Resumos – II Congresso de Psicologia e Análise do Comportamento (CPAC) – Londrina/PR

Abaixo, alguns resumos de trabalhos que serão apresentados no II Congresso de Psicologia e Análise do Comportamento (II CPAC/VI EPAC), que ocorrerá dos dias 24 a 26 de maio de 2012 em Londrina/PR. Mais informações sobre o evento no site, clicando aqui.
Índice de resumos

  1. Programa de intervenção cognitivo-comportamental para redução de riscos cardiovasculares – Ricardo Gorayeb
  2. Eventos privados como eventos relacionais – Alexandre Dittrich
  3. Psicologia do esporte: aproximação entre procedimentos de pesquisa e técnicas de intervenção – Eduardo Cillo
  4. Análise comportamental da dependência de substâncias psicoativas – Elizeu Borloti; Marluce Miguel de Siqueira; Verônica Haydu 
  5. Relações ordinais e produtividade: um roteiro de estudos sobre sentenças e controle contextual – Grauben José de Assis
  6. Algumas contribuições da Psicologia para a Educação – Melania Moroz 
  7. Psicologia do envelhecimento: uma área emergente – Meyre Eiras de Barros Pinto
  8. O que mantém a cultura da psicoterapia? – Roberto Banaco
  9. Educação em valores: uma análise do papel da escola – Solange Mezzaroba
  10. Sexualidade humana: as diferentes possibilidades de sua expressão – Vânia Lucia Pestana Sant’ana
  11. Uma introdução à Teoria dos Quadros Relacionais (RFT) e suas implicações para a clínica analítico-comportamental – Yara Nico
  12. O trabalho conjunto entre Análise Experimental do Comportamento e as Neurociências: uma parceria científica promissora – Maria Helena Leite Hunziker
  13. Uma cultura da sustentabilidade: é possível produzi-la? – Maria Amália Pie Abib Andery

PROGRAMA DE INTERVENÇÃO COGNITIVO COMPORTAMENTAL PARA REDUÇÃO DE RISCOS CARDIOVASCULARES 

Ricardo Gorayeb (Laboratório de Psicologia e Saúde, Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, São Paulo-SP).

As doenças cardiovasculares constituem-se na principal causa de morbidade e mortalidade no país e no mundo, e os fatores psicossociais de risco são importantes em sua determinação. Avaliações efetuadas em pacientes portadores destas enfermidades indicam alterações significativas em aspectos sociais, emocionais e comportamentais, que podem estar contribuindo para redução da adesão ao tratamento médico e para o próprio agravamento da doença. Fundamentado nestas avaliações, foi desenvolvido um Programa de Intervenção, com base teórica cognitivo-comportamental, visando ajudar pacientes cardiopatas a reduzir os fatores psicossociais de risco para agravamento de sua doença. Este programa consistiu de uma avaliação inicial, montagem de grupos, que tinham caráter psicoeducativo e psicoterapêutico, com duração de 12 sessões semanais, de duas horas, com cerca de 10 pacientes cada. Foram abordados os temas autoconhecimento, fatores de risco e de proteção das doenças cardiovasculares, manejo de estresse, resolução de problemas, modificação de comportamentos relacionados a fatores de risco de doenças cardiovasculares. Os grupos foram conduzidos por duas psicólogas (terapeuta e co-terapeuta) que apresentavam os temas e mediavam as discussões grupais, atendendo também ao emergente grupal, ou seja, temas de relevância para os pacientes, trazidos pelos próprios, além de seguir a estrutura de cada sessão. Como estratégias para melhorar o controle dos comportamentos de risco para as doenças cardiovasculares, eram solicitados registros de comportamento. Um Registro Semanal de Atividade Física tinha o objetivo de estimular a prática de exercício físico regular e foi solicitado a todos os participantes a partir da 4ª sessão grupal. Em alguns casos específicos, para os tabagistas que aceitaram a orientação de tentar parar de fumar, era solicitado também o Registro Semanal de Tabagismo, como forma de incentivá-los a controlar a quantidade de cigarros por dia, com o intuito de diminuir o consumo. Na quinta sessão ocorria uma palestra com nutricionista. As sessões psicoterapêuticas, da 9ª à 11ª, tinham como objetivo orientar avaliação de contingências e efetuar treino de resolução de problemas. Estas consistiam em sessões de tema livre, nas quais os participantes traziam queixas pessoais a serem discutidas pelo grupo e pelas terapeutas. A 12ª sessão consistia no encerramento do grupo. A avaliação informal que os pacientes fizeram indica que o procedimento muito os ajudou a controlar os fatores psicossociais de risco para sua enfermidade. Medidas objetivas de aspectos psicológicos, efetuadas antes e depois da realização dos grupos, indicam redução estatisticamente significante destes fatores (ansiedade, de 23,1% para 14,3%; depressão, de 20,9% para 16,5%; aspectos cognitivos da depressão, de 30,8% para 18,7% e estresse, de 51,8% para 39,6%), ressaltando a importância da abordagem dos aspectos psicológicos no tratamento das cardiopatias.
Palavras-chave: Cardiologia comportamental, Intervenção Psicológica, Fatores psicossociais de risco.
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EVENTOS PRIVADOS COMO EVENTOS RELACIONAIS

