Desenvolvimento de Hábitos de Estudo

Uma das preocupações familiares quando se trata de crianças e adolescentes são os estudos. Quando citamos o comportamento de estudar nos referimos a uma classe de comportamentos, ou seja, uma pessoa que apresenta hábitos de estudo é aquela que emite diversos comportamentos que compõe a classe de comportamentos mais geral denominada “estudar” (Pergher, et al. 2012).

O comportamento de estudar requer uma análise ampla dos fatores determinantes para sua ocorrência, principalmente nos casos em que há dificuldades de aprendizagem. Segundo Pergher, et al. (2012) as dificuldades escolares possuem múltiplas causas e podem ser determinadas por limitações orgânicas, história de vida particular ou condições socioculturais que dificultam o desenvolvimento de hábitos de estudo.

O comportamento, seja ele público ou privado, deve ser entendido como relação entre indivíduo e ambiente, na troca que ocorre entre respostas emitidas pelo indivíduo e os eventos ambientais relacionados a eles. A depender dos eventos provocados no ambiente, as respostas terão probabilidade de ocorrência futura aumentada ou diminuída (Pessôa e Velasco, 2012). Contudo, as contingências ambientais serão determinantes para aumentar ou diminuir a ocorrência de comportamentos de estudo.

Com o objetivo de aumentar a frequência dos comportamentos de estudo dos filhos, os pais podem optar, segundo Hubner (2002) por condutas coercitivas (sistema aversivo), em relação aos desempenhos indesejados ou incentivadoras (reforçadoras) dos desempenhos escolares desejados. Para evitar as condutas coercitivas, que possuem efeitos colaterais indesejados, as condutas incentivadoras (sistema de reforçamento positivo) consistem em produzir consequências reforçadoras, aos comportamentos relacionados aos estudos. A autora relata que elogios sinceros, graduais, imediatos, relacionados a ações e não a traços de “personalidade”, esvanecidos e contextualizados podem aumentar a probabilidade do comportamento de estudar.

De acordo com Hubner (2002) o uso do sistema aversivo que consiste em consequências desagradáveis ou irritantes ao filho, reduz a probabilidade de ocorrência do comportamento de estudar:

Os efeitos são no mínimo alarmantes […]: supressão de respostas (o “branco” em provas, por exemplo); aparecimento de respostas emocionais de ansiedade e medo; respostas de fuga (desligar-se, desistir); respostas de esquiva (respostas de lentidão, adjuntivos, procrastinação, automatismos; auto-conhecimento deficiente (HUBNER, p. 143, 2002)

Em estudo realizado a partir do atendimento extraconsultório, Pergher, et al. (2012) estruturaram uma rotina com momentos distintos para auxiliar o desenvolvimento de hábitos de estudo: a) preparação do ambiente e material de estudo; b) revisão das prioridades do dia; c) momento de estudo; d) momento de lazer pós estudo. Ao estruturar uma rotina a consistência dos hábitos é importante, principalmente, quando nos referimos as consequências que os pais apresentaram aos comportamentos dos filhos. Hubner (2002) ressalta que uma incoerência constante entre o discurso e a ação pode gerar “comportamentos do contra” ao que é dito.

Contudo, o desenvolvimento de hábitos de estudo é importante para que o indivíduo amplie seu repertório de maneira a produzir consequências reforçadoras, como o reforço social dos pais e profissionais da instituição escolar, gerar sensação de sucesso, entendimento do conteúdo, compartilhamento de informações, além de “descontaminar” a situação de estudo que pode ter sido pareada com estimulação aversiva (Pergher, et al. 2012).

Referências:

Pessôa, C., V., B., B., Velasco, S., M. Comportamento Operante. In: Borges, N. B., Cassas, F. A. Clínica analítico- comportamental: aspectos teóricos e práticos. Porto Alegre: Artmed, 2012. Cap. 2, p. 24-32.

Pergher, N. K., Colombini, F., Chamati, A. B. D., Figueiredo, S. A., Camargo, M. I. P. C. Desenvolvimento de hábitos de estudo. In: Borges, N. B., Cassas, F. A. Clínica analítico- comportamental: aspectos teóricos e práticos. Porto Alegre: Artmed, 2012. Cap. 31, p. 277-286.

Hubner, M. M. C. (2002). A importância da participação dos pais no desempenho escolar dos filhos: ajudando sem atrapalhar. In: Brandão, Conte & Mezzaroba (Org.). Comportamento Humano: Tudo (ou quase tudo) que você gostaria de saber para viver melhor. 1 ed. Santo André: ESETec Editores Associados.

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Escrito por Débora Louyse

Psicóloga com experiência em acompanhamento terapêutico de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo em ambiente escolar e domiciliar, atendimentos psicológicos direcionados a dificuldades de aprendizagem de crianças e adolescentes com desenvolvimento típico; Experiência em aplicação do método ABA (Análise do Comportamento Aplicada) para intervenções multidisciplinares em crianças e adolescentes e realiza atendimentos psicológicos clínicos de adultos e idosos a partir da abordagem Analítico-Comportamental.
E-mail: deboralouyse@hotmail.com

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