COMO AUMENTAR A PROBABILIDADE DA OBEDIÊNCIA E RESPOSTAS NOVAS

Quem nunca se queixou de um aluno(a) desobediente? Aquele que geralmente não segue as regras e muito menos cumpre com um pedido ou demanda em sala de aula?

Acredito que esse assunto possa ser de grande interesse para pais e, principalmente, para os profissionais que lidam com alunos que não cumprem com regras e demandas, que tentam escapar das atividades mais difíceis ou, simplesmente, não estão motivados o suficiente para cumprir com uma tarefa mais elaborada.

Afinal, qual é o prejuízo do aluno não cumprir com demandas acadêmicas?

A idéia de abordar esse assunto na minha estreia como colunista do blog se iniciou com uma mera busca de dados no meu laptop que, acidentalmente, me direcionou à minha tese de mestrado, defendida em 2012. Embora eu tenha utilizado essa estratégia de controle antecedente para induzir a imitação de movimentos de coordenação oro-faciais em crianças diagnosticadas com TEA (Transtorno do Espectro Autista), a mesma pode ser aplicada como uma estratégia (de controle antecedente) para aumentar a probabilidade de emissão de diferentes respostas, em vários contextos .

O artigo de hoje focará numa estratégia comportamental chamada Seqüência de demandas de alta probabilidade ou “behavior momentum”. Essa técnica é muito prática e pode ser utilizada em salas de aula para INDUZIR respostas e maximizar o desempenho acadêmico dos alunos. O aluno que não segue as normas e/ou demandas acadêmicas em uma sala de aula, provavelmente terá um prejuízo cognitivo e acadêmico no futuro. Portanto, essa estratégia é um ótimo método para ser aplicado nesse ambiente.

Momentum comportamental é uma estratégia para aumentar a probabilidade de ocorrência de uma resposta (comportamento) que tenha baixa probabilidade de ocorrência. Ou seja, é uma estratégia que aumenta a frequência de uma resposta que não ocorre frequentemente.

Essa técnica consiste na apresentação de três (3) a cinco (5) demandas de atividades (em sequência) em que o indivíduo tenha alta probabilidade de cumprir (atividades fáceis), para depois apresentar a demanda da atividade alvo (atividade de baixa probabilidade). A atividade alvo é a atividade que você deseja induzir. Essa atividade é considerada de baixa probabilidade porque não ocorre frequentemente e, por isso, ela se torna a atividade alvo.

Por exemplo, se um dos meus alunos não gosta ou se recusa a fazer operações de multiplicação, esta tarefa poderia ser considerada uma resposta de baixa probabilidade (baixa-p), pois o aluno não gosta de fazer, nunca quer fazer, ou não está motivado o suficiente. Porém, se esse mesmo aluno nunca me deu trabalho para tirar o material da mochila, escrever a data e nome na folha de exercícios, escrever números, e copiar as operações de multiplicação da lousa, tais comportamentos se classificariam como comportamentos de alta probabilidade (alta-p). Ao final, a multiplicação (tarefa de baixa-p) seria apresentada, mas com uma maior probabilidade de ser resolvida pelo aluno. No Quadro 1, pode ser visualizado um esquema do exemplo apresentado.

Quadro 1. Exemplo de atividades de alta-p e de baixa-p envolvendo a multiplicação.

Atividades de alta probabilidade (alta-p)          (fáceis de cumprir) Atividade de baixa probabilidade (baixa-p) (difícil de cumprir)
Retirar o material da mochila Fazer operações de multiplicação
Escrever data e nome na folha de exercício
Escrever os números
Copiar as operações de multiplicação da lousa

 

Mace et al. (1988) foram os primeiros autores a publicarem um estudo com essa técnica. Segundo os seus estudos e experimentos, após o estudante seguir uma série de demandas de alta probabilidade, estabelece-se o “momento” no qual a resposta de baixa probabilidade tem chances aumentadas de ser emitida.

Mace et al. (1988), sugerem que esse fenômeno pode ser explicado a partir do conceito de operação abolidora. O momentum comportamental pode, assim, ser entendido como uma operação que diminui a valor reforçador da resposta de esquiva da atividade. Depois de cada demanda de probabilidade alta, sempre há elogios, e por isso, o valor de não cumprir com a demanda da atividade alvo diminui. Em outras palavras, Segundo Mace et al. (1988) cumprimos, fazemos, ou completamos uma atividade de baixa probabilidade porque já nos “aquecemos” com as atividades fáceis (alta-p), e como agora já estamos no “embalo”, cumprimos com a atividade de baixa probabilidade (baixa-p).

No Quadro 2, descreve-se os passos para aplicação da técnica de momentum comportamental.

Quadro 2. Guia para usar o procedimento corretamente.

Passo # 1

 

Selecionar os comportamentos de probabilidade alta

–       Esses comportamentos têm que existir no repertório atual do cliente, serem frequentes e de curta duração.

–       Fazer uma lista das atividades que são cumpridas 100% das vezes que foram demandadas.

