Variabilidade para a construção de repertórios comportamentais mais efetivos

Quando ocorre a busca pelo início de um processo psicoterápico, alguns clientes demandam, de nós terapeutas, respostas que os levem a um caminho rápido para a solução dos seus problemas, como se para isso tivéssemos e houvesse uma receita de bolo. Começa aí uma fase de fazer-lhes entender o quanto se conhecer, vivenciar novas experiências, entrar em contato com contingências diferentes, são fundamentais para o aumento de um repertório comportamental e isso significa variar o comportamento para que novas formas de resolver os problemas surjam em condições diversas e adversas. Neste texto, vamos falar sobre a importância do comportamento de variar para aquisição de um repertório comportamental que nos dê condições de atuar de maneira efetiva sobre a vida.

A expressão “variabilidade comportamental” corresponde à quantidade de repertório existente na vida de cada pessoa para lidar com situações distintas, ou seja, a existência de uma variação no comportamento do cliente que se apresenta na forma como realiza atividades, como soluciona problemas e como discrimina o que gosta e faz na vida. Variar é percorrer por entre muitas possibilidades, é fazer diferente, é mudar o curso das ações (Fonseca Jr, 2016).

E a expressão “repertório comportamental”? Segundo Zortea (2013), fazem parte desses repertórios respostas comportamentais emitidas pelos indivíduos desde o nascimento até o último dia de vida, cada um possui seu repertório de comportamentos selecionados pelas contingências de reforçamento que vivenciou, ou seja, suas próprias experiências, então podemos dizer que é algo muito específico de cada cliente, é próprio. Portanto, de acordo com Skinner (1974) repertório diz respeito ao que a pessoa consegue fazer em circunstâncias adequadas.

Pessoas que tem o repertório comportamental empobrecido ou pouco variado precisam para ampliar de forma efetiva seu repertório, viver experiências, criar condições de discriminação e   aprendizagem com a finalidade de variar o comportamento e assim, aumentar as possibilidades e arranjos para comportamentos novos.  Então uma coisa depende da outra. Ter variabilidade comportamental depende do quanto fomos ou seremos expostos às contingencias ao longo da vida, significa ter um repertório variado, grande, extenso.

Ter um repertório variado não significa que teremos que saber lidar com todas as situações na vida, mas certamente existe uma probabilidade alta que isso ocorra quando já vivemos experiências diversas. E isso certamente nos dá maior capacidade de lidar com as adversidades e, portanto, o efeito destas será minimizado através das experiências anteriores.

Na Análise do Comportamento podemos considerar algumas maneiras de aprendizagem, como o controle por regras, sendo estas, estímulos antecedentes verbais que especificam contingências (Skinner, 1994). A regra pode ser apresentada de forma direta entre um falante e um ouvinte ou através de instrumentos, tais como, sinais, avisos luminosos, placas, gestos, etc.

O comportamento também pode ser aprendido por modelagem, no qual ocorre o controle por exposição direta às contingências, neste caso, o indivíduo aprende vivenciando as consequências de suas respostas sobre o mundo.  O comportamento governado por regras geralmente é aprendido de forma mais rápida do que os comportamentos controlados diretamente a partir das exposições às contingências, porque na aprendizagem por regras há uma descrição completa de uma contingência, por exemplo, “se você falar deste jeito com o seu chefe, provavelmente criará problemas com ele”. No entanto, Skinner discute que o comportamento modelado pelas contingências é mais valorizado pelo próprio sujeito por ter sido constituído principalmente pelas próprias experiências, ou seja, pelo contato natural do organismo com os reforçadores (Skinner, 1994).

 Muitos clientes com uma história de vida de pouca exposição às contingencias e de muito seguimento de regras, de acordo com os conceitos descritos, tendem a não se expor a muitas contingências, o que faz com que apresentem um repertório limitado e que talvez o leve a algumas limitações e muitas vezes ao sofrimento, uma vez que “não sabem o que fazer” em situações adversas.

Costumamos chamar de “maduras” aquelas pessoas que apresentam um repertório comportamental eficaz em situações distintas e que conseguem produzir reforços positivos ou evitar aversivos. Segundo Guilhardi (2012), uma pessoa madura é capaz de apresentar variabilidade comportamental o que a torna mais sensível aos reforços disponíveis no ambiente e se comportar mais sob controle das condições presentes do que sob controle de regras. Ainda segundo o autor, a maturidade não se desenvolve exclusivamente com a passagem do tempo, pois envolve uma gama abrangente e complexa de comportamentos que podem e precisam ser instalados e mantidos. Esses comportamentos são estabelecidos através de suas experiências que ocorreram durante toda uma vida.

Zortea (2013), em seu texto sobre Especialismos Comportamentais, descreve que seria um erro na vida nos tornarmos especialistas de algo. Porque segundo ele, a vida precisa ser estabelecida e sustentada sob vários pilares, focar todo investimento em apenas uma coisa, pode ser desastroso. Por isso clientes com pouco repertório comportamental e que não se expõem a novas contingências estariam se limitando a desenvolver comportamentos mais efetivos para lidarem com a vida e suas várias imprevisibilidades. Então mudar, variar, aumentar esse repertório é algo possível, que pode ter um custo alto de resposta ao se propor sair da sua zona de conforto, mas necessário. Deixar para trás algumas regras e auto regras, abrir mão do que muitas vezes nos prende, gostamos ou do que já estamos acostumados a fazer, é o início de se comportar diferente, de experimentar uma possibilidade antes não pensada e lidar diretamente com as contingências em vigor e as consequências de novas escolhas.

Então, durante o processo terapêutico, aumentar e construir um repertório comportamental variado é também um objetivo do terapeuta, entre tantas questões, ajudar o cliente a desenvolver repertório, é ajudá-lo a encontrar condições favoráveis que produza consequências reforçadoras em sua vida. Deste modo, a terapia tem um papel fundamental nesse processo de auxiliar o cliente no entendimento da importância de se variar o comportamento para adquirir repertórios eficazes para lidar com a vida.

Referências [CC1] 

Zortea, T. C. (2013, Agosto 5). Notas sobre repertório comportamental. [Web log message]. Recuperado de: http://comportamentoesociedade.com.

Guilhardi, H. J. (2012). Alguns comentários sobre a maturidade pessoal. Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento Campinas – SP

Fonseca Júnior, A. R. (2016). Introdução ao conceito de variabilidade comportamental

Skinner, (2003). Ciência e comportamento Humano, São Paulo: Martins Fontes


 [CC1]Precisam de revisão

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Escrito por Amona Lima

Graduada em psicologia pelo Centro Universitário de Brasilia - UniCEUB, Especialista em Análise do Comportamento pelo IBAC- Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento e mestranda pelo Centro Universitario de Brasilia -UniCEUB. Atua no consultório realizando atendimentos de adultos e adolescentes, no formato de terapia de casal, família e também atua em projetos de grupos terapêuticos para dependentes afetivos. É também coordenadora Institucional da Atitude Cursos,

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