Resumo – VII JAC Salvador 2011

A VII JAC Salvador contou tanto com a presença de temas clássicos na Análise do Comportamento quanto com comunicações sobre assuntos inovadores na área. Foram três dias muito gratificantes para quem conhece, para quem está iniciando e para quem se interessa pela Análise do Comportamento. A seguir, um resumo das palestras e minicursos apresentados nos três dias do evento.

Primeiro dia – Minicursos
Meio século do livro Verbal Behavior de B.F. Skinner: contribuições à compreensão da criatividade e genialidade humana (Martha Hübner – USP/SP)
Martha, uma das maiores autoridades no estudo do Comportamento Verbal no Brasil, fez um elegante tributo a um dos livros mais fundamentais do Behaviorismo Radical, considerado pelo próprio Skinner como o seu mais importante trabalho – tributo que foi também um resgate, já que o Verbal Behavior é um livro pouco lido no Brasil, além de mais conhecido pela famosa polêmica com as críticas de Noam Chomsky do que propriamente pelo seu conteúdo. Além da apresentação do livro, Martha fez uma passagem pelas pesquisas na área de Comportamento Verbal que foram e vêm sendo produzidas, falou de alguns conceitos fundamentais desse tipo de estudo e fez análises muito interessantes sobre comportamentos criativos (focando em música e poesia), e de comportamentos relacionados ao humor.
Como fazer análise de contingências na clínica comportamental (Ana Lúcia Ulian – UFBA /IBAAC-BA)
Ana Lúcia apresentou um tema caro a todo terapeuta comportamental, que é a análise de contingências na clínica. Mais do que mostrar o passo-a-passo e as pesquisas que fez sobre a formação de analistas do comportamento em estágio clínico, destacou a importância da prática contínua – por mais que se ofereçam modelos e regras, nada substitui o contato direto com as contingências.

