Técnicas da Terapia Comportamental para o Tratamento da Obesidade.

Nesse artigo iremos falar um pouco sobre algumas técnicas utilizadas por terapeutas comportamentais para o tratamento da obesidade. Para tanto é necessário falar como se dá o diagnóstico dela. Segundo Saito (1987) a obesidade poder ser definida como o aumento do tecido adiposo pelo excesso de gorduras.
De acordo com Dâmaso e Bernardes (2003) existem diversos métodos antropométricos de avaliação da composição corporal, um dos mais difundidos é a verificação do Índice de Massa Corporal (IMC). Os valores normativos são organizados em cinco classes, as classes são definidas pelos seguintes valores do IMC: baixo (abaixo de 19); normal (de 19 a 23,9); obesidade leve (de 24 a 28,9); obesidade moderada (de 29 a 38,8); obesidade grave ou mórbida (acima de 39)

Cotran, Kumar e Collins (2000)

Segundo Tavares et al. (2010), a obesidade tem causas multifatoriais e resulta de interação de diversos fatores:

•Genéticos;
•Metabólicos;
•Sociais;
•Comportamentais;
•Culturais;
•Abuso da ingestão calórica;
•Sedentarismo.

Como consequências psicossociais da obesidade podemos destacar a forma como as pessoas em geral veem o obeso. Segundo Collins & Bentz (2009), a sociedade vê a obesidade de forma muito negativa, como pessoas sem força de vontade e desmotivadas. Isso pode acarretar problemas psicológicos e dificuldades variadas nas relações sociais.

Como sabemos a Análise do Comportamento é uma abordagem da Psicologia que entende o homem a partir de sua interação com o seu ambiente. Ambiente este que compreende o meio físico, social e cultural, no intuito de prever a ocorrência de determinado comportamento, bem como controlá-lo, tendo como seu pressuposto principal de que os comportamentos são selecionados por suas consequências e, como forma de modificá-los, são necessárias mudanças na relação do individuo com o seu ambiente (Moreira & Medeiros, 2007).

Segundo Cavalcante (2009), os estudos analíticos comportamentais sobre comportamento alimentar começaram em 1962 com Nurnberger e Levitt, cujo estudo descrevia e analisava o comportamento alimentar, como este havia se instalado ao longo da vida do indivíduo, identificando as varáveis que o mantinham e a função do mesmo. Ainda segundo Cavalcante (2009), no Brasil, um dos primeiros estudos realizados sobre o tema foi feito por Kerbauy em 1972, que realizou uma pesquisa experimental com objetivo de estabelecer e aumentar a possibilidade dos sujeitos de automanipular seu comportamento alimentar, por meio de um conjunto de técnicas de autocontrole. Quinze mulheres com problemas de superalimentação, com idade variando de 15 a 62 anos, foram distribuídas em quatro grupos por ordem de apresentação. O primeiro grupo (GI), composto por sete integrantes, foi o único a receber atendimento individual.

O segundo (GA1) e o terceiro grupo (GA2), compostos por três sujeitos cada, e o quarto grupo (GB), composto de dois sujeitos, receberam atendimento em grupo. As técnicas de autocontrole utilizadas neste estudo foram: restrição física, mudança de estímulos, privação e saciação, manipulação de condições emocionais, estimulação aversiva, autorreforçamento, autopunição e comportamento incompatível, além de instruções verbais que os sujeitos receberam. O tempo total de participação dos sujeitos variou de três a sete meses, bem como o número de sessões oscilou de 12 a 44, já que a periodicidade foi muito variada. Os resultados mostraram que todos os sujeitos atendidos individualmente perderam peso, apesar da grande variabilidade intragrupos. Dos oito sujeitos atendidos em grupo, apenas um aumentou de peso. Desde então, estudos tem buscado identificar a função que o comportamento alimentar tem para o obeso (Kerbauy, 1988).

Esses estudos buscavam descrever e analisar o comportamento alimentar, como este se instalava, identificando as variáveis que o mantem e sua função (Cavalcante, 2009)
Segundo trabalhos catalogados por Cavalcante (2009) sobre obesidade em Análise do Comportamento, a avaliação visa observar excessos e déficits comportamentais, seus antecedentes, consequentes e reações emocionais, que estejam contribuindo para o comportamento alimentar. As intervenções se concentram em automonitoramento, técnicas de autocontrole, modelação, e análise funcional. E é sobre cada uma dessas intervenções para o tratamento da obesidade que falaremos agora.

Segundo Bohm e Gimenes (2008) o automonitoramento é o comportamento de registrar sistematicamente a ocorrência de algum comportamento público e/ou privado e eventos ambientais associados, realizados pela própria pessoa. O procedimento padrão utilizado é fornecer material (agenda ou folhas para registrar os comportamentos alvo) e instrução apropriada para o cliente, ou seja, quais comportamentos devem ser registrados, como fazê-lo e a frequência do registro. Um exemplo de automonitoramento é o diário alimentar.