Alexandre Dittrich (Departamento de Psicologia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba-PR, Brasil) 
Eventos privados são entendidos, na análise do comportamento, como estímulos ou respostas que são observados por apenas uma pessoa – isto é, aquela que emite privadamente as respostas ou é afetada privadamente pelos estímulos. Conforme apontado em várias ocasiões por Skinner, a definição de eventos privados diz respeito à “acessibilidade” ou “observabilidade” de tais eventos – e não a qualquer suposição sobre sua natureza. Teorias psicológicas nomeiam e definem tais eventos de variadas formas (eventos mentais, cognitivos, conscientes, etc.), mas pode-se afirmar com segurança que há um interesse generalizado em seu estudo e compreensão por parte de todas as teorias. Alunos de psicologia tendem, inclusive, a ingressar no curso com a convicção de que o estudo destes eventos constitui o único interesse dos psicólogos. Em parte, essa convicção é estimulada pelas próprias teorias, que tendem a dirigir a atenção dos alunos para o “mundo interno” das pessoas – no qual os eventos, como quer que sejam definidos, ocorreriam de modo parcialmente independente do que ocorre no “mundo externo”. A análise do comportamento vem apontando, de forma cada vez mais enfática, que a distinção entre tais “mundos” é uma construção histórica e cultural, que foi e continua sendo apropriada pela psicologia de forma acrítica, como se fosse algo “natural” aos seres humanos. A chamada “filosofia da mente” incorpora essa distinção, e propõe inumeráveis “problemas filosóficos” derivados de uma suposta distinção ontológica entre eventos “materiais” e “mentais”. Embora tal distinção ontológica seja estranha à análise do comportamento, a distinção entre eventos públicos e privados, na medida em que faz referência apenas à acessibilidade ou observabilidade, permanece útil. Contudo, a distinção precisa ser relativizada, e não deve ser compreendida como propondo uma “barreira” ou “incomunicabilidade” entre eventos públicos e privados. Pelo contrário: dado que estímulos e respostas, sejam públicos ou privados, se definem por suas funções comportamentais, as relações entre eventos públicos e privados são contínuas. A definição do objeto de estudo da análise do comportamento como “relações comportamentais” dá visibilidade a tais processos e à sua natureza dinâmica. Eventos privados fazem parte de relações comportamentais, que inevitavelmente envolvem eventos públicos – em especial, eventos sociais e verbais. As restrições de Skinner a apontar eventos privados como “causas” de respostas públicas são importantes por vários motivos, mas não devem limitar uma análise ampla das funções de tais eventos. Eventos privados podem alterar a probabilidade de ocorrência de respostas públicas, mas as variáveis públicas que explicam a ocorrência dos eventos privados não podem ser desprezadas. Os motivos para isso são pragmáticos, não “ontológicos”.
Palavras-chave: eventos privados, relações comportamentais, análise do comportamento.
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PSICOLOGIA DO ESPORTE: APROXIMAÇÃO ENTRE PROCEDIMENTOS DE PESQUISA E TÉCNICAS DE INTERVENÇÃO
Prof. Dr. Eduardo Cillo (Cursos de Psicologia e Educação Física, Universidade Anhembi Morumbi; Especialização em Psicologia do Esporte e Atividade Física do Núcleo Paradigma, São Paulo – SP, Brasil).
Uma análise breve da literatura específica, em Psicologia do Esporte, aponta para uma grande diversidade de relatos de experiência, não necessariamente acompanhados de estudos que investiguem e deem suporte às intervenções mencionadas. Uma grande parte dos relatos apresentados não descreve de forma suficiente os procedimentos realizados e, também, peca em interpretações teóricas com pouca sustentação empírica e/ou de dados experimentais. Também é bastante frequente encontrar relatos que simplificam as intervenções da psicologia no esporte relacionando-as aos modelos consagrados em outras áreas de aplicação como a psicologia clínica ou organizacional, porém pouco específicos neste campo em especial. Intervenções junto ao esporte de alto rendimento ou à atividade física exigem procedimentos específicos, que podem incluir análises e aconselhamentos típicos da psicologia clínica, ou atividades de dinâmicas de grupo comuns em ambientes empresariais, porém precisam ir além delas. Neste sentido é possível perceber a existência de uma lacuna entre o desenvolvimento aplicado e o acadêmico da psicologia do esporte. A crescente procura por serviços em Psicologia do Esporte é bastante animadora para os profissionais e interessados pela área, porém, faz-se necessário embasar este crescimento com o suporte de procedimentos de pesquisa válidos e eficientes. O grande risco envolvido é o de uma queda de credibilidade deste tipo de serviço aplicado, na medida em que as intervenções não produzam resultados suficientes para os objetivos daqueles que as procuram e utilizam-nas. Em termos práticos a gravidade de tal distanciamento, entre intervenções aplicadas e procedimentos experimentais, aponta para a necessidade de uma revisão sistemática da literatura, em busca de um levantamento que possa esclarecer a comunidade científica em relação à produção realizada acerca dos procedimentos e técnicas mais frequentemente descritos tais como estabelecimento de metas, autofala, prática encoberta e relaxamentos. A busca realizada em periódicos importantes das Ciências do Esporte, no Brasil, mostra que, entre os procedimentos descritos há uma variação importante no que se refere à quantidade e qualidade dos estudos realizados e publicados. Importante dizer que muitas das publicações disponíveis são encontradas em periódicos da área da Educação Física, na medida em que, historicamente, a área se desenvolveu no campo aplicado e acadêmico desta, enquanto a contribuição da Psicologia é bem mais recente. Há diferenças importantes no que tange às bases teóricas e metodológicas da Educação Física e da Psicologia, e estas devem ser consideradas em uma análise da comparação entre as intervenções aplicadas e os procedimentos experimentais de investigação. Adicionalmente deve ser informado que o foco da conferência está voltado para a produção brasileira restrita à Análise do Comportamento.
Palavras-chave: intervenção, psicologia do esporte, procedimento experimental.
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ANÁLISE COMPORTAMENTAL DA DEPENDÊNCIA DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 
Elizeu Borloti (Universidade Federal do Espírito Santo, Programa de Pós-Graduação em Psicologia); Marluce Miguel de Siqueira (Universidade Federal do Espírito Santo, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva); Verônica Bender Haydu (Universidade Estadual de Londrina, Programa de Pós-Graduação em Análise do Comportamento).