Passo # 2 Apresentar as demandas rapidamente

–       As demandas devem ser apresentadas rapidamente uma atrás da outra, com um intervalo curto entre elas.

–       Devem ser apresentadas de 3 a 5 demandas de atividades de probabilidade alta.

–       Depois de cada demanda de probabilidade alta, disponibiliza-se um elogio.

Passo #3 Demanda alvo (baixa probabilidade)

– Apresentar a demanda da atividade de baixa probabilidade.

Passo # 4 Reforçar imediatamente se o paciente (aluno) cumprir com a demanda alvo.

 

Cumprir com demandas em sala de aula promove oportunidades de desenvolvimento de muitos comportamentos. Essa estratégia é um procedimento não aversivo para melhorar a obediência. Esse procedimento, indiretamente, manipula a frequência de reforço para estabelecer o que chamamos de “momento”.

Estudos mostram que essa intervenção é efetiva em mudar o comportamento das pessoas, como adquirir ecóicos e mandos, aumentar a frequência de cumprimento de atividades e diminuir a frequência de autolesões.

Quadro 3. Apresenta-se um resumo de experimentos que utilizaram a estratégia Momentum comportamental  (sequência de demandas de alta probabilidade) em vários contextos.

Atividade Alvo Motivo do estudo Participantes Autores
Imitação oral motora Pré-requisito para fala Crianças diagnosticadas com TEA Thomas, Lafasakis e Sturney (2010)
Desobediência (não cumprir com demandas) Diminuir desobediência e comportamento agressivo Adulto de 36 anos com deficiência mental Mace et al (1988)
Autolesão Diminuir ou eliminar a autolesão Adulto de 33 anos com deficiência mental Zarcone, Iwata, Hughes e Vollmer (1993)
Atividades acadêmicas Cumprir com demandas acadêmicas (tarefa de matemática) Aluno do Ensino Fundamental Wehby e Hollaham (2000)
Imitação motora Emissão de ecoicos e mandos Crianças com TEA não verbais Tsiouri e Greer (2003)

 

Essa estratégia pode ser aplicada em vários contextos, e geralmente, as atividades, tarefas ou ações escolhidas como “atividades de alta-probabilidade” são relacionadas a atividade alvo. Por exemplo, na minha tese de mestrado, a atividade alvo era induzir imitação de movimentos de coordenação oro-facial motora em crianças diagnosticadas com TEA não verbais. As atividades de alta probabilidade envolviam a imitação de movimentos de coordenação motora (grossas) ampla, que os participantes do estudo já tinham desenvolvido em seu repertório, após o comando “Faça isso”. Os movimentos apresentados eram: bater palmas, colocar os braços para cima, tocar na barriga e tocar nas pernas. A atividade de baixa probabilidade (atividade alvo) eram respostas de imitação de movimentos oro-faciais que os participantes não emitiam, tais como: abrir a boca, abrir e fechar a boca e colocar a língua para fora. Segundo pesquisadores, alguns dos pré-requisitos da fala envolvem os movimentos ora-faciais, por isso, é muito importante que crianças não verbais sejam induzidas a imitar uma série de movimentos como as atividades alvo que eu escolhi para minha tese.

Quando escolherem a atividade alvo, tentem selecionar as atividades de alta probabilidade que são de alguma forma relacionas com a atividade alvo. Boa sorte ao aplicar essa estratégia e aumentar a probabilidade da obediência e induzir respostas novas!

Referências Bibliográficas:

Cooper, O., John, Heron, E. Timothy., Heward, L., William (2007). Applied Behavior Analysis(2nd edition). Pearson Prentice Hall  New Jersey, USA.

Mace, C. F., Hock, M. L., Lalli, J. S., West, B. J., Belfiore, P., Pinter, E., et al. (1988). Behavioral momentum in the treatment of noncompliance. Jornal of Applied Behavior Analysis, 21, 123-141.

Thomas, B. R., Lafasakis, M., & Sturmey, P. (2010). The effects of prompting, fading, and differential reinforcement on vocal mands in non-verbal preschool children with autism spectrum disorders. Behavioral Interventions, 25, 157-168.

Tsiouri, I., & Greer, D. R. (2003). Inducing vocal verbal behavior in children with severe language delays through rapid motor imitation responding. Jornal of Behavioral Education, 12, 185-206.

Wehby, J. H., & Hollahan, S. M. (2000). Effects of high probability latency to initiate academic tasks. Journal of Applied Behavior Analysis, 33, 259-262.

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Escrito por Monalisa Ribeiro

Graduada em Psicologia, Mestre em Análise de Comportamento pela City University of New York (USA), e Certificada pelo Conselho do Analista do Comportamento (Board Certified Behavior Analyst) – BACB. Após sua graduação, Monalisa atuou como Terapeuta do Comportamento nos Estados Unidos, Arabia Saudita e Líbano. Atualmente vive e trabalha na Espanha. Sua especialidade é interveção precoce com crianças diagnosticadas com TEA e outros tipos de deficiências.

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