[Entrevista Exclusiva] – Profª Martha Hübner (VII JAC Salvador)

Mais uma entrevista exclusiva para o Comporte-se, desta vez com a Profa. Martha Hübner, presidente da ABPMC e referência nos estudos em Comportamento Verbal e Educação no país. Martha falou sobre o fortalecimento da Análise do Comportamento no Brasil e no Nordeste, que sediará o próximo encontro anual da ABPMC. Foi um prazer entrevistá-la, e o resultado vocês podem ver a seguir.
AlinePara começar, eu gostaria que você falasse um pouco sobre sua experiência como presidente da ABPMC. Quais foram seus principais desafios e conquistas?

Martha Hübner – Ótima pergunta. A ABPMC, até então, era muito bem sucedida em fazer grandes eventos: grandes congressos e congressos muito organizados. Ela era um fórum de reunião dos Analistas do Comportamento. Faltava uma maior inserção junto aos órgãos de fomento à pesquisa e organização de eventos científicos. Faltava uma maior inserção política no país e outros projetos que fossem além da organização do evento anual.
A gente deu início a uma representação política oficial; ou seja, todas as questões relativas à Análise do Comportamento no Brasil, fossem elas polêmicas, fossem críticas, fossem rumos a serem definidos, a ABPMC tomava uma posição oficial e divulgava isso em cartas abertas. Assim, a ABPMC passou a nos representar. Junto aos órgãos de fomento, já havia uma pequena inserção desde 2003 do pessoal de Londrina, quando a Zilá entrou para o CNPQ. Depois nós tomamos isso como uma prática sistemática e então, todos os anos os órgãos de fomento (CNPQ, FAPESP e CAPES) apóiam oficialmente a ABPMC.
E em nossa gestão, com grupo composto por Denis, Roberto, Sônia Meyer, Ricardo Martone, Roberta Kovac e eu, a ABPMC começou a desenvolver projetos para à comunidade, então chamados de ABPMC Comunidade. Eles tem duas vertentes: um foi ligado a transtornos psiquiátricos, que já realizou um evento em Foz do Iguaçu, e outro ligado à educação, que se chama “10 na vida e na escola”. A professora Mirian Marinotti já foi a Foz do Iguaçu também, e ontem houve a palestra na Pestalozzi na área de autismo. Esta é uma ação importante: a ABPMC durante o ano já está realizando outras atividades ao longo do ano, além do congresso. As publicações, já vem de iniciativas anteriores. Então, na minha presidência, foi principalmente a questão da representação.
AComo surgiu a idéia de realizar junto a XX ABPMC o I Encontro Sul-Americano de Análise do Comportamento e porque a escolha do Nordeste para sediar o evento?

MH – Vamos começar pelo Nordeste. A ABPMC representa nacionalmente a Análise do Comportamento, mas ela tem se centrado muito, geograficamente, no Sudeste, até pela sua própria origem, pelo número de sócios e membros frequentadores do congresso serem oriundos do Sudeste e Sul do País, sobretudo do Sudeste.
Então, a gente começou a sentir necessidade de a ABPMC caminhar pelo Brasil. Ela já tinha ido ao estado do Paraná, que ainda é na região Sudeste-Sul, e a gente precisaria e gostaria de vir ao Nordeste. Nada melhor do que Salvador na Bahia, que é um dos estados que tem lutado bastante pela Análise do Comportamento, feito grandes eventos, tem organização para isso. Então, é uma grande honra, uma grande alegria, trazer a ABPMC para o Nordeste. Que esta seja a primeira de muitas.
A questão do Sul-Americano é porque se configurou que o Brasil tem uma posição de destaque no mundo, em relação à Análise do Comportamento, número de participantes e ao trabalho que vem sendo feito. Na América Latina, nós já temos vários outros países que são poderosos também em relação à Análise do Comportamento, mas o Brasil é o líder, então a gente achou melhor assumir esta liderança e fazer o primeiro encontro Sul-Americano com o apoio dos nossos hermanos.

Foi uma iniciativa em que a gente consultou primeiro estes colegas de outros países. Todos eles concordaram. Então a gente acha que é uma forma de consolidar esta liderança e ao mesmo tempo, aumentar o intercâmbio e aumentar a própria Análise do Comportamento na América do Sul.
AEm sua opinião, qual a importância das JACs no Brasil e também aqui no Nordeste, especialmente aqui em Salvador, na difusão do conhecimento em Análise do Comportamento? Qual efeito acha que elas têm exercido sobre a comunidade de Análise do Comportamento no Brasil?

MH – Fundamental. Eu acho que elas tem exercido um papel preponderante na difusão da Análise do Comportamento. É como se elas fossem pilares, que em cada ponto onde surgem, ajudam a sustentabilidade da Análise do Comportamento.
Eu mostrei dados hoje, você viu na apresentação, que mostram que quando a gente soma o número de pessoas que frequentam as Jornadas de Análise do Comportamento em todo o país você tem quase 4000 Analistas do Comportamento se reunindo. Isto é muito forte politicamente e chega a ser do tamanho da ABA, que tem 30 anos a mais do que a gente.
Esse modelo [das JACs] tem se revelado um modelo exclusivamente brasileiro. Não tenho visto esta proposta em outros lugares do mundo. O que vejo em outros lugares do mundo são divisões regionais, mais institucionalizadas, que são menos ágeis e menos dinâmicas do que estes modelos das Jornadas. Então eu acho o modelo das Jornadas de Análise do Comportamento importante, fundamental, ágil, e é um dos pilares da disseminação da abordagem. Sem estes encontros, a disseminação da Análise do Comportamento estaria muito aquém. Veja aqui, em Salvador. A JAC de Salvador é a segunda maior do país e tem se configurado como um polo no Nordeste. A primeira, pioneira, é a de São Carlos.
APara finalizar, você poderia deixar uma dica ou um conselho para os interessados em Análise do Comportamento?

MH – Em um primeiro momento, eu acho que é importante se filiar como sócio à ABPMC. Sem nenhum interesse financeiro aí. É como a Sigrid Glenn coloca: se você quer que um grupo se mantenha, você tem que fortalecer este grupo. Um dos meios de fortalecê-lo, é a associação; pertencer àquele grupo, aquele clã. A ABPMC é uma sociedade científica sem fins lucrativos, que só sobrevive graças à anuidade e seus sócios.
E no Brasil, precisamos ter uma tradição que a gente já vê em outros lugares do mundo, que é uma fidelidade a esta associação. Em nosso temos tido muita instabilidade: as pessoas se associam por causa do congresso e depois não. E como a ABPMC hoje faz muito mais do que apenas o congresso, tem se tornado mais atrativo para os sócios. Essa é uma dica.
A segunda é: estudem, estudem, estudem. A Análise do Comportamento é rica, única e está em constante construção. Então, eu digo que é como ver um bom filme. É um prazer, uma alegria imensa você poder estar sempre estudando a Análise do Comportamento. E sempre mantenha um pé na ciência e um pé na aplicação. Eu acho que você ter sempre estas duas formações, é o ideal. São estas as dicas.
0 0 votes
Article Rating

Escrito por Aline Couto

Tem 22 anos e reside em Salvador, BA. Formada em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Durante o curso, aproximou-se da Análise do Comportamento, da Psicologia Cognitivo-Comportamental e da Neuropsicologia. Participou de grupos de pesquisa sobre Neuropsicologia Clínica e Cognitiva e Análise do Comportamento e Cibercultura na sua faculdade, além de grupos de estudo sobre Behaviorismo Radical.

Petição Contra o Programa “Casa dos Autistas” da MTV

A Casa dos Autistas – Retratação da MTV