Segundo dia – Palestras
A análise do comportamento no Brasil e no mundo: breve histórico e desenvolvimento crescente da área (Martha Hübner – USP-SP)
Martha, na condição de presidente da ABPMC (Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental) e representante internacional da ABAI (Association for Behavior Analysis International), apresentou um panorama geral do desenvolvimento da Análise do Comportamento. Foram apresentadas as ações da ABAI que buscam disseminar e promover o conhecimento em AC, como as delegações internacionais (que visitam países onde a AC ainda não se desenvolveu para apresentar a abordagem) e as publicações e sociedades de fomento à pesquisa. Martha também falou do início da história da AC no Brasil, tendo como marco histórico inicial a vinda do prof. Fred Keller (1899-1996) à USP, e como importante passo para seu desenvolvimento a criação da ABPMC em 1991, pelo Dr. Bernard Rangé. Hoje, o Brasil é a maior potência em AC fora dos EUA.
A intervenção comportamental no autismo (Juliana Godoi Fialho – Núcleo Gradual-SP)
Juliana apresentou um panorama bastante completo sobre o autismo e as intervenções comportamentais que são feitas quanto ao transtorno. Ela falou das diferenças entre o modelo médico e o comportamental para diagnóstico, além das bases para o tratamento, focadas na análise de contingências. Juliana apresentou os diversos instrumentos que já existem para auxiliar no tratamento do autismo: testes padronizados, formas de análise funcional focadas no que mantém os comportamentos relacionados ao transtorno e intervenções de ensino voltadas para a aquisição, manutenção e generalização de novos repertórios comportamentais.
Terapia Comportamental em Grupo aplicada à crianças que apresentam dificuldade de aprendizagem (Simone Calatrone – CAPSia-SSA)
Simone palestrou sobre terapia comportamental infantil em grupo, baseando-se na sua experiência com um grupo construído por ela de crianças com dificuldade de aprendizagem em um CAPSia local. A terapia proposta baseia-se na construção de repertórios comportamentais mais adaptativos, e o grupo se configura como um “pequeno laboratório” por produzir situações muito semelhantes ao ambiente natural das crianças na escola, dando a oportunidade de trabalhar questões ligadas a essas contingências. O grupo de Simone contou também com o trabalho com pais e professores das crianças, parte importante do ambiente delas. A terapia realmente mostrou resultados, ampliando o repertório das crianças quanto à realização das tarefas escolares e a relação com a escola como um todo.
A produção de variabilidade comportamental e sua extensão para outras tarefas em crianças com desenvolvimento atípico (Juliana Godoi Fialho – Núcleo Gradual-SP)
Juliana apresentou os resultados de um experimento feito como parte de sua dissertação de mestrado, onde se buscava responder se a variabilidade comportamental poderia ser de fato produzida em autistas e se, a partir de uma tarefa proposta com esse intuito, a variabilidade poderia ser generalizada para tarefas com topografia semelhante e/ou diferente. O estudo produziu resultados bastante interessantes, demonstrando que em geral a variabilidade pode ser produzida, mas é mais generalizada para tarefas de topografia semelhante que de topografia diferente, além de levantar questões sobre o papel do reforçamento da variabilidade comportamental nessa produção – e de como tais resultados podem fomentar intervenções nesse sentido com pessoas portadoras do autismo e outros TIDs que tem a estereotipia comportamental como característica.
Coaching, uma nova área para o Analista do Comportamento? (Alda Marmo – Núcleo Paradigma-SP)
Alda apresentou uma área pouco conhecida de aplicação da Análise do Comportamento, a do coaching. O coaching se parece com a terapia, no entanto, é mais focada para o alcance de objetivos preestabelecidos entre cliente e coach em um período mais curto de tempo. O coaching é bastante conhecido no mundo organizacional, embora também possa ser aplicado à vida pessoal em alguns casos. O coach analista do comportamento, então, irá analisar as contingências da vida do cliente que impedem a realização destes objetivos, promovendo o autoconhecimento e possibilitando o alcance de metas.
Terceiro dia – Palestras
Contribuições da Neuropsicologia para o tratamento Analítico Comportamental do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (Sandro Iêgo – IBAAC-BA)
Sandro falou sobre o tratamento da Análise do Comportamento para o TOC, apresentando o modelo psiquiátrico e as divergências com o modelo da AC. A Análise do Comportamento enxerga o TOC como, em geral, um conjunto de comportamentos respondentes (ligados à sensação de ansiedade experienciada no transtorno) e operantes (majoritariamente ligados à remoção do estímulo aversivo que causa essa ansiedade, além de possíveis contingências de reforçamento positivo). A aquisição do TOC se dá por diversos processos, tanto por contingências diretas e acidentais (como as que produzem o comportamento supersticioso) como por modelos e comportamento guiado por regras. A neuropsicologia tem demonstrado que estudos de memória com pessoas portadoras do distúrbio parecem ter dificuldade para controlar impulsos, bem como confiam pouco na própria memória (o que ocorre no caso dos chamados checkers, aqueles que conferem algo que foi feito várias vezes). A terapia vai proporcionar o contato sistemático e gradual com as contingências nas quais o paciente costuma ter respostas de esquiva, possibilitando então a modificação desses comportamentos.
Uma interpretação comportamental do papel das emoções no comportamento econômico (Diogo Seco – UFS-SE)
Diogo falou dos estudos sobre emoções e suas relações com o comportamento econômico. Muitas teorias mais antigas sobre emoções e economia colocam as duas em pólos opostos, com a economia fazendo parte do domínio da “razão”, mas isso vem mudando, sendo finalmente considerado o papel das emoções como imbricadas em comportamentos relacionados à economia. Com isso, Diogo apontou estudos já existentes sobre o assunto e desafios para a Análise do Comportamento nessa área, ainda pouco explorada.
Sustentabilidade, Comportamento Humano e o Futuro das Culturas (Ângelo Sampaio – UNIVASF-BA/PE)
A palestra de Ângelo trouxe um tema bastante em voga e, não por acaso, de destaque no XX Encontro da ABPMC neste ano: a sustentabilidade. Ângelo falou de um aspecto da sustentabilidade que é frequentemente esquecido quando se tratam de políticas públicas – o estudo do comportamento humano e de como promover comportamentos que favoreçam não apenas a sobrevivência do indivíduo, mas da espécie e do grupo, que por sua vez garantirão melhores condições de vida para todos. A área de estudos de Práticas Culturais na AC, embora ainda jovem, fornece bastante subsídio para o desenvolvimento de tecnologias que possam, enfim, nos ajudar a permanecer no mundo.
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Agradecimentos:
  • Aos profissionais entrevistados durante o evento: Profª. Martha Hübner, Profª. Ana Lúcia Ulian e Prof. Ângelo Sampaio. Todos foram muito simpáticos e solícitos em conceder um pouco do seu tempo para responder às minhas perguntas. Muito obrigada!
  • Às minhas amigas que funcionaram como meu staff jornalístico: Inis Leahy, Pétala Guimarães e Roberta Leone. ;) Valeu pela ajuda, meninas… sem vocês teria sido muito mais difícil! Infelizmente, perdemos as fotos tiradas por Inis durante o evento por problemas técnicos que fugiram ao nosso controle. Mas, de qualquer forma, a ajuda foi muito valiosa.
  • A toda a Comissão Organizadora do evento, que sempre esteve pronta a me responder e auxiliar no que foi preciso. Agradeço muito.
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Escrito por Aline Couto

Tem 22 anos e reside em Salvador, BA. Formada em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Durante o curso, aproximou-se da Análise do Comportamento, da Psicologia Cognitivo-Comportamental e da Neuropsicologia. Participou de grupos de pesquisa sobre Neuropsicologia Clínica e Cognitiva e Análise do Comportamento e Cibercultura na sua faculdade, além de grupos de estudo sobre Behaviorismo Radical.

[Entrevista Exclusiva] – Profª Ana Lúcia Ulian (VII JAC Salvador)

Terra fértil para o cultivo de novos neurônios