Em relação ao autocontrole, Cruz (2009) defende que trata-se de uma manipulação do ambiente, por uma pessoa, de maneira a alterar seu próprio comportamento em função de uma determinada consequência.

A modelação é o fenômeno do aprendizado pela imitação, ou seja, existe um modelo de comportamento a ser imitado, mostrando como algo deve ser feito.

Quanto à análise funcional, segundo Faggiani (2009), o objetivo é identificar o comportamento-alvo da intervenção (aquele que está inadequado) e os elementos do ambiente que estão ocasionando e mantendo esse comportamento. Interessam (1) o produto do comportamento, (2) seu contexto de ocorrência e (3) as operações motivadoras subjacentes a esse comportamento. Em posse das informações, o terapeuta descreve as relações comportamentais objetivamente, permitindo ao cliente interessado acompanhar os passos do diagnóstico e do tratamento.

Como podemos observar por meio de estudos na área, as técnicas acima identificadas têm sido comumente usadas por analistas do comportamento para tratar a obesidade, e tem mostrado eficácia enquanto ferramentas úteis para o tratamento da mesma.

O estudo de Silva (2001) “Obesidade: o que nós psicólogos podemos fazer?”, traz um exemplo de pesquisa em que o objetivo foi verificar o que psicólogos comportamentais podem fazer com relação a quadros de obesidade, com quinze clientes, (mulheres), a intervenção se dava em dois encontros semanais: um com a Psicologia e outro para orientação médica, nutricional e exercícios físicos, divididos em três fases:
1º Psicodiagnóstico e autoconhecimento do hábito alimentar;
2º Informação sobre nutrição e saúde, identificação das funções que o comer possui, de forma a facilitar o autocontrole;
3º Ênfase nas dificuldades de autocontrole, desenvolvimento da autoimagem positiva, expressão de pensamentos e sentimentos e aumento de repertórios que tenham consequências positivas.

A autora destacou que os resultados obtidos no terceiro momento eram os mais expressivos do conjunto do programa, uma vez que era nesta fase que ocorria o investimento no desenvolvimento do autocontrole.

REFERÊNCIAS

Bohm C.H. & Gimenes, L. S. (2008). Automonit
oramento como técnica terapêutica e de avaliação comportamental. Disponível em:
Cavalcante C. Lucia (2009) – Obesidades e Análise do Comportamento. UNAMA, Belém. Disponível em:

Cotran, R. S., Kumar, V. & Collins, T. (2000). Robbins: patologia estrutural e funcional. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.

Collins C. Jennifer, Bentz E.Jon (2009). Behavioral and Psychological Factors in Obesity. The Journal of Lancaster General Hospital Vol. 4 – No. 4. Disponível em:

Cruz, R. N. (2009) Uma introdução ao conceito de autocontrole proposto pela análise do comportamento. Disponível em: < http://www.usp.br/rbtcc/index.php/RBTCC/article/view/24>

Dâmaso, A. Bernardes, D. (2003). Avaliação Antropométrica e da Composição Corporal. Cap. 22. pp
352-3666. In: Obesidade. Dâmaso, A e Colaboradores. Editora Medsi.

Faggiani, R. B.(2009). Terapia Comportamental- Análise Funcional- avaliação. Disponível em:

Moreira, Borges Márcio; Medeiros, Augusto Carlos. Princípios Básicos do Comportamento. B. F. Skinner, análise do comportamento e o behaviorismo radical. Cap. 12 – Porto Alegre- Artmed, 2007.

Kerbauy, R R . (1988). Obesidade In: Leitner W.H; Rangé B.P. Orgs. Manual de Terapia Comportamental. São Paulo , Editora Manole. Cap 13, p 215-222.

Saito, M.I (1987). Obesidade na Adolescência. Pediatria Moderna, v.22, n8.

Silva, V. L. M. (2001). Obesidade: o que nós psicólogos podemos fazer? In: Wielenska, R. C., Sobre Comportamento e Cognição: Questionando e ampliando a teoria e as intervenções clínicas em outros contextos, v. 6, 1ª edição, São Paulo: Esetec Editores Associados.

Tavares, T. B. et al (2010). Obesidade e qualidade de vida: revisão da literatura. Revista Médica de Minas Gerais, Belo-Horizonte, v. 20, n.3, p. 359-366.

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Escrito por Fernanda Cerqueira

Psicóloga Clínica. Mestre em Análise e Evolução do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás). Especializada em Terapia Analítico Comportamental Clínica pela Unijorge. Psicóloga, formada pela União Metropolitana de Educação e Cultura (Unime) Salvador BA.
E-mail para contato:
nandacerqueira-@hotmail.com

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