Cocaína e crack são substâncias psicoativas de um mesmo grupo: estimulantes do sistema nervoso central. Seus efeitos psicofisiológicos mantêm a dependência pela ativação dos sistemas cerebrais envolvendo dopamina, norepinefrina e serotonina. Portanto, em geral, aumentam habilidades (cognitivas e motoras) e sentimentos (euforia, energia, libido, alerta e autoconfiança). Entretanto, o uso agudo pode gerar inquietude e confusão e aumentar o risco de suicídio, traumas e crimes de violência. Paralela à supremacia do uso do álcool e do tabaco, a prevalência do uso de cocaína e crack no Brasil vem aumentando nos últimos anos. Há 10 anos, o uso de cocaína, ao longo da vida, foi de 2,1%; e o uso de crack foi de 0,4%; mais recentemente (2005) foi de 2,9% e 1,5%, respectivamente. Estes dados têm gerado mudanças nas políticas públicas no Brasil, seguindo uma tendência internacional. Este trabalho tem o objetivo de descrever elementos para uma análise funcional do comportamento na dependência de drogas e  inseri-las na discussão de programas de intervenção psicossocial recomendados pelo Instituto National Institute on Drug Abuse (NIDA-USA) e pela National Agency for Substance Misuse (NASM-UK) para o tratamento do uso de cocaína/crack. A análise funcional do comportamento, somada ao treinamento de habilidades, é o principal componente desses programas. Parte-se da tese de que o modelo de seleção por consequências é a base para o entendimento da dimensão “biopsicossocial” do uso indevido de drogas, defendida pelos seus autores. A análise inicia na descrição do ambiente amplo para o uso indevido (contingências de sobrevivência envoltas ao prazer produzido pelos reforçadores incondicionais naturais [comida, sexo, etc.] e às práticas culturais do uso recreativo e do tráfico, que se apropriaram desses efeitos, aumentados de modo anômalo pelas drogas) e culmina na descrição dos processos básicos da aprendizagem desse uso (operações estabelecedoras dos efeitos de prazer no “circuito cerebral de recompensa”, controles respondentes e condiconamento pavloviano para “fissura”, controle por estímulos antecedentes nos chamados “gatilhos”, “fatores de risco”, “situações potencialmente perigosas” ou “más influências” para a emissão do uso indevido, controle por regras versus controle por contingências na explicação da alta taxa de recaída, pensamentos durante o ciclo de uso, etc). Elementos da análise do controle de estímulo, de operações estabelecedoras e de controle instrucional ao uso são pontuais aos tópicos cobertos pelo programa de intervenção do NIDA-USA (enfrentamento da fissura, modificação da motivação e comprometimento com a parada do uso, habilidades de recusa da droga, redução do risco de DST/AIDS, resolução de problema, gerenciamento de caso, etc.) e/ou NTASM-UK (como a droga age, ciclos e padrões de uso, gatilhos, fissura, conexões com o crime, situações perigosas, prevenção de recaída, etc.). Conclui-se pela importância dos analistas do comportamento do Brasil atuarem em políticas públicas para prevenção e tratamento do uso de drogas, dado: 1) a relevância atual do tema para as áreas da saúde e segurança coletivas e 2) o papel da análise funcional do comportamento nos programas de intervenção psicossocial.
Palavras-chave: dependência química, análise funcional, intervenção psicossocial.
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RELAÇÕES ORDINAIS E PRODUTIVIDADE: UM ROTEIRO DE ESTUDOS SOBRE SENTENÇAS E CONTROLE CONTEXTUAL
Grauben José Alves de Assis (Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal do Pará, Belém, PA).
O objetivo do trabalho será apresentar um programa de pesquisa sobre a formação de classes ordinais. A ordem que os eventos ambientais exercem e selecionam uma sequência comportamental é crucial em vários desempenhos: por exemplo, na linguagem (uma criança ordena várias palavras formando novas frases de acordo com a sua estrutura sintática), na matemática (um aluno fala uma nova série numérica após um longo treino de contagem), na música (um músico toca novas escalas musicais com base em notação na partitura, sem qualquer treino adicional). Esses são exemplos de comportamentos complexos que ocorrem em sequência. Todos os estudos apresentados utilizaram procedimentos informatizados (PROLER) no ensino por sobreposição de palavras. A pesquisa foi conduzida no Laboratório de Estudos do Comportamento Complexo, na Universidade Federal do Pará e escolas públicas. Resultados de duas comunicações serão apresentados, além de projetos em andamento no ensino de leitura de sentenças no contexto da Análise do Comportamento. Utilizou-se do paradigma de equivalência de estímulos sequenciais, a partir do qual, os pesquisadores investigaram com diferentes procedimentos de ensino e de testes, o estabelecimento de comportamentos simbólicos. No Estudo 1, investigou-se os efeitos do ensino por sobreposição de palavras sobre a produção de sentenças na voz ativa e passiva. Seis alunos com histórico de fracasso escolar foram submetidos aos procedimentos de ensino e testes, com duas sentenças na voz ativa e duas na voz passiva. Sentenças na voz ativa e passiva foram relacionadas condicionalmente às cores verde e vermelha, respectivamente. Testes de substituibilidade verificaram o controle condicional sobre novas sentenças. Todos os participantes aprenderam as sentenças. Nos testes de substituibilidade, um participante alcançou 87,5% de acertos, dois obtiveram 75% e para os demais, a porcentagem foi mais reduzida. Um segundo estudo foi conduzido com três dos seis participantes do Estudo 1, aumentando-se os critérios de aprendizagem da linha de base condicional antes da aplicação dos testes de substituibilidade. Dois dos três participantes apresentaram um responder apropriado nos testes de substituibilidade. Os resultados dos testes indicaram a emergência de controle condicional sobre respostas de construção de novas sentenças. Um outro estudo (Estudo 2) conduzido com oito alunos, com idade entre 6 e 10 anos, também com histórico de fracasso escolar, os autores avaliaram o efeito da ordem de treino sobre a produção de sentenças com cinco e seis palavras. No grupo 1, todos eram expostos ao procedimento de ensino com sentenças ensinadas na ordem de configuração de voz ativa (cinco palavras) passiva (seis palavras); no grupo 2 na ordem de configuração de voz passiva/ativa. Os resultados indicaram que todos os participantes responderam as sentenças sintaticamente corretas, corroborando a literatura sobre a eficácia do procedimento de ensino por sobreposição de palavras; os participantes do Grupo 1 apresentaram um responder condicional mais consistente com a linha de base adotada. Portanto, fazem-se necessários refinamentos do procedimento para maximizar a frequência de respostas corretas e assegurar a manutenção do desempenho. Estudos em andamento envolvem uma revisão cuidadosa dessa área e um conjunto de manipulações experimentais de procedimentos de ensino sobre sentenças.

