Tradução: Expressão Facial e Emoção (Parte 2) (Erika L. Rosenberg & Paul Ekman)

Neuroscience year: Supplement 3 to the Encyclopedia of Neuroscience, 1993, 51-52.

EXPRESSÃO FACIAL E EMOÇÃO¹ (Parte 2)

Erika L. Rosenberg & Paul Ekman

Expressões Voluntárias e Involuntárias

Se a face é ou não uma fonte precisa de informação sobre a emoção, isto depende do contexto situacional em que as expressões são eliciadas. Quando o indivíduo está ciente de estar sendo observado, a face pode fornecer informações enganosas ao observador destreinado, nesse caso tanto expressões voluntárias quanto involuntárias podem estar presentes. Há evidência experimental de que alguns observadores podem distinguir entre estes tipos de informação, mas a maioria não pode. Pesquisadores estão desenvolvendo métodos para treinar pessoas a diferenciar expressões faciais deliberadas de expressões não intencionais.

A maioria das pesquisas comparando expressões emocionais voluntárias e involuntárias focaliza a distinção entre sorrisos genuínos de prazer² dos muitos tipos de sorrisos que não esboçam prazer³ (por exemplo, sorrisos educados, sorrisos para mascarar sentimentos negativos, e sorrisos de conformidade). Os sorrisos genuínos de prazer podem ser distinguidos de outros tipos de sorrisos com base no tempo e na presença ou ausência da contração dos músculos em torno do olho (orbicularis oculi). Conforme previsto ainda no século XIX pelo neurologista francês Duchenne, a atividade do orbicularis oculi (músculo que forma os “pezinhos de galinha”) está presente em sorrisos genuínos de prazer, mas não em outros tipos de sorrisos. Para a maioria das pessoas, o orbicularis oculi é um músculo difícil de ser contraído voluntariamente, portanto, é um marcador de prazer quando ocorre juntamente com a contração do músculo zygomatic major (que eleva os cantos dos lábios). Apesar de o sorriso ser o único modo de expressão emocional para o qual a distinção entre a contração voluntária e involuntária foi demonstrada, é razoável esperar que seja possível distinguir entre expressões voluntárias e involuntárias de outras emoções de modo similar.

Expressões voluntárias como geradoras de respostas emocionais 

As expressões faciais têm sido consideradas como um dos sistemas de resposta periféricos da emoção. Nos últimos oito anos, no entanto, pesquisadores descobriram que a contração voluntária dos músculos faciais pode eliciar em algumas pessoas a resposta fisiológica de certas emoções, assim como a experiência subjetiva da emoção. Este achado foi replicado cinco vezes. Diferentes padrões de atividade autonômica apontam a distinção entre as expressões para várias emoções. Esses padrões não apenas diferenciam as expressões de emoções positivas e negativas, como também diferenciam as expressões de emoções negativas uma das outras – raiva, medo, tristeza e nojo, cada uma tem um modelo autonômico único. O estudo sobre as especificidades autonômicas geradas pela face foi replicado em culturas não ocidentais e em indivíduos de 20 a 70 anos de idade. Existem novos achados ainda não replicados sobre o movimento voluntário das expressões emocionais universais que apontam para a geração de padrões distintos de atividade no eletroencefalograma (EEG). Os mecanismos subjacentes ao fenômeno das respostas fisiológicas e experienciais eliciadas a partir de expressões faciais são objeto de debate, que vão desde a reação aferente (afferent feedback) até as ligações diretas entre o córtex motor e áreas hipotalâmicas.

Expressões e fisiologia 

A maior parte das evidências sobre a especificidade autonômica da emoção vem de estudos em que reações fisiológicas foram eliciadas por expressões faciais voluntárias (como descrito anteriormente). É notável, no entanto, que os padrões autonômicos produzidos por expressões faciais voluntárias são melhorados quando (1) as expressões são mais parecidas com a configuração da expressão universal para a emoção associada, e (2) quando o sujeito relata que a emoção foi experimentada. Uma pesquisa recente mostrou que esses padrões de atividade também ocorrem quando a emoção é eliciada por reminiscência (recordação). Discute-se ainda se esses padrões sustentam a tese de que a emoção é gerada espontaneamente em um contexto social. Três medidas autonômicas distinguem diferentes tipos de emoções: frequência cardíaca, condutibilidade da pele e temperatura do dedo. Com base na frequência cardíaca e na condutibilidade da pele, distinções foram feitas entre as emoções negativas de nojo, raiva e medo; e a emoção positiva e de alegria. Padrões de frequência cardíaca e de temperatura do dedo também distinguem quatro emoções negativas. Estes resultados desafiam alegações, mal fundamentadas e de longa data na literatura, de que todas as emoções são caracterizadas por um estado indiferenciado de excitação autonômica.

Há também evidência de diferenças entre as emoções no sistema nervoso central, mas até agora é mais limitada do que a evidência para a atividade do sistema nervoso autônomo. Os únicos resultados replicados mostram a diferenciação inter e intra-hemisférica na atividade EEG entre as emoções que podem ser distinguidas com base no fato de elas serem caracterizadas por (1) valência positiva versus negativa ou (2) tendências comportamentais de aproximação ou afastamento.

Dano cerebral e reconhecimento facial

A investigação sobre a relação entre determinados tipos de danos cerebrais e a produção de expressões faciais tem sido equivocada. Tem havido problemas com a evocação da emoção em alguns grupos de pacientes, bem como a heterogeneidade da localização da lesão. Existe um volume substancial de literatura, porém, no que se refere ao reconhecimento de expressões faciais de emoção. Pacientes com lesão temporal ou parietal no lado direito são pobres em reconhecer estímulos faciais em geral. A literatura neuropsicológica sugere que as regiões temporoparietais direita estão envolvidas no reconhecimento de expressões faciais emocionais, e que a habilidade de reconhecer expressões emocionais pode estar separada da habilidade de reconhecer faces em geral.

¹ Título original: Facial Expression and Emotion 
² enjoyment smiles 
³ nonenjoyment smiles 
O texto original completo pode ser encontrado em: http://www.paulekman.com/wp-content/uploads/2009/02/Facial-Expression-And-Emotion.pdf

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Escrito por Vinícius F. Borges

Psicólogo, graduado pela Universidade Federal de Uberlândia (MG). Atualmente, é aluno-pesquisador do programa de Mestrado em Análise do Comportamento da Universidade Estadual de Londrina (PR), onde desenvolve pesquisas sobre o comportamento facial humano. Trabalha paralelamente com tratamento e prevenção psicológica (abordagem analítico-comportamental) e realiza processos de treinamento e seleção profissional sob demanda.

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