Tradução: Expressão Facial e Emoção (Erika L. Rosenberg & Paul Ekman)

A maior parte da literatura sobre a expressão facial da emoção encontra-se publicada em inglês. No Brasil, contamos atualmente com a tradução de apenas duas obras do professor Paul Ekman, são eles: “A linguagem das emoções” (Emotions revealed) e “Consciência emocional” (Emotional Awareness). Livros do professor português Freitas-Magalhães podem ser encontrados em nosso idioma, embora em alguns casos precisem ser importados. Considerando o crescente interesse dos leitores brasileiros pelo tema, a dificuldade de acesso a bons textos e/ou a barreira do idioma, selecionarei, traduzirei e publicarei eventualmente nesta coluna algumas produções de autores renomados na área. O ótimo texto que se segue (Rosenberg & Ekman, 1993) é uma breve revisão do que foi descoberto e produzido no campo das expressões faciais até a década de 90 e, no intuito de tornar a leitura menos cansativa, ele foi dividido em duas partes. A primeira abordará os tópicos universalidade, desenvolvimento e técnicas de mensuração das expressões faciais da emoção. Por fim, a segunda parte do texto, a ser publicada no mês seguinte, cobrirá os temas: expressões voluntárias e involuntárias; expressões voluntárias como geradoras de respostas emocionais; expressões e fisiologia; dano cerebral e reconhecimento facial.


Neuroscience year: Supplement 3 to the Encyclopedia of Neuroscience, 1993, 51-52.
EXPRESSÃO FACIAL E EMOÇÃO¹ (Parte 1) 
Erika L. Rosenberg & Paul Ekman 
Charles Darwin, em seu livro sobre a expressão das emoções, escreveu que as expressões faciais são comportamentos inatos evoluídos. No século XX, muitos cientistas sociais argumentaram que as expressões faciais da emoção são como a linguagem, ou seja, aprendidas socialmente e variáveis de acordo com a cultura. Os primeiros estudos metodologicamente rigorosos sobre a universalidade das expressões faciais da emoção apoiaram a visão de Darwin. Os principais alicerces que dão suporte a esta posição e a novas direções de pesquisa sobre o comportamento e biologia da expressão emocional serão descritos no texto. 



Universalidade 
Pesquisas interculturais² sobre expressões faciais da emoção foram realizadas com povos de culturas ocidentais, não ocidentais, alfabetizados e não alfabetizados. Embora a evidência sobre expressões emocionais espontâneas seja limitada, vários estudos têm demonstrado que observadores de diferentes culturas atribuem os mesmos rótulos emocionais a fotografias de rostos retratando raiva, nojo, alegria, medo e tristeza. A expressão de surpresa foi distinguida de todas as expressões anteriores, exceto do medo em estudo realizado em uma cultura não alfabetizada. O reconhecimento universal do desprezo como expressão básica é um tópico ainda debatido. 
Comparações entre expressões de grandes primatas e humanos revelaram similaridades na morfologia facial. Tais semelhanças entre espécies são consistentes com os achados acerca da universalidade, e com uma visão evolucionária das expressões faciais da emoção. 
O movimento facial está sob o controle voluntário ou involuntário do organismo, o que permite esforços deliberados do sujeito para controlar seu comportamento facial e mascarar expressões não intencionais. Pesquisas experimentais mostraram que diferenças culturais nas regras aprendidas para o manejo da expressão em situações sociais podem produzir a aparência de que as expressões faciais são específicas de cada cultura. Tais diferenças culturais nas regras de exibição³ podem explicar ambas as observações a respeito da base biológica universal das expressões e da especificidade cultural do comportamento emocional. 


Desenvolvimento 
As expressões faciais da emoção aparecem mais cedo na vida do que os pesquisadores tinham pensado previamente. Por volta dos dois anos de idade, o repertório do comportamento facial de uma criança já inclui as expressões para a maioria das emoções básicas. A maior parte do debate na literatura do desenvolvimento está focada na idade em que surgem as expressões emocionais, e se todas as expressões emocionais estão presentes desde o nascimento ou se existe uma sequência precisa no desenvolvimento para o aparecimento de cada expressão afetiva. Crianças demonstram a habilidade de imitar expressões em poucas horas após o nascimento; recém-nascidos mostram expressões que se assemelham ao nojo expresso pelo adulto; os sorrisos aparecem nas primeiras semanas de vida; e a raiva aparece em aproximadamente quatro meses, embora os componentes de outras expressões emocionais negativas estejam presentes no primeiro mês. 
Entre três e quatro meses de idade, crianças já diferenciam expressões faciais em tarefas de reconhecimento, sustentando os achados sobre a expressão espontânea. Evidências empíricas sugerem que de quatro a oito meses surge a habilidade de utilizar as expressões instrumentalmente. Durante este período, as crianças aprendem primeiramente a direcionar as expressões de raiva para a fonte da frustração e, por volta dos sete meses, elas também irão direcioná-las para suas mães para obter ajuda. 


Técnicas de mensuração 
Há duas aproximações diferentes para medir as expressões faciais em termos musculares e anatômicos. Em uma técnica, pessoas que codificarão as expressões faciais aprendem a reconhecer visualmente configurações faciais distintas que podem isoladamente ou em combinação representar todos os movimentos faciais. Em tal procedimento de codificação, as interpretações das emoções são feitas em função da possibilidade das ações ou combinações de ações serem indicativas da emoção em uma base empírica ou teórica. A vantagem desta abordagem é que ela é precisa, e inferências sobre as emoções são feitas depois que o comportamento facial é codificado. A desvantagem desta técnica é que ela é muito trabalhosa e insensível a mudanças muito pequenas no tônus muscular. 
O outro método é a eletromiografia facial (EMG), no qual eletrodos de superfície colocados em diferentes regiões da face medem a descarga elétrica da contração do tecido muscular sob a pele. O sinal EMG é gravado imediatamente, não é trabalhoso e é sensível a pequenos movimentos musculares que podem não ser visíveis mesmo para olhos treinados. Uma desvantagem é que a EMG é altamente importuna; a aplicação dos eletrodos de superfície deixa os sujeitos cientes da mensuração facial. Outra desvantagem é que a gravação da EMG facial não é específica em termos musculares, mas sim regionalmente específica, e ainda não é certo se a EMG permite a diferenciação de tantas emoções distintas tal como pode ser feito com a mensuração que confia na codificação feita por um observador das ações musculares visíveis. 
¹ Título original: Facial Expression and Emotion 
² Termo original: Cross-cultural research 
³ Termo original: Display rules

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Escrito por Vinícius F. Borges

Psicólogo, graduado pela Universidade Federal de Uberlândia (MG). Atualmente, é aluno-pesquisador do programa de Mestrado em Análise do Comportamento da Universidade Estadual de Londrina (PR), onde desenvolve pesquisas sobre o comportamento facial humano. Trabalha paralelamente com tratamento e prevenção psicológica (abordagem analítico-comportamental) e realiza processos de treinamento e seleção profissional sob demanda.

Vida Eterna

II Encontro do Sudoeste Goiano de Análise do Comportamento – Jataí/GO