Entrevista com Lincoln Poubel: Treinamento de Habilidades Psicológicas

Recentemente os professores Lincoln Poubel e Pedro Rodrigues lançaram o Treinamento de Habilidades Psicológicas, um modelo terapêutico e de treinamento embasado nas Terapias Comportamentais e Cognitivo-Comportamentais. A proposta chamou a atenção dos analistas do comportamento que, através de comentários e mensagens, enviaram dúvidas sobre o THP à nossa fanpage e a nosso site. A partir do material recebido, elaboramos uma entrevista sobre o assunto que você confere logo abaixo! Caso você, leitor, tenha outras perguntas sobre o método, compartilhe-as nos comentários.

C: Para começar, o que acham de se apresentarem? Quem são Lincoln Poubel e Pedro Rodrigues?

L: Somos psicólogos, professores universitários, sócios no Instituto Cognitivo e Comportamental de Psicologia (ICCP, em Niterói e Região dos Lagos – RJ), que é credenciado pelo CRP-RJ para Capacitação de Psicólogos e que se tornou referência, há quase 10 anos, no Estado do Rio de Janeiro em atendimento psicoterápico e Formação de Terapeutas nas modalidades da Análise Comportamental Clínica e Terapia Cognitivo-Comportamental.

Estamos há, aproximadamente, 10 anos divulgando a Análise do Comportamento no Estado do Rio de Janeiro, uma praça historicamente carente de capacitações e profissionais em Psicologia Cientificamente Orientada. Fundamos o Núcleo de Análise do Comportamento do Rio de Janeiro (NAC-Rio), um departamento de pesquisas do ICCP, para desenvolver e divulgar a Análise do Comportamento e Aplicações.

Lincoln Poubel adentrou a área comportamental via Formação com as Professoras Doutoras Eliane Falcone (UERJ) e Helene Shinohara (PUC-RJ) há 18 anos, no último ano de sua graduação. Lá conheceu a Análise do Comportamento e aprofundou seus estudos ao longo desses anos, desde o Mestrado em Psicologia, pesquisas realizadas pelas Universidades onde trabalha e independentes no seu Instituto.

Conhecendo os parâmetros para uma ciência psicológica, logo lhe ficou claro que a Terapia Cognitiva (que por seu limitado potencial de mudança integrou as intervenções comportamentais) se valia de uma teoria epistemologicamente falha, mas que era bastante avançada em estratégias de questionamento e reflexões revisoras de regras. Além disso, mesmo não orientados analítico-comportamentalmente, os cognitivo-comportamentalistas cunharam uma diversidade de técnicas efetivamente comportamentais.

“mesmo não orientados analítico-comportamentalmente, os cognitivo-comportamentalistas cunharam uma diversidade de técnicas efetivamente comportamentais”

 

Acompanhando as críticas e rivalidades de ambos os lados, ficou claro que os mentalismos da Teoria Cognitiva havia afastado os Analistas dos Comportamentos, mas que a Tecnologia Cognitivo-Comportamental poderia ser facilmente integrável, com a releitura científica necessária. Assim também deveria acontecer com as demais abordagens psicológicas que evoluíram em intervenções, sem parâmetros explicativos consistentes. Juntamente com o Pedro, formado no ICCP, Mestre em Psicologia e também professor universitário, realizam eventos no Rio de Janeiro, uma praça historicamente carente de AC’s, difundindo-a entre os TCC’s de forma integrável para abolir aversões condicionadas, trazendo-lhes o que lhes falta para aprimorarem suas atuações e darem consistência às suas explicações.

C:  O que é o Treinamento de Habilidades Psicológicas (THP)?

Terapia/Treinamento de Habilidades Psicológicas (THP) é uma sistematização, sob orientação analítico-comportamental, de diversas técnicas e intervenções clínicas – já existentes e outras adaptadas e exclusivas – em função do desenvolvimento de repertórios saudáveis que favorecem a reabilitação de transtornos psicológicos ou para desenvolvimento pessoal.

C: Qual é o modelo nuclear da THP?

L: A THP apresenta uma equação psicológica formada por 10 habilidades psicológicas (HP’s) (autoconhecimento, autorregulação emocional, raciocínio realisticamente otimista, autoestima, resolutividade e enfrentamento, autocontrole, sociabilidade, imunidade social, sensibilidade social e hedonismo responsável) que distribuídas pelas 6 dimensões significativas da vida (pessoal, interpessoal, ocupacional, recreativa, material e existencial) se dividem na produção dos 5P’s da felicidade (positividade, paz, prazer, pertencimento e propósitos).

C:  Por que se trata de uma proposta terapêutica e de treinamento?

L: O objetivo terapêutico do Sistema THP é proporcionar um conjunto de 10 Atitudes e Características Comportamentais (HP’s) que configuram a Saúde Psicológica das Pessoas e que, portanto, desenvolvidas com pacientes cujas regras distorcidas, déficit e excessos caracterizam sua psicopatologia ou transtorno, as substituem, servindo a um avançado processo de mudança e reabilitação clínica.

Mas para aqueles que não alcançaram critérios de enquadramento em uma categoria diagnóstica, mas que experimentam diferentes tipos e graus de insatisfação existencial, esse programa propõe devolver aos Psicólogos a área de Desenvolvimento Pessoal apropriada pelos coaches, que nem possuem nossa longa e consistente formação. Assim, apresentamos também as 6 Dimensões Significativas da Vida e seus sub critérios, para identificar que déficits em HP’s tornam frustrante alguma (ou mais) dessas áreas na vida do cliente e proporcionar-lhe um consistente e eficaz “processo de coaching” personalizado para sua realidade.

C: Na apresentação do THP vocês dizem ter reunido conhecimento da Análise do Comportamento e da Terapia Cognitivo-Comportamental. Sendo as duas abordagens diferentes e independentes, isso não é problemático?

LDe forma geral, a Análise do Comportamento evoluiu muito em leis e princípios comportamentais, trazendo cientificidade para os fenômenos comportamentais. Como também, atualmente, temos terapêuticas de base analítico-comportamental muito eficazes. Enquanto que outras terapêuticas psicológicas se concentraram diretamente em desenvolver tecnologias para a mudança de comportamento. A Terapia Cognitiva, nesse caso, explica de forma mentalista as mudanças produzidas por suas técnicas, mas entendemos que o que ocorre são modificações no controle por regras. Porém, ainda assim, permaneceu uma lacuna em relação aos repertórios que o terapeuta precisava desenvolver com os seus clientes.

Então, o Programa THP não é uma nova abordagem e sim uma proposta de sistematizar critérios dentro de um movimento integrativo que engloba as leis do comportamento na explicação dos fenômenos comportamentais e do processo de desenvolvimento das Habilidades Psicológicas (HP’s), com a tecnologia que produz as mudanças clínicas (resgatando a base analítico-comportamental e revisando sob esses parâmetros) a cargo desses repertórios (HP’s), que tem por objetivo a saúde psicológica.

C: Na apresentação do Treinamento de Habilidades Psicológicas vocês dizem ter identificado uma lacuna na formação dos psicólogos no que diz respeito aos repertórios que precisavam desenvolver em seus clientes. Qual é esta lacuna?

L: Nesta perspectiva, considerando que uma pessoa só pode se comportar de acordo com o que sua história de aprendizagem proporcionou, o terapeuta é o profissional que vai “programar” ou “engenheirar” experiências de aprendizagem intra e extraconsultório para os repertórios não-aprendidos, de acordo com as demandas do cliente.

Atualmente, muitas técnicas terapêuticas são conhecidas e praticadas por sua eficácia e resultados. No entanto, um psicoterapeuta pode se fazer duas perguntas: 1- No caso clínico que atendo, quais são os repertórios que preciso colaborativamente desenvolver no meu cliente? 2- Afinal, quando aplico uma técnica ou conduzo um processo com ele, que repertório estou desenvolvendo? A THP tem o objetivo de sistematizar uma resposta a essas questões. Esses repertórios psicologicamente saudáveis são chamados de “Habilidades Psicológicas”.

Deve estar claro para os psicólogos e principalmente para a população, o que será claramente desenvolvido ao contratar os serviços desse profissional. O que estarão conosco desenvolvendo e como isso irá ser proporcionado para maior acessibilidade, “consumo” e engajamento nos processos que oferecemos. Esse é o propósito de uma proposta por parâmetros como é a THP.

C:. Como o THP foi construído?

L: Eu, Lincoln Poubel, ao longo da carreira clínica, quanto mais estudava para dar aulas nas Universidades em que trabalho e para ampliar meus recursos técnicos, percebi que eles de nada adiantariam se eu não soubesse exatamente o que desenvolver com aqueles clientes. Percebi que não bastava conhecer a tecnologia para tratar os transtornos e comecei a pensar: “Se esse cliente, nessas situações em que ele reage problematicamente ou foge/esquiva ou desampara, tivesse aprendido em sua vida outras atitudes que o ajudassem a lidar com elas, quais seriam?”. Nesse momento, tudo começou a fazer sentido para mim, eu precisava dominar todas as intervenções, mas colocá-las a favor de desenvolver características comportamentais saudáveis. E quais seriam elas? Daí para frente, meu trabalho passou a ser fazer uma “Ciência do Repertório Comportamental Saudável”. Em todos os livros que lia, categorizava as mentalidades e atuações mais eficazes para as diferentes situações de vida dos meus clientes e utilizava os recursos já conhecidos para desenvolvê-las. Desde então, temos elaborado, refinado e sistematizado intervenções de diversas áreas (terapias cognitivas, comportamentais, coaching etc.) no NAC-Rio. E não há porque sermos reacionários com essa inovação, as diferentes terapêuticas (FAP, ACT, DBT) foram assim construídas até serem apresentadas, reiteradamente aplicadas e testadas por diferentes profissionais para diversos públicos. A THP é mais um degrau dessa evolução.

C:  De que forma deve ser aplicado na clínica?

L: Todas as Habilidades Psicológicas serão desenvolvidas em Etapas do Processo de Mudança compostas por: 1- Autoconhecimento imediato e histórico contextual-funcional; 2- Psicoeducaçao; Estabelecimento da Motivação e Responsabilidade; 3- Reestruturação de Distorções e Mentoriação; 4- Atividades de Imersão nas HP’s; 5- Hierarquização Contextual Personalizada e Treinamento Dramatizado; 6- Exposição e Experienciação Imaginária e ao Vivo; 7- Feedback e Avaliação. Tudo acompanhado pelos critérios de um relacionamento interpessoal ético e de qualidade, que seja em si terapêutico e com os feedbacks sobre os comportamentos clinicamente relevantes da Psicoterapia Analítico-Funcional.

A decisão sobre por qual HP iniciar primeiro, ou conjunto delas em paralelo, dependerá das demandas de cada cliente ou área da vida mais comprometida e que precisará ser primeiramente impactada.

C: Que benefícios os participantes do curso sobre o THP poderão experimentar ao utilizarem as estratégias ensinadas?

L: Aqueles que aprenderem todas as estratégias de cada Etapa do Processo de Mudança e Desenvolvimento das HP’s experimentarão: uma aceleração na progressão dos seus clientes, maior segurança sobre o que irá trabalhar com ele, transmitindo-a ao cliente e reunirão em um único curso os mais importantes recursos das terapias baseadas em evidências. Tudo com as consistentes análises comportamentais necessárias a compreensão das HP’s e das intervenções.

5 2 votes
Article Rating
Avatar photo

Escrito por Portal Comporte-se

O Comporte-se: Psicologia e Análise do Comportamento foi criado em 2008 e é hoje o principal portal de Análise do Comportamento do Brasil. Nele você encontra artigos discutindo temas diversos à partir do referencial teórico da abordagem; dicas de filmes, livros, periódicos e outros materiais; entrevistas exclusivas; divulgação de cursos, promoções, eventos e muito mais.

A missão do profissional de ABA com as famílias de indivíduos com autismo

Confira o episódio 46 do ACearácast: Personalidade