Onde Estão os Sentimentos na Análise do Comportamento?

As “acusações” são sempre as mesmas: A Análise do Comportamento é positivista, a Análise do Comportamento não considera pensamentos, a Análise do Comportamento não fala de sentimentos… Entre outras.

Enfim, são muitas questões que não tenho pretensão de responder, apenas gostaria de discutir uma dessas “acusações” e falar um pouco onde estão os sentimentos na Análise do Comportamento.

Os sentimentos são comportamentos respondentes subprodutos de contingências operantes, isto é, são alterações nas condições corporais, como mudanças no ritmo cardíaco, na pressão sanguínea e na frequência respiratória que são eliciadas por estímulos na interação do organismo com o ambiente (Leonardi, 2009).

Em certos contextos teóricos, é possível encontrar uma diferença entre emoções e sentimentos, correspondendo as primeiras a estados corporais referentes a acontecimentos fisiológicos e os últimos a processos verbais. Neste sentido, respostas emocionais são explicadas como comportamento respondente, e sentimentos como comportamentos operantes (Aureliano & Borges, 2012)

Alterações que caracterizam respostas emocionais possuem também uma relação com a história de reforçamento de um indivíduo, isso inclui responder verbalmente ou não verbalmente sob controle discriminativo de alterações em suas condições corporais.

Desta forma, de acordo com Leonardi, (2007, 2009), há correlação direta entre os diversos sentimentos e as diferentes contingências em vigor, de forma que, o que um indivíduo sente se modifica quando sua interação com o mundo se transforma.

Com isto, é possível notar que os sentimentos são fundamentais em uma intervenção psicológica embasada na Análise do Comportamento, uma vez que fornecem informações preciosas sobre as contingências às quais o indivíduo está submetido. (Leonardi, 2007, 2009).

No processo terapêutico nem sempre temos acesso de forma direta a essas interações entre o organismo e seu ambiente, ou seja, a relação entre o organismo e seu ambiente. Segundo Skinner (2006) a comunidade verbal contorna essas restrições ensinando aos indivíduos a descreverem seus estados orgânicos, impostas pela privacidade dos sentimentos, essas descrições nunca são totalmente precisas, pois não aprendemos a descrevê-las de forma detalhada.

Portanto em primeira instancia, penso que uma das primeiras funções da terapia é “ensinar” ao indivíduo a observar e a descrever de forma precisa seus sentimentos, isto está em consonância com o que diz Aureliano e Borges (2012) que afirmam que após uma investigação minuciosa o clinico identifica quais situações evocam determinados comportamentos e a partir daí pode identificar as relações e caso o cliente consiga identificar as situações em que certos comportamentos ocorrem é possível que não emita mais determinados comportamentos. Tomemos como exemplo dois indivíduos e ambos dizem estar com raiva, porém tanto as circunstancias, como o que, ambas denominam raiva são diferentes por isso é extremamente necessário entender o que cada expressão de sentimento é para cada indivíduo, e isso só é possível através de uma descrição precisa dos sentimentos.

No entanto, sentimentos não devem ser tratados como causas internas que explicam o comportamento dos organismos, estes são produtos da interação entre o individuo e seu meio e são consequências destas interações e não causas. Segundo Darwich e Tourinho (2005), as condições de privação alteram a probabilidade de toda uma classe de respostas. Do mesmo modo, as condições de emoção alteram a probabilidade de toda uma classe de respostas.

Segundo Leonardi (2009), o entendimento das emoções e dos sentimentos é essencial para a Psicologia, uma vez que estão envolvidos no comportamento humano complexo e são centrais para a compreensão de uma série de questões clínicas.

Respondendo então a pergunta inicial, os sentimentos tem um lugar sim na Análise do Comportamento, eles servem para saber as contingencias em que o indivíduo esta envolvido, e em quais classes de respostas eles são desencadeados sendo consequências desta interação e não a explicação para nossos comportamentos.

Aureliano, L.F.G. & Borges, N.B. (2012).Operações Motivadoras. In: Nicodemos Batista Borges. Fernando Albregard Cassas e Colaboradores. Clínica Analítico-comportamental aspectos teóricos e práticos. (Ed) Artmed (Cap 3, pp 38-39). Porto Alegre.

Darwich, R.A & Tourinho, E. Z. (2005). Respostas emocionais à luz do modo causal
de seleção por consequência. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva. (Vol. VII, nº 1, 107-118). Disponível em:< http://www.usp.br/rbtcc/index.php/RBTCC/article/view/46>

Leonardi, J.L (2009). Emoções e Sentimentos no Behaviorismo Radical: Um Esclarecimento Conceitual. Diálogos do Behaviorismo com a Psicologia. Disponível em:

Skinner, B.F. (2006). O Mundo Dentro da Pele. In: Maria da Penha Villalobos. Sobre o Behaviorismo (Ed) Cultrix. (10ª edição, Cap. 2, pp 23-25). São Paulo.

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Escrito por Fernanda Cerqueira

Psicóloga Clínica. Mestre em Análise e Evolução do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás). Especializada em Terapia Analítico Comportamental Clínica pela Unijorge. Psicóloga, formada pela União Metropolitana de Educação e Cultura (Unime) Salvador BA.
E-mail para contato:
nandacerqueira-@hotmail.com

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