mais arraigadas de reagir àas situações e com eles emergem suas habilidades e déficits de lidar com as dificuldades. Diante de situações que nos trazem dor ou desconforto costumamos buscar explicações, e quando se trata de relacionamentos amorosos, é comum que essa explicação para o conflito venha em tom acusatório das ações ou omissões do parceiro. Porém, ao buscarmos também o nosso papel para a manutenção do conflito criamos a oportunidade de reconhecer o que tal problema também diz respeito a nós, e como tal, identificar nossa responsabilidade em direção à solução. É importante frisar que a solução não se referirá apenas a mudanças, mas também ao desenvolvimento da habilidade de aceitação do parceiro. Por muitas vezes a aceitação é confundida com resignação e encarada como sendo uma “desculpa” para quem não quer mudar. Porém, o casal que desenvolve a habilidade de aceitação se mostra mais aberto a “apreciar um ao outro de forma mais completa e mais honesta e pode inspirar compaixão para com a posição de cada um” (Christensen, Doss, Jacobson, 2018, pág. 40).

Outro ponto essencial à dinâmica do relacionamento amoroso é ampliar a visão do que seria o amor. Mais do que o encarar como uma emoção espontânea (que vem e se mantém por si mesma), a proposta é que “mais do que um sentimento, pensemos o amor como uma ação” (Harris, 2009, pág. 13). Afinal, as emoções têm o seu caráter involuntário e como tal, podem surgir e se modificar a qualquer momento, enquanto que as ações podem se dar para além de variáveis emocionais.

Em congruência à prática da dialética aceitação e mudança e da visão do amor como um exercício prático e cotidiano, será fundamental que os parceiros entrem em contato com aquilo que de mais profundo os move enquanto seresm humanos, ou seja, seus valores. Eles (os valores) os nortearão em direção ao que verdadeiramente importa para si mesmos, e trarão a viabilidade de uma vida mais plena e significativa no sentido individual, e consequentemente em prol de uma relação mais conectada e integral.

Referências Bibliográficas

  • Christensen, A., Doss, B.D., Jacobson, N.S. (2018). Diferenças Reconciliáveis Reconstruindo seu relacionamento ao redescobrir o parceiro que você ama, sem se perder. Novo Hamburgo: Sinopsys.
  • Harris, R. (2009). ACT with love stop struggling, reconcile differences, and strengthen your relationship with acceptance and commitment therapy. United States of America, New Harbinger Publications, Inc.
  • Harris, R. (2011). Liberte-se: evitando as armadilhas da procura da felicidade. Rio de Janeiro: Agir.

Saban, M. T. (2015). Introdução àa Terapia de Aceitação e Compromisso. Belo Horizonte: Editora Artesã

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Escrito por Mariana Poubel

Graduada em Psicologia pela UFRJ (2012) e mestre em Saúde Mental pelo IPUB/UFRJ (2015). Fez curso de formação em Terapia Cognitivo Comportamental para adultos e infanto juvenil, curso de capacitação em análise do comportamento e formação em terapias contextuais.
Atua como terapeuta, supervisora e mentora.

Email para contato: marianapoubel@gmail.com

Curso: ” Imersão em Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)”

O uso das estratégias de tolerância no contexto da Terapia Comportamental Integrativa de Casal (IBCT)