Palavras-chave: Relações ordinais, sentenças, comportamento simbólico.

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ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA PARA A EDUCAÇÃO
Melania Moroz (Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Psicologia da Educação – NEPEN – Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre o Ensino – PUC-SP)
Pode-se considerar o sistema educacional como um dos setores fundamentais das sociedades na contemporaneidade. Tal sistema foi sendo constituído, durante a evolução das sociedades, tendo por finalidade precípua compartilhar entre seus membros – e transmitir para as novas gerações – os conhecimentos, as técnicas, as habilidades, os valores, enfim, aquilo que, ao longo da história das sociedades, foi produzido e deve ser mantido. Pode-se dizer que tal sistema teria, idealmente, a função prioritária de preparação das novas gerações em relação ao que é necessário para manter a sobrevivência da sociedade e, assim sendo, prepara a própria sociedade para atuar, de forma mais eficiente, com os problemas com os quais venha a se defrontar no futuro. Para cumprir este papel de preparação das novas gerações, as escolas foram criadas; se na história da humanidade por muito tempo inexistiam, já que sua institucionalização ocorreu em tempos relativamente recentes, hoje não se concebe uma sociedade sem escolas. É da educação que ocorre no contexto escolar que se fará referência na presente reflexão, focalizando-se especificamente o período que vai até o Ensino Médio, por se tratar daquele que prepara as bases para a formação profissional. Tomar-se-ão como elementos de análise algumas informações decorrentes de dados oficiais, produzidos por diferentes agências avaliativas, sobre o desempenho dos alunos em diferentes níveis de ensino e áreas do conhecimento, bem como sobre características da população escolar nos diferentes níveis de ensino. Ainda, como elementos de análise, serão focalizadas algumas facetas que caracterizam a atuação de diferentes profissionais da educação – sejam gestores da escola (direção, coordenação pedagógica etc.) sejam gestores da sala de aula (professor) –, identificando-se problemas com os quais se defrontam em sua atuação nas instituições educacionais em nosso país. A Educação é, pois, um campo fértil de questões; considera-se que as respostas, se muitas vezes não podem ser dadas exclusivamente pela Psicologia, já que por sua complexidade envolvem o diálogo entre diferentes áreas de conhecimento, podem, mais do que isso devem, ter sua contribuição. Mesmo se admitindo que a Psicologia seja, na atualidade, uma área de conhecimento na qual a unificação teórica não está presente, já que convivem diferentes abordagens, com diferentes visões sobre a especificidade de seu objeto de estudo, com o apoio de tais elementos de análise procurar-se-á delinear algumas contribuições da Psicologia para a Educação, isto é, serão pontuadas algumas das possibilidades que estão abertas, no campo educacional, para a atuação de psicólogos.

Palavras-chave: Educação, instituições educacionais, atuação de psicólogos.
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PSICOLOGIA DO ENVELHECIMENTO: UMA ÁREA EMERGENTE
Meyre Eiras de Barros Pinto (Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina, PR)
A Psicologia do Envelhecimento é uma área que vem experimentando grande florescimento no exterior, nos últimos 35 anos, principalmente porque o envelhecimento populacional vivido pelos países de conhecimento científico, como a Alemanha, a França, a Inglaterra e os Estados Unidos, propiciou oportunidades aos cientistas, para observar, muitas vezes através de sua própria experiência, alguns fatos relevantes para a emergente psicologia do envelhecimento. No Brasil, ela ainda permanece incipiente. Raros cursos de graduação e pós-graduação em psicologia exibem assuntos ligados a essa área no rol de suas disciplinas, além de não considerarem que a população idosa vem crescendo aceleradamente e, segundo projeções, o Brasil será o sexto país do mundo em números de idosos – pessoas com 60 anos ou mais- em 2020/25. Só bem recentemente, no contexto brasileiro, é que o processo de envelhecimento e a heterogeneidade da velhice têm se constituído em um dos temas desafiadores à Psicologia enquanto “ciência do comportamento e dos fenômenos mentais”, principalmente após a segunda metade do século XX. As várias subdisciplinas básicas e aplicadas da Psicologia, tais como a Psicologia do Desenvolvimento, a Psicologia Social, a Psicologia Clínica e a Psicologia do Trabalho e das Organizações, ainda estão em