O processo de Luto e uma proposta de intervenção clínica

Lucas Barbosa dos Santos
Giovana Pagliari

William Worden (2013) é um psicólogo que propôs tarefas para o enfrentamento do luto. O luto é um processo universal, é inevitável que em algum momento da vida as pessoas passem por esse processo (Worden, 2013). É importante saber que o luto não se dá só através da morte.

Provavelmente quando aparecem nas redes sociais, cartazes, postagens na cor preta e com a seguinte palavra: “luto”, logo surja o pensamento “Quem morreu?”, pois este é um padrão para notícias de morte em mídias sociais, mas é necessário destacar que nem sempre o luto é sinônimo de morte. O luto também está relacionado à términos de relacionamento (namoro, casamento, etc.), perda de emprego, fim da faculdade, a descoberta de uma doença. O processo de luto é descrito como a privação de reforçadores, por isso é normalmente associado a situações de sofrimento, perda de alguém muito amado, por exemplo. Segundo Torres (2010, apud NASCIMENTO, 2015) o luto, em uma visão analítico-comportamental é um processo de adaptação do repertório comportamental, considerando que o vínculo e a perda são estímulos antecedentes às respostas caracterizadas como luto, e anterior a perda, os mesmos comportamentos relacionados a pessoa/local teriam alta probabilidade de ocorrerem e serem reforçados. Como descrito a seguir:

O conjunto de comportamentos que denominado como luto usualmente acompanha um conjunto de contingências aversivas e a perda de reforçadores importantes, uma vez que a pessoa passa a evitar mais dores e frustrações, e como consequência, passa a diminuir sua atividade cotidiana, não se expondo a contingências com novos e diferentes reforços, emitindo condutas de fuga e esquiva (NASCIMENTO, et al. 2015, p. 455).

O conjunto de comportamentos que denominado como luto usualmente acompanha um conjunto de contingências aversivas e a perda de reforçadores importantes, uma vez que a pessoa passa a evitar mais dores e frustrações, e como consequência, passa a diminuir sua atividade cotidiana, não se expondo a contingências com novos e diferentes reforços, emitindo condutas de fuga e esquiva (NASCIMENTO, et al. 2015, p. 455).

Segundo Kubler-ross (2008), o luto consiste em cinco fases: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Entre esses processos, nenhum comportamento que o indivíduo que vivência o luto faça, mudará a perda, portanto o luto é um processo de adaptação.

A fase inicial do luto é a negação, muitas vezes considerada a mais complicada para quem vivencia, a pessoa pode emitir comportamentos como se o outro (pessoa que se relacionava) estivesse presente, como passar/lavar as roupas, esperar o filho chegar da escola, preparar a comida predileta da pessoa, sempre negando a perda (Oliveira, 2014).

A segunda fase é a raiva, nesse momento a pessoa busca culpar alguém pela perda, o sentimento de revolta e agressividade (física e/ou verbal) são normais nesse período. “Os sentimentos de indignação, revolta e raiva, são expressas muitas vezes em perguntas do tipo: Porque eu? Ou Porque para nós?” (Maia, 2005, p.14). Esse momento de sentir raiva está relacionado à impotência sobre a realidade.

Na barganha, que é a terceira fase do luto, o indivíduo que está vivendo o luto recorre à um “Deus”, à uma crença para mudar ou evitar a perda. Nesta fase, os pactos e promessas são constantes servindo de negociação para a mudança que ocorreu. Aspectos religiosos e culturais implicam a forma de como o luto será vivenciado, a crença, é utilizada como recurso para lidar com a perda ou com sua possibilidade. Um fato ilustrativo da barganha, relacionado à cultura religiosa, seria: recorrer às entidades divinas, utilizando a promessa como recurso de cura de um ente querido, quando a cura é alcançada, dá-se o nome de “milagre” ao fato. A barganha é uma fase importante e a mais utilizada nesse processo por aqueles que se mantém na fé.

A fase da depressão é quando o indivíduo se torna consciente de que nada do que fez mudou a perda, é geralmente um momento de contestação da fé, marcada pela tristeza, choro e ou desejo de ficar sozinho. De acordo com Maia (2005 p. 16) “o paciente pode ficar distante, quieto e vivenciar seu próprio processo de enlutamento e morte antecipada que costuma ser o momento mais solitário da pessoa”. O momento de tristeza pode ocorrer desde o recebimento da notícia e estar presente em todas as fases do luto, porém, é na fase da depressão que isso se torna mais evidente.

E a última fase, aceitação. Quando falamos em aceitar a perda, não significa que está tudo bem, mas é um período que a pessoa reconhece que seus feitos não surtiram efeito para alterar o evento que ocasionou o luto, assim, a aceitação facilita o enfrentamento desse momento difícil, permitindo o sujeito viver as experiências difíceis presentes nesta situação. Abrindo espaço para novos acontecimentos e emoções.

O modo que nós nos comportamos frente a essa nova realidade é único, cada pessoa teve uma história de vida diferente, assim, cada um vai lidar com o momento de forma singular e é preciso respeitar esse processo individual.

De acordo com Kovács (1992) o tempo do luto pode variar de pessoa para pessoa, e por vezes, o luto torna-se duradouro ou interminável. Essa questão da individualidade para elaboração da perda depende de como a pessoa sentiu e viveu as perdas durante sua história. O luto não é uma doença. Como já descrito, trata-se, de um processo e sua vivência é singular ao sujeito, cabe a nós o respeito ao enlutado, a adaptação à novas relações (Worden, 2013).

A primeira tarefa descrita pelo autor é aceitar a realidade da perda, entender que a pessoa se foi é um passo importante, emocionalmente, socialmente, em todos os aspectos do dia-a-dia.

A segunda tarefa é sentir a dor do luto. Segundo o autor esta tarefa é essencial para não prolongar o tempo desse processo. Portanto, é necessário resolver-se, permitir sentir a falta. Nesse momento há maior dificuldade para o enlutado, que evita sentir a perda. Na terceira tarefa é necessária a adaptação do ambiente onde havia uma relação com o objeto da perda.

Segundo Nascimento et al.(2015, p. 452) “é possível que os enlutados deixem de viver suas vidas por causa do falecido” e é necessário passar por essa etapa. Muitas pessoas podem falar que o esquecimento é uma boa alternativa, mas ninguém esquece a pessoa que amou. Então, o enfrentamento nesta fase do luto pode ser outra forma de olhar o fato (ocorrência da morte), dar um novo significado para a morte, e um novo sentido para a vida e encontrar novas formas para retomar suas atividades cotidianas, mesmo sendo uma tarefa mais difícil de ser realizada.

A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) é uma ferramenta clínica em que, demandas como o luto, podem ser trabalhadas. Um de seus pilares fundamentais é a aceitação. A aceitação é a atitude de não fugir, ou seja, de permanecer presente. Consiste em perceber de forma consciente as sensações e sentimentos desagradáveis, se permitir senti-los e deixar virem e irem naturalmente, sem esforço (Saban, 2015).

Este é apenas um dos pilares da ACT a serem trabalhados clinicamente, no qual o objetivo central é desenvolver um repertório clínico de flexibilidade psicológica, que consiste em permitir que o cliente esteja consciente sobre sua vida, que se permita viver sensações desagradáveis de uma forma menos aversiva. Estando sempre em contato com o momento presente e utilizando os pilares da ACT como ferramentas de auxílio nesse processo (Saban, 2015).

REFERÊNCIAS:

KOVÁCS, M. J. Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo. 1992.

KUBLER-ROSS, E. Sobre a morte e o morrer. 9ºed. Martins fontes. 2008.

MAIA, S. A. F. Câncer e morte: o impacto sobre o paciente e a família. Trabalho de conclusão de curso de especialização em psiconcologia. Hospital Erasmo Gaertner. Curitiba. 2005.

NASCIMENTO, et al. Luto: uma perspectiva da terapia analítico comportamental. PsicolArgum. 33(83) p. 446-458. out/dez. 2015.

OLIVEIRA, D. R. Terapia do luto: contribuições e reflexões sob a perspectiva da análise do comportamento. Monografia de conclusão de curso apresentada à Universidade de São Paulo (USP). São Paulo. 2014.

SABAN, Michaele T. O que é terapia de aceitação e compromisso?.Terapias Comportamentais de terceira geração: guia para profissionais. Novo Hamburgo: Sinopsys, 2015. p. 179-216

WORDEN, J. W. Aconselhamento do Luto e Terapia do Luto. 4ª ed. São Paulo: Roca. 2013.

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Escrito por Giovana Pagliari

Mãe de 4 cachorrinhas lindas, adora falar - ainda mais quando o assunto é: obesidade, memória, maternidade. Prioriza um olhar humano que seja integral, não dispensa uma boa conversa entre a fisiologia e a AC. Seus textos são rechados de ACT e por vezes, gosta de explorar temas que podem parecer simples, mas são fundamentais para compreensão dos processos clínicos.

Graduada em Psicologia. Pós-graduada em Fisiologia Translacional. Co-autora no capítulo "Comportamentos Suicidas". Formação em Terapia de Aceitação e Compromisso (Operantis). Realiza atendimento psicológico e avaliação psicológica para procedimentos cirúrgicos em Cambé-PR, também realiza psicoterapia on-line.
E-mail: giovanapagliari.gp@gmail.com
Instagram: @giovanapagliari

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