Criança Birrenta e Contingências de Reforço

No dia 5 de fevereiro de 2009, a aula de Análise Experimental do Comportamento na faculdade em que sou monitor foi sobre Contingências de Reforço. Um dos exemplos citados pela professora foi um vídeo que mostra um bebê se jogando no chão, chorando e gritando em algumas situações e andando pela casa e olhando em volta em outras.

Como me propús a enviar o vídeo para a turma, aproveito para fazer um breve comentário sobre o que ele mostra, usando os conceitos discutidos em sala de aula.

Quem tiver interesse em assistir o vídeo (o que é importante!), clique na imagem abaixo. Peço para que observem em quais situações a criança chora e em quais situações ela começa a andar pela casa e olhar em volta.

Conseguiu identificar as duas situações? Neste vídeo estão muito claras. Repare que a criança chora apenas quando percebe que o adulto a está observando. Por que isto? Provavelmente, na presença de adultos, no passado este choro produziu conseqüências como atenção, cuidado, etc. Estas conseqüências aumentam a probabilidade dele voltar a ocorrer em situações parecidas. A presença do adulto sinaliza a possibilidade daquelas consequências (atenção, cuidado, carinho, etc) voltarem a ser geradas por meio do choro. Em outras palavras, o choro, o jogar-se no chão e outros comportamentos do gênero, tem a função de obter atenção, cuidados e carinho do adulto.

A estas consequências do comportamento que aumentam sua probabilidade de ocorrência, dá-se o nome de reforçadoras. A estas situações que sinalizam a possibilidade da consequência voltar a ocorrer mediante a emissão do comportamento que a gerou no passado, chama-se estímulo discriminativo.

Como também é possível notar no vídeo, quando o adulto não está observando a criança ela para de chorar. Neste situação (ninguém observando) não existe a possibilidade da criança ganhar a atenção e cuidados que ganhava com este comportamento. O que podemos concluir? Que se este comportamento da criança deixar de receber as consequências citadas, ele irá reduzir de frequência ou até ser extinto (deixar de ocorrer).

Esta redução de frequência e extinção, no entanto, não ocorrem rápida e facilmente. Quanto mais vezes a birra tiver gerado atenção, mais difícil será de extinguí-la (é como se a aprendizagem tivesse sido “mais consolidada”).

Existem alguns “esquemas de reforço” que aumentam ou diminuem ainda mais a dificuldade para que um determinado comportamento seja extinto, mas isto é assunto para outro texto

Quando os pais deixarem de consequenciar desta maneira o comportamento da criança, é provável que ele entre em variabilidade  e aumente a intensidade e frequência momentaneamente. Ou seja: se o choro já não basta para conseguir aquilo que a criança conseguia através dele antes, então ela poderá começar a gritar, chingar, espernear, etc. Se o “volume” podia ser categorizado como 5, ele poderá ser categorizado como 7, 9, 10… Se chorar um pouco não adianta mais, a criança poderá chorar por mais tempo, etc.

Muitos pais não conseguem suportar estes efeitos da extinção e acabam cedendo à birra da criança, o que faz com que ela pare por um momento. Ou seja, a curto prazo resolve, pois a criança faz silêncio, mas a longo prazo isto está apenas a ensinando que se chorar não adianta mais, é preciso apenas gritar, espernear e chingar para conseguir aquilo que conseguia através do choro.

É preciso auto-controle por parte dos pais para passarem por estes efeitos. Se conseguirem, é apenas questão de tempo para que a birra da criança reduza frequência e intensidade, ou até entre em extinção.

* Sobre o uso da palavra “pais”: não são apenas os pais que reforçam estes e outros comportamentos nas crianças, mas quaisquer pessoas que interagem com elas, como irmãos, professores, amigos, colegas de sala, etc.
** Quando a criança chora, é importante verificar se está tudo bem com ela antes de concluir que é uma birra.

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Escrito por Portal Comporte-se

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