A Preparação para Procedimentos Invasivos

Prof. Dra. Ana Lucia Ivatiuk 

Psic. Talita Borges de Souza

A atuação do psicólogo em hospitais pode ter diferentes enfoques, pois atendemos os pacientes em diferentes estágios do diagnóstico e com isso podemos nos deparar com necessidades diversas. É importante lembrar que não atendemos apenas os pacientes com doenças graves, ou quando eles estão com algum distúrbio emocional, pois independente da doença o importante é a relação do paciente com os procedimentos e mudanças que terá em sua vida a partir do momento em que procurou o hospital/ médico. 

Além dos pacientes atendemos também a rede de apoio (pais, irmãos ou cuidadores) e intervimos muitas vezes com a equipe, intermediando a relação desta com o paciente e familiar/cuidador. 
Hoje começaremos contando sobre a atuação com o paciente que passará por um procedimento invasivo. É importante destacar que os procedimentos invasivos não são apenas as grandes cirurgias ou procedimentos perigosos, mas sim todos aqueles que possam desencadear algum tipo de ansiedade que não se consiga ter controle, como o medo para uma pessoa que precisará realizar exames diversos, as cirurgias, curativos ou até uma fisioterapia para reabilitação. Todos esses momentos podem desencadear a ansiedade por medo de sentir dor ou não voltar a ser como antes. Como cada indivíduo é único, só ele poderá descrever o que sente e, sendo assim, cada um terá a sua sensação diante de procedimentos feitos em hospitais e teremos que respeitar (empatia), acolher e orientar. 
Há outros tipos de procedimentos que são invasivos, mas que de uma forma geral pela cultura são descritos como um momento de alegria, como por exemplo uma mãe grávida, feliz por estar esperando um filho, porém a imagem do parto, seja ele normal ou cesariana, as apavora. Nesse momento uma intervenção pode ser muito eficaz tanto para a mãe e o bebê, como para o trabalho da equipe como um todo. Outra situação pode ser alguém que quer fazer cirurgia bariátrica (redução de estomago) ou uma plástica, mas não estão preparadas para a intervenção e mudanças pós-operatórias, principalmente em relação a mudança da imagem corporal e isso pode desencadear a tal da ansiedade também. 
Independente do procedimento e do motivo do medo, a intervenção de preparação para um procedimento invasivo é feito tanto com adultos quanto com crianças. Com os adultos o instrumento de trabalho é o comportamento verbal, ou seja, são instruídos verbalmente sobre tudo que acontecerá no dia em que realizará o procedimento. Durante a interação com o paciente nas instruções o psicólogo avalia quais os momentos em que ele apresenta maior medo ou dificuldade para entender seus sentimentos e sensações diante do procedimento para desenvolver junto ao paciente, estratégias para superar as dificuldades. 
As estratégias podem ser desviar a atenção do foco de ansiedade/ medo como desviar o olhar do procedimento, estar presente no momento da intervenção alguém que lhe dê confiança e tranquilidade, pode ser o psicólogo, um médico, marido/esposa, pais, alguém com quem já tenha uma relação anterior ao dia do procedimento e que seja permitida a presença. Também é importante trabalhar os resultados e a importância da intervenção para a vida do paciente. Podem ser usadas também figuras (ex: revistas) que ajudem a descrever a situação, ensinar métodos de relaxamento que possam ser utilizados nos dias anteriores e no próprio dia da intervenção. 
Já com as crianças, a intervenção dependerá muito de sua idade, pois a interação com uma criança de 3 anos será muito diferente de uma de 11 anos, porém a estratégia mais utilizada, em geral, serão as atividades lúdicas, com as quais tentamos transformar uma situação aversiva em um ambiente um pouco mais reforçador (lembre-se que mesmo que você procure diminuir os aversivos, eles existem de fato e são reais, então não se pode ter a pretensão de que eles serão extintos) conhecido para a criança, no caso a brincadeira, o jogo, coisas do cotidiano dela, porém sempre com o tema hospitalar necessário e sempre adequando as atividades para as idades das crianças. 
Em geral utiliza-se lápis e papel, bonecos, instrumentos médicos (estetoscópio, soro, equipo, injeção, etc.), jogos, desenhos/ filmes (estes dependerá muito do hospital e sua estrutura física), estórias em livros, etc. Por meio dessas atividades são feitas dessenssibilizações sistemáticas com as quais se procura aproximar a criança dos procedimentos que terão que realizar, tornando-os mais naturais e possível as intervenções necessárias. 
O trabalho de preparação para procedimentos invasivos é muito importante para aumentar o bom resultado do procedimento e muitas vezes garantir que ele será feito. O medo acarreta muitas vezes a desistência de um procedimento, mesmo que seja de extrema importância ao paciente, existem muitos casos que a doença se agrava porque o paciente não consegue realizar um exame. Muitos vão ao hospital/ laboratório, porém quando é chamado para realizar o procedimento tem uma crise nervosa, alteração de pressão, ou alguma outra alteração que acaba por cancelar e sendo necessário remarcar para outro dia e muitas vezes acaba por não realizar novamente. 
Os pacientes que conseguem realizar o procedimento precisam lidar com possíveis mudanças físicas ou de hábitos cotidianos, como alimentares. Nesta situação o trabalho é voltado para aceitação de uma nova imagem corporal, como um caso de um garoto de vinte e poucos anos que atendemos após ter feito cirurgia plástica no nariz, sem um acompanhamento psicológico, e com a mudança não se reconhecia ao olhar no espelho e entrou em depressão profunda. 
O trabalho focando o período pós-procedimento é tão importante quanto para a realização do mesmo, pois ajuda a garantir que o paciente seguirá as instruções médicas, ajudará a organizar as novas rotinas e lidar com as mudanças. 
Recomendações de leitura: 

Costa Jr., Áderson L.. (1999). Psico-Oncologia e manejo de procedimentos invasivos em oncologia pediátrica: uma revisão de literatura. Psicologia: Reflexão e Crítica, 12(1), 107-118. Recuperado em 01 de abril de 2012, de http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79721999000100007&lng=pt&tlng=pt. 10.1590/S0102-79721999000100007.

Lemos, I. P., & Ferreira, Eleonora A. P. (2010). Comportamento de crianças, acompanhantes e auxiliares de enfermagem durante sessão de punção venosa. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26(3), 433-443. Recuperado em 20 de março de 2011, de http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722010000300006&lng=pt&tlng=pt. 10.1590/S0102-37722010000300006.

Motta, A. B.; Enumo, S. R. F. (2004). Brincar no hospital: estratégia de enfrentamento da hospitalização infantil. Psicol. estud., Maringá, v. 9, n. 1, Apr. Recuperado em 20 de julho de 2008, de http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722004000100004&lng=en&nrm=iso

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Escrito por Ana Lucia Ivatiuk

Possui graduação em Psicologia (CRP: 08/07292-8) pela UFPR (1998) e formação em Fotografia pela escola Portfólio (2011); Especialização em Psicoterapia Comportamental e Cognitiva pela USP (2002); Mestrado em Psicologia Clínica pela PUC – Campinas (2004); Doutorado em Psicologia pela PUC – Campinas (2009). Atualmente é Professora Auxiliar na Faculdade Evangélica do Paraná e Psicóloga Preceptora do Ambulatório de Cirurgia Bariátrica do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba. Experiência de 8 anos na área da Saúde, principalmente o campo hospitalar. Também atua como Psicóloga e Coordenadora Administrativa do Crescer com Afeto - Centro de Estudos em Psicologia Clínica e Saúde.

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