A vivência das habilidades sociais na conjugalidade… O exercício da empatia e do ceder

Nas interações cotidianas, de forma particular nos relacionamentos conjugais e familiares, os indivíduos se deparam com o desafio de equilibrar seus próprios direitos e deveres com os demais.

Nos relacionamentos amorosos os exemplos são os mais variados, indo desde a forma que dividirão as contas, se vão ou não ter filhos e animais de estimação, que programas farão aos finais de semana e assim por diante…

Mais do que uma fórmula pronta e mágica, o maior desafio é de um olhar individualizado para a dinâmica que se apresenta, afim de perceber quais são os ajustes necessários. Algumas perguntas são importantes e podem ajudar a esclarecer tais pontos: ambos colocam a sua opinião? As decisões são tomadas em conjunto? O exercício de ceder é feito de forma bilateral? Os cônjuges param para se colocar efetivamente no lugar do outro e entender seu ponto de vista e suas necessidades?

Diante de respostas negativas a essas perguntas, o passo seguinte se refere a aperfeiçoar diferentes habilidades sociais. Tais habilidades, como o nome já sugere, são aprendidas, expressas e refinadas através do contato social contínuo. Pode soar meio clichê dizer que uma convivência harmoniosa requer importantes habilidades (como dizer não, fazer pedido, iniciar e manter conversa, expressar afeto e opiniões pessoais, etc.) mas, se olharmos para as respostas no contexto conjugal com um olhar atento e cuidadoso, podemos perceber muitas vezes a imprecisão ou mesmo falta de tais habilidades comunicativas. Tal déficit de repertório comportamental tem uma implicação importante, pois pode ser por muitas vezes o cenário de onde emergem conflitos e crises conjugais.

empatia

 

A Psicologia Comportamental nos aponta a importância de observarmos os nossos comportamentos e as consequências que se derivam deles como parâmetro para entender melhor as nossas dificuldades. Ou seja, se um dos cônjuges busca nutrir o relacionamento pela demonstração de afeto, abertura ao diálogo e empatia, mas não percebe o movimento do seu parceiro nessa direção ou mesmo o não reconhecimento de suas ações, abrimos a possibilidade para uma queixa ou atrito conjugal. Obviamente esse cenário não é uma regra e as relações não são interações lineares, mas a ideia principal é que na conjugalidade seja possível uma comunicação aberta de pensamentos, sentimentos, ideias e necessidades.

Outro ponto importante se refere a busca do equilíbrio entre mudança e aceitação do outro e de suas diferenças. Isto significaria que diante de um impasse ou mesmo de um conflito, o cerne da questão não se concentraria apenas em buscar um “lado certo” e consequente resolução do conflito de forma pontual. Torna-se essencial olhar o parceiro de forma mais ampla, entendendo suas dificuldades e limitações e sem o enfoque apenas nos “defeitos”. Portanto, a busca está na construção de uma interação com reforços mais frequentes e menor índice de coerção.

 

Referências Bibliográficas

  • Christensen, A., Wheeler, J.G. & Jacobson, N. S. (2009). Problemas do casal. Em D. H. Barlow (Org), Manual Clínico dos transtornos psicológicos (pp. 662-688). 4º Ed. Porto Alegre: Artmed.
  • Delitti, M. & Derdyk, P. (2012). O trabalho da análise do comportamento com grupos: possibilidades de aplicação a casais e famílias em N.B. Borges, F.A. Cassas e cols, Clínica analítico-comportamental aspectos teóricos e práticos (pp.259-269). Porto Alegre: Artmed
  • Neufeld, C.B. & de Carvalho, A.V. (2014). Treino de Habilidades Sociais (pp.153-185). Novo Hamburgo: Sinopsys
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Escrito por Mariana Poubel

Graduada em Psicologia pela UFRJ (2012) e mestre em Saúde Mental pelo IPUB/UFRJ (2015). Fez curso de formação em Terapia Cognitivo Comportamental para adultos e infanto juvenil, curso de capacitação em análise do comportamento e formação em terapias contextuais.
Atua como terapeuta, supervisora e mentora.

Email para contato: marianapoubel@gmail.com

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