A Teoria da Mente e o Autismo

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é definido pelo DSM-V (2013) como um conjunto de déficits persistentes na comunicação e interação social, além da apresentação de padrões restritos e repetitivos de comportamento. Os sintomas comumente estão presentes de forma precoce no período de desenvolvimento infantil, causando prejuízos significativos no funcionamento social.

Dentre as diversas características que indivíduos diagnosticados com Autismo podem apresentar, Williams e Wright (2008) descrevem a “cegueira mental”. O termo faz referência a dificuldade de indivíduos com TEA entenderem o ponto de vista, ideias e sentimentos alheios. Esta característica refere-se a habilidade nomeada como Teoria da Mente.

“A Teoria da Mente (TOM) faz referência a nossa habilidade de fazer suposições precisas sobre o que os outros pensam ou sentem ou nos ajuda a prever o que farão.” (Williams e Wright, 2008, p. 32). Segundo Silva, et al. (2012) adquirir essa habilidade é fundamental para nossa inserção social, estabelecimento, manutenção e êxito nas relações sociais.

Para compreender os padrões comportamentais apresentados pelo ser humano, Skinner propõe a análise de três níveis de seleção: herança da espécie, história de vida e cultura.

“A primeira dessas histórias é a da espécie à qual o organismo pertence, revelada por meio de características anatômicas e padrões herdados […]. A segunda diz respeito a seleção do repertório individual […]. A terceira e última história refere-se à seleção de práticas culturais, as quais determinam certos padrões de comportamento do grupo que influenciarão, por sua vez, o comportamento do indivíduo.” (Banaco, et al. 2012, p. 147).

Caixeta e Nitrini (2002) relatam que com tal recurso cognitivo, o ser humano pôde, por exemplo, ao longo do desenvolvimento da espécie, sofisticar as relações e a comunicação intra e inter-grupo, habilitando-o a entender artifícios da expressão humana como a ironia, a dissimulação, o sofrimento, o interesse, a falsidade.

Estima-se que 80% das crianças com quatro anos de idade, em desenvolvimento típico apresentaram habilidade de Teoria da Mente. Contudo, as crianças com TEA podem desenvolver essa habilidade de forma mais lenta e distinta (Williams e Wright, 2008, p. 34). Os autores descrevem as principais dificuldades que indivíduos com TEA podem enfrentar devido ao desenvolvimento tardio e/ou distinto da Teoria da Mente:

1. Entender sentimentos e pensamentos alheios.

2. Entender que os outros esperam que seu comportamento mude dependendo de onde ou com quem estão.

3. Prever o que as pessoas podem fazer em seguida.

4. Interpretar diversos gestos ou expressões faciais.

5. Entender como seu comportamento pode irritar terceiros.

6. Entender regras sociais.

7. Expressar as próprias emoções adequadamente.

As dificuldades envolvidas no desenvolvimento da Teoria da Mente condizem com outros critérios diagnósticos apresentados pelo DSM-V (2013) como déficits na reciprocidade sociemocional, nos comportamentos comunicativos não verbais e para desenvolver, manter e compreender relacionamentos.

Tratando-se de uma habilidade importante para interação e comunicação social, estratégias de intervenção devem ser delimitadas para auxiliar os indivíduos com TEA a desenvolverem essa habilidade, ao auxiliá-los a entenderem as emoções, os manejos sociais e de relacionamentos. Visto que, a socialização é a dificuldade crucial no TEA, interligada a diversos outros requisitos cruciais para o aprendizado. (Mello, 2007, p. 21).

Referências:

American Psychiatric Association; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento, et al. (2015) Manual diagnóstico e estatístico dos transtornos mentais: DSM-5 [recurso eletrônico] 5. ed. Porto Alegre: Artmed.

Banaco et al. Personalidade. (2012) In: Hubner e Moreira (Org.). Fundamentos de Psicologia: temas clássicos da psicologia sob a ótica da análise do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, cap. 10, p. 144-153.

Caixeta e Nitrini. (2002). Teoria da mente: uma revisão com enfoque na sua incorporação pela psicologia médica. Psicologia: Reflexão e Crítica, 15(1), 105-112.

Mello (2007). Autismo: guia prático. São Paulo: AMA.

Silva; Rodrigues e Silveira. (2012). Teoria da Mente e Desenvolvimento Social na Infância. Psicologia em Pesquisa, 6(2), 151-159.

Williams e Wright (2008). Convivendo com o Autismo e Síndrome de Asperger: estratégias práticas para pais e profissionais. São Paulo: M. Books do Brasil Editora Ltda.

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Escrito por Débora Louyse

Psicóloga com experiência em acompanhamento terapêutico de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo em ambiente escolar e domiciliar, atendimentos psicológicos direcionados a dificuldades de aprendizagem de crianças e adolescentes com desenvolvimento típico; Experiência em aplicação do método ABA (Análise do Comportamento Aplicada) para intervenções multidisciplinares em crianças e adolescentes e realiza atendimentos psicológicos clínicos de adultos e idosos a partir da abordagem Analítico-Comportamental.
E-mail: deboralouyse@hotmail.com

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