Estou com dúvidas sobre Análise do Comportamento, e agora?

“A dúvida é o princípio da sabedoria – Aristóteles”

Duvidar segundo Aristóteles, pode ser a possibilidade de busca por maior conhecimento, trazendo a oportunidade de explorar campos desconhecidos até então.

O intuito é elucidar que, não há problema algum no fato de surgirem dúvidas, sobre qualquer coisa. O que importa é: o que se faz a partir das dúvidas. Para o conhecimento científico, a melhor forma de sanar dúvidas e adquirir um conhecimento aprofundado sobre o assunto é a busca por livros, artigos, cursos que possam proporcionar segurança e confiança sobre o tema.

Durante a graduação podem surgir algumas dúvidas inicias sobre a Análise do Comportamento e a forma como sua filosofia é fundamentada.

1 – A Análise do Comportamento só fala de comportamentos? Ela não trata sobre questões mais profundas?

Os comportamentos podem ser percebidos como toda ação, verbo, presente em um contexto. Ou seja, nenhum comportamento é interpretado em isolado, analisa-se sua função – seu ambiente, o comportamento e as consequências do mesmo. Em um texto anterior eu já usei esta analogia, creio que ela seja interessante para entendermos esta resposta – o sentir é um verbo, precisamos de um sujeito para executar esta ação (de sentir). Por si só, esta frase tem o objetivo de elucidar que não é apenas o que fazemos fora do nosso corpo que são considerados comportamentos. Comportar-se engloba o sentir, o pensar, o falar, o sonhar, o calar. Não há um só verbo que não seja comportamento.

O sentir é fruto das contingências. A partir do aprendizado favorecido pela comunidade verbal conseguimos descrever contingências reforçadoras (que produzirão sentimentos como: amor, alegria, satisfação) ou contingências aversivas (que produzirão sentimentos como: raiva, tristeza, ódio). (Guilhardi, 2002)

Desta forma, os comportamentos não surgem em isolado. Sempre que algum comportamento surgir, haverá um contexto para ser analisado em conjunto. As análises vão se desdobrar, e os conceitos vão se ampliando durante a análise, não se restringindo a alguma classificação ou definição baseada apenas na reposta comportamental. Por exemplo: não há como fazer a análise do comportamento de sorrir em isolado, para compreensão de sua funcionalidade há que se observar os antecedentes e as consequências deste comportamento.

O objetivo é a percepção de que não há uma classificação de comportamentos por si só, analisados fora de contexto. Poderiam surgir diversos estímulos para o sorriso, não se restringido a uma única possibilidade, a análise é possível quando há acesso a contingência. A análise não se restringe a topografia, mas a função comportamental.

2 – Como é a “classificação” das abordagens?

Não há uma classificação geral de “boas e más” abordagens dentro da Psicologia. O que acontece de forma prática é que o cliente, ao buscar a psicoterapia, sinta-se mais à vontade com um tipo de abordagem clínica ou com um psicólogo em específico.

Há pesquisas dentro das mais diversas abordagens afirmando sua eficácia para dada demanda. Contudo, não há uma classificação para as abordagens, a que é mais ou menos coerente. Existem diversos olhares dentro da psicologia para o ser humano, o psicólogo escolherá a visão em que mais se identifica. Isso não torna as outras menos competentes e eficazes.

As abordagens vigentes tem em comum objetivo, a melhoria da qualidade de vida, e respondem ao mesmo Código de Ética. A atuação restrita as mesmas regras proporcionam segurança a população sobre o serviço a ser prestado, já que há uma legislação para toda atuação da Psicologia. Além disso, o Conselho Federal dispõe que o exercício da psicologia só pode ser feito sobre praticas regulamentadas, destacando à população que qualquer abordagem não reconhecida pela ciência não está habilitada a atuação no campo da Psicologia. (Resolução CFP Nº 10/2005)

Aqui também cabe a importância de recordar que o estudo das psicopatologias também não se restringe a uma abordagem em questão, todos os psicólogos em formação, têm esta matéria em sua grade curricular por conta do Núcleo Comum de disciplinas exigidas pelo MEC (2001) às instituições de ensino superior. Ou seja, a escolha da abordagem não está ligada diretamente ao conhecimento das patologias com que a psicologia trabalha.

3 – O analista do comportamento só entende de reforço e punição?

Não, o reforço e a punição são conceitos básicos de análise. Sendo básico, pode-se inferir que existem outros termos para as análises clínicas e laboratoriais. Há conceitos relacionados ao reforço e a punição, mas nossa análise não se restringe a eles. Os comportamentos são considerados em sua funcionalidade como um todo e a partir disso surgem outros termos de análise.

E, dentro disso também se faz importante ressaltar que reforço não pode ser definido por dar presentes e elogios. Reforço é um tipo de consequência que aumenta a probabilidade de o comportamento voltar a ocorrer. (MOREIRA & MEDEIROS, 2007, p.51)

4 – O significado dos comportamentos são analisados?

Sim, tanto a função do comportamento quanto o que esse comportamento significa para o cliente são análises relevantes na clínica. A partir do relato feito pelo cliente é possível perceber a função comportamental, ou seja, o que tem mantido este comportamento e quais sentimentos e sensações estão presentes neste contexto. Então, quando realizada a análise é possível perceber as motivações de tal comportamento e quais significados eles teriam para a vida desta pessoa em particular.

Através disso possibilita-se o autoconhecimento, propiciando perceber com maior clareza o ambiente a sua volta, seus comportamentos e a função deles.

 

Considera-se que a leitura é de extrema importância para o entendimento sólido da ciência que é a Análise do Comportamento.

Sugestões: algumas questões sobre essa filosofia do Behaviorismo Radical são respondidos no livro: Sobre o Behaviorismo – B.F. Skinner

REFERÊNCIAS

GUILHARDI, Hélio J. Autoestima, autoconfiança e responsabilidade. Comportamento Humano –Tudo (ou quase tudo) que voce precisa saber para viver. 2002. Santo Andre (SP): ESETec Editores Associados. Disponível em <https://tommyreforcopositivo.files.wordpress.com/2015/08/brandc3a3o-m-z-s-conte-f-c-s-mezzaroba-s-m-b-2002-comportamento-humano-tudo-ou-quase-tudo-o-que-vocc3aa-precisa-saber-para-viver-melhor.pdf>Acesso em: 28 out. 2017.

MOREIRA, Márcio B. MEDEIROS, Carlos A. (2007). Princípios Básicos e Análise do Comportamento. – Porto Alegre: Artmed.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. (2001). Diretrizes Curriculares para o curso de graduação em Psicologia. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES1314.pdf> Acesso em: 20 set. 2017.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução CFP 10/2005. Disponível em: <http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2005/07/resolucao2005_10.pdf> Acesso em: 28 out. 2017.

SKINNER, B.F. (2006). Sobre o Behaviorismo. 10ª Ed. São Paulo: Cultrix.

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Escrito por Giovana Pagliari

Mãe de 4 cachorrinhas lindas, adora falar - ainda mais quando o assunto é: obesidade, memória, maternidade. Prioriza um olhar humano que seja integral, não dispensa uma boa conversa entre a fisiologia e a AC. Seus textos são rechados de ACT e por vezes, gosta de explorar temas que podem parecer simples, mas são fundamentais para compreensão dos processos clínicos.

Graduada em Psicologia. Pós-graduada em Fisiologia Translacional. Co-autora no capítulo "Comportamentos Suicidas". Formação em Terapia de Aceitação e Compromisso (Operantis). Realiza atendimento psicológico e avaliação psicológica para procedimentos cirúrgicos em Cambé-PR, também realiza psicoterapia on-line.
E-mail: giovanapagliari.gp@gmail.com
Instagram: @giovanapagliari

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