Pistas digitais da personalidade

Considerados por muitos pesquisadores como fortes preditores de desempenho na carreira, os testes de personalidade também costumam ser usados como ferramentas nos processo de recrutamento e seleção. Diversos estudos comprovam, aliás, que o sucesso profissional depende mais da maneira de ser do que da formação acadêmica ou até mesmo da experiência profissional.
 


Descobertas recentes sugerem que é possível deduzir aspectos da personalidade a partir de pistas digitais. Atualmente já é possível encontrar softwares capazes de categorizar dados capturados da rede e traduzi-los em aspectos de personalidade. Os aplicativos TweetPsych (Análise de Tweet) e YouAreWhatYouLike (Você é o que curte) são gratuitos e fáceis de usar. O primeiro avalia traços emocionais e intelectuais da pessoa com base naquilo que ela escreve (em no máximo 140 caracteres) no Twitter. Na hora de escolher entre dois candidatos com qualificações equivalentes a ferramenta pode ajudar a selecionar o mais “otimista”, por exemplo.
O segundo aplicativo compila perfis de acordo com o modelo americano de cinco fatores, bastante difundido nas últimas décadas, que considera cinco grandes aspectos de personalidade. Existem várias versões do big five, mas em essência todas medem os mesmos traços:
Estabilidade emocional (ou neuroticismo): mede a instabilidade emocional. Pessoas com pontuações altas nessa escala tendem a ser ansiosas, inibidas, melancólicas e a apresentar baixa autoestima. Já as que obtêm baixa pontuação costumam ser otimistas e satisfeitas consigo mesmas.
Extroversão:mede a sensação de bem-estar geral, o nível de energia e a habilidade nas relações interpessoais. Pontuações elevadas significam afabilidade, sociabilidade e capacidade de se impor. Baixas indicam introversão, reserva e submissão.
Abertura a novas experiências: pessoas com pontuações elevadas gostam de novidades e primam pela criatividade. Na outra ponta da escala estão os convencionais e ordeiros, adeptos da rotina e fortes opiniões sobre o que é certo e o que é errado.
Simpatia: Refere-se ao modo como nos relacionamos com os outros. Muitos pontos indicam uma pessoa compassiva, amistosa e calorosa. Na outra extremidade estão os retraídos, críticos e egocêntricos.
Conscienciosidade: Mede o grau de concentração. Aqueles com altas pontuações apresentam grande motivação, são disciplinados, comprometidos e confiáveis. Os que apresentam resultados baixos são indisciplinados e se distraem facilmente.

O YouAreWhatYouLike toma por base os assuntos que a pessoa curte no Facebook (considerando que “curtir” seja a maneira que o usuário do site tem para expressar sentimento positivo em relação a determinado conteúdo on-line, como páginas de artistas, fotografias de amigos, atualizações de status etc.) e cria classificações, como “liberal e artístico”, “calmo e relaxado” e “organizado”.

O grupo de pesquisa que desenvolveu o software, liderado pelo psicólogo Michal Kosinski, da Universidade de Cambridge, publicou uma análise mais profunda com base em informações de 58 mil voluntários, no início deste ano. Os participantes permitiram acesso às suas preferências, além de compartilhar dados demográficos detalhados e resultados de diversos testes psicométricos. Os pesquisadores analisaram os assuntos mais “curtidos” e construíram padrões que ajudam a descobrir características e preferências, além de mensurar capacidade cognitiva. Eles avaliaram a eficácia do método por meio de outras informações fornecidas pelos voluntários e concluíram que podiam deduzir gênero, orientação sexual, preferência política, religião e etnia com mais de 75% de precisão.
A técnica demonstrou menor exatidão para identificar traços de personalidade e inteligência. Um dos melhores preditores dessas características foi o interesse por assuntos científicos e pelo programa de televisão americano The Colbert Report (com teor de crítica à política e aos meios de comunicação social).

É importante levar em conta, porém, que o que se posta é o que se deseja que o outro veja e leia e, que o dispositivo tecnológico pode não apreender nuances mais sutis, tipicamente humanas. Ainda assim, muitos cientistas acreditam que estão próximos de desvendar os rastros digitais da inteligência e personalidade.

Fonte: Mente e Cérebro

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Escrito por Portal Comporte-se

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