[Entrevista Exclusiva] – Profa. Giovana Munhoz da Rocha – XXI Encontro da ABPMC

Trazemos aos leitores do Comporte-se mais uma entrevista feita por ocasião do XXI Encontro da ABPMC. A entrevistada da vez é Giovana Munhoz da Rocha

Giovana é doutora pela USP, foi presidente do Encontro em Curitiba e responsável pela organização do evento, que foi um sucesso de público. Ela também é estudiosa da área de Psicologia Forense, que desperta cada vez mais interesse dos nossos leitores. Foi um grande prazer conhecê-la e agora vocês podem conferir abaixo o nosso papo com ela!

Giovana na mesa de encerramento do XXI Encontro

Comporte-seO que te atraiu na Análise do Comportamento e, posteriormente, na Psicologia Forense? 

Giovana Munhoz da Rocha – Tudo me atraiu! Mas a visão de homem e de mundo do Behaviorismo Radical de Skinner me fascinaram. Fui para faculdade já conhecendo e achando que queria ser terapeuta comportamental (eu fazia psicoterapia com uma pessoa da abordagem). Durante a faculdade experimentei práticas em várias abordagens, estudei e fiz cursos de outras abordagens também. Tive certeza de era analista do comportamento em contato com as contingências! Fiz cursos de extensão e formação durante a faculdade, fiz pós-graduação em terapia comportamental, mestrado em psicologia da infância e da adolescência sob orientação de uma analista do comportamento (Yara K. Ingberman) e doutorado em psicologia clínica também. Eu entrei na Psicologia Forense por meio da Psicologia Clínica. Quando estava no doutorado queria trabalhar com casos clínicos “resistentes” à psicoterapia e relação terapêutica. Como minha orientadora (Sonia Meyer) alertou, seria muito difícil que clientes cujo comportamento é a não-adesão ao processo aceitassem espontaneamente participar do trabalho. Estávamos pensando em como poderia ser feito e comentei isso em um jantar com amigas analistas do comportamento. Foi então que a Paula Gomide me disse que tinha acesso a um numero significativo de rapazes com esta característica (não-adesão à psicoterapia). No dia seguinte fui conhecer a unidade de internamento (local onde os jovens ficam “presos”) e tive meu primeiro contato com jovens cujo padrão de comportamento era predominantemente antissocial. Mais tarde descobri que o nome desta prática é Psicologia Clínica Forense, um campo específico na Forense definido pela APA em 2001. Desde então trabalhei e trabalho com vários outros campos da Psicologia Forense, como a avaliação, a psicologia do crime, programas de prevenção, assessoria, pesquisa, dentre outros.

CNa ABPMC em Curitiba você ministrou um curso sobre a Psicologia Forense e suas áreas de atuação, curso este que foi bastante elogiado por quem assistiu. Poderia falar um pouco sobre o que foi abordado no curso?

GMR – Ficamos felizes que as pessoas tenham gostado, obrigada. Ministrei o curso com a Paula Gomide, que é um dos maiores nomes nesta área (ela atua na forense há mais de 25 anos). O curso era básico e falamos rapidamente das oito áreas de atuação do psicólogo forense e fomos exemplificando com nossa atuação, sempre analítico-comportamental, nas diversas áreas. Para conhecimento, são as áreas: psicologia do crime, avaliação forense, clínica forense, psicologia aplicada ao sistema correcional, psicologia aplicada aos programas de prevenção, psicologia aplicada à polícia, assessoria e pesquisa. Para conhecer mais indico o texto da Paula Gomide, de 2011, Psicologia Forense e suas Conexões com as Diversas Áreas da Psicologia (Em Gondim, S.M.G. & Chaves, A.M. (orgs.) [2011] Práticas e Saberes Psicológicos e suas Conexões. Salvador: UFBA.)

CUm dos temas mais frequentemente lembrados quando falamos de Psicologia Forense  é a psicopatia. Como a Análise do Comportamento compreende/ explica a psicopatia?

GMR – Para analistas do comportamento que trabalham com psicopatia, esta definição refere-se a um conjunto de comportamentos que tem relevância para o sistema de justiça, pois apontam para uma cronicidade e um maior risco de repetição da conduta). Portanto é uma nomenclatura forense; não se trata de distúrbio ou transtorno psiquiátrico. Sendo assim, quando um padrão comportamental está relacionado à descrição de psicopatia feita por Robert Hare podemos dizer que o individuo possui um padrão comportamental indicativo de psicopatia, segundo a definição forense. Para saber mais sobre Psicopatia a leitura obrigatória é “Without Conscience: The Disturbing World of the Psychopaths Among Us”, de Robert Hare. Existem várias versões em pdf na internet, inclusive em espanhol. Contudo não posso avaliar a tradução.

C Vamos falar um pouco da XXI ABPMC – Curitiba, evento do qual você foi presidente. Ele atendeu às expectativas da comissão organizadora? Houve surpresas?

GMR – O XXI Encontro da ABPMC atendeu às expectativas da organização, da diretoria, do conselho, dos convidados e ao que tudo indica dos participantes em geral. Nosso objetivo era construir um evento que mantivesse a qualidade dos anos anteriores, mas que pela localização privilegiada do estado do Paraná e da capital Curitiba, tivéssemos um grande número de participantes. Sendo que, dentre esses conseguíssemos trazer um público novo, interessado em conhecer e explorar os temas relacionados às ciências do comportamento. Pela quantidade de novos associados parece que o objetivo foi atingido. Tenho uma curiosidade sobre uma reclamação que nos feita durante o evento; a pessoa veio até mim reclamar que as salas estavam todas muito cheias… Tomei como elogio!!! Fiquei muito feliz!!! Vinte salas sendo ocupadas ao mesmo tempo, com qualidade de conteúdo e apresentadores de peso, e cheias… Adorei! Aliás, para registro, o centro de convenções onde foi realizado nosso evento é um dos maiores, em termos de capacidade para número de pessoas, do país! 
C Já está prevista a cidade na qual o próximo encontro da ABPMC será realizado? Se não está, é possível revelar as principais opções? 

GMR – Tudo vai depender de quem comporá a nova diretoria. Teremos uma assembléia durante a 42ª Reunião da Sociedade Brasileira de Psicologia (de 17 a 20 de outubro em São Paulo) onde serão inscritas as chapas para eleição, que será feita on-line. Só então saberemos onde será o XXII Encontro. 
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Escrito por Aline Couto

Tem 22 anos e reside em Salvador, BA. Formada em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Durante o curso, aproximou-se da Análise do Comportamento, da Psicologia Cognitivo-Comportamental e da Neuropsicologia. Participou de grupos de pesquisa sobre Neuropsicologia Clínica e Cognitiva e Análise do Comportamento e Cibercultura na sua faculdade, além de grupos de estudo sobre Behaviorismo Radical.

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