Depressão: análise do comportamento não verbal auxilia no diagnóstico, afirma estudo

A observação detalhada do comportamento não verbal de pessoas depressivas possibilita melhores diagnósticos e prognósticos clínicos. Esse foi o resultado obtido pela psicóloga e etóloga brasileira Juliana Fiquer, pesquisadora do Laboratório de Investigação Médica do Instituto de Psiquiatria da USP. O estudo foi apresentado na 21ª Conferência Bienal de Etologia Humana em Viena, na Áustria. A pesquisadora está trazendo a observação de gestos e posturas, um método de estudos consagrado na etologia animal e humana, para dentro da clínica psiquiátrica.
“A clínica psiquiátrica moderna apoia-se na descrição verbal do paciente sobre seus sintomas para realização de diagnósticos e formulação de tratamentos. Similarmente, a psicologia clínica baseia-se na fala dos pacientes, como forma de ter acesso a processos emocionais que prejudicam o indivíduo”, disse Juliana.
A ideia não é substituir, mas sim complementar as estratégias diagnósticas. “Sabe-se que muitos dos processos psíquicos subjacentes a quadros psicopatológicos estão associados a mecanismos ou vivências emocionais inconscientes, difíceis de serem percebidos e narrados pelas pessoas”, ressalta Juliana. Daí a importância de se considerar o que o movimento e a posição do corpo têm a dizer. “A comunicação não verbal é uma via privilegiada de transmissão de intenções sociais e sentimentos, com baixa possibilidade de controle consciente.”
Juliana mostrou a importância de considerar o aspecto não verbal do comportamento no diagnóstico de psicopatologias com um estudo de observação. Ela filmou consultas clínicas de 40 pacientes com sintomas depressivos, que também responderam a um questionário sobre o grau desses sintomas. A filmagem e a resposta ao questionário foram feitas antes e depois de os pacientes serem submetidos a um tratamento de estimulação magnética transcraniana – procedimento em que um pequeno aparelho gerando um campo magnético é aproximado de regiões específicas da cabeça. Isso ativa ou desativa os circuitos elétricos de grupos neuronais de interesse.
Ela construiu um etograma (um inventário explicativo) descrevendo em detalhes tipos de gestos, olhares e movimentos de cabeça. Assim, ela pôde quantificar tipos de comportamentos não verbal e testar se a frequência deles previa a severidade do caso e a melhora ao longo do tratamento. No geral, a maior presença de sinais de engajamento social antes do tratamento indicou baixos níveis de depressão, melhora clínica futura e períodos depressivos curtos.
“Comportamentos não verbais como, por exemplo, o levantar de sobrancelhas, movimentos afirmativos com a cabeça apresentados pelos pacientes durante entrevistas clínicas iniciais, indicam quadros menos graves da doença.” “Em contrapartida, o silêncio persistente dos pacientes, que pode ser tomado como um sinal de isolamento e desinteresse social, associa-se com quadros mais graves de depressão, com pior prognóstico”, diz a pesquisadora.
Juliana ressalta que “o interessante é que o estudo em comunicação não verbal remete à retomada de uma ideia da medicina antiga –a importância do olhar do clínico sobre o paciente”.
“Quando os pacientes melhoram, há um aumento de contato ocular e de outros comportamentos sugestivos de proximidade interpessoal, além de diminuição de características faciais relacionadas a sentimentos negativos, tais como boca curvada para baixo e testa franzida.” Com seu estudo, ela mostrou que a comunicação não verbal de pacientes deprimidos “é uma dimensão importante para avaliação diagnostica e prognóstica da depressão, assim como para mensuração de melhora clínica durante a realização de tratamentos antidepressivos”.
Ela conclui destacando que “a possibilidade de profissionais da saúde estarem atentos e treinados para também interpretar a forma como o paciente se expressa por meio de indicadores não verbais oferece uma ferramenta adicional em contextos clínicos que pode potencializar o trabalho psiquiátrico e psicoterapêutico, resultando em tratamentos mais eficientes”
Adaptado de Psicologado
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Escrito por Portal Comporte-se

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