E Quando Me Faltam Palavras?

Por Carlos Eduardo Rodrigues e Fernanda Cerqueira 

É notório que inúmeras vezes e nas mais diversas situações nos deparamos com a dificuldade de expressar vocalmente os nossos sentimentos, seja quando não gostamos do rumo que uma conversa com um colega está tomando, ou quando nos “faltam palavras” para expressar as sensações que ocorrem em nosso corpo.

Alguns estímulos com os quais entramos em contato são acessíveis apenas para nós, o que Skinner (1974) chama de “sob a nossa pele” e, portanto, são eventos privados. Há uma distinção entre os estímulos que emergem em nosso universo privado, são eles: estímulos interoceptivos que originam-se principalmente nos sistemas digestivo, respiratório e circulatório, os estímulos proprioceptivos gerados pela posição e movimento do corpo e nociceptivo que são resultados de lesões nos tecidos proveniente de agressões físicas no organismo.

Dependendo da história de vida de cada sujeito e se suas expressões de sentimentos foram punidas por outras pessoas, pode haver dificuldade de relatar seus eventos privados, caracterizado também por uma sensação de bloqueio. Essa sensação de bloqueio pode ser sentida em uma situação interpessoal onde há a emergência de autodescrições de sentimentos importantes para a construção de intimidade, como no namoro, amizade, relações entre pais e filhos e outros contextos onde a dificuldade de encontrar palavras para expressar sentimentos pode frustrar profundamente o indivíduo em sua busca por vivências mais significativas. Não encontrar palavras para descrever os estados privados é um fenômeno muito observado pelos profissionais que atuam em psicologia clínica e pode ser também por conta de lacunas na aprendizagem social na infância.

Kohlenberg e Tsai (2001) afirmam que o processo de aprender a nomear de estados privados começa na infância, quando os pais ensinam seus filhos a dizerem o que estão sentindo através das respostas de contrapartidas públicas, que serão emitidas, às vezes concomitantemente com a demonstração e ou comunicação de sentimentos. A modelagem aqui é mais complexa do que ensinar a criança a nomear objetos públicos a sua volta, não obstante, lacunas de aprendizagem social são comuns nesse treino e as futuras relações de intimidade podem ser comprometidas pela a ausência de palavras para descrever o que se sente.

Além da lacuna durante a aprendizagem de estados privados na infância, outro fator é a punição. Pessoas que se sentiram punidas em relações de intimidade, tendem a evitá-las, como também podem evitar entrar em contato com os seus sentimentos que correspondem a essas interações marcantes em sua história de vida (Kohlenberge e Tsai 2001). Mas o que fazer quando nos encontramos sem saber como falar a respeito do que sentimos?

Uma das possibilidades de mudança é o desenvolvimento de comportamento assertivo. Segundo os autores Del Prette e Del Prette (1999), assertividade é a capacidade de demonstrar sentimentos negativos e positivos gerados por outra pessoaem defesa dos seus direitos. Portanto, a aquisição de repertório visando a expressão de sentimentos é importante tanto para o falante quanto para o ouvinte.

Outro passo muito importante a ser dado quando nos vimos inseridos nessa dificuldade é procurar meios para desenvolver autoconhecimento, pois assim poderemos aprender a descrever as variáveis do qual o nosso comportamento é função e a psicoterapia se mostra extremamente eficaz nessa empreitada relacionada a aprender palavras através da auto-observação mediada por um profissional. Como diria Skinner (1974, p.31): “Uma pessoa que se tornou consciente de si mesma por perguntas que lhe foram feitas está em melhor posição de prever e controlar seu próprio comportamento”.

Referências

Del Prette, Z. A. P. & Del Prette, A. (1999). Psicologia das Habilidades Sociais: Terapia e educação. Petrópolis: Vozes.

Kohlenberg, R.J, &Tsai, M. (2001). Psicoterapia Analítica Funcional: Criando relações terapêuticas intensas e curativas. Tradução organizada por R.R.

Skinner, B. F. (1974/2006). Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix

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Escrito por Fernanda Cerqueira

Psicóloga Clínica. Mestre em Análise e Evolução do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás). Especializada em Terapia Analítico Comportamental Clínica pela Unijorge. Psicóloga, formada pela União Metropolitana de Educação e Cultura (Unime) Salvador BA.
E-mail para contato:
nandacerqueira-@hotmail.com

VI Congresso Brasileiro de Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR) e Encontro de Terapeutas Comportamentais

Grupos avançados de habilidades ou grupo de graduandos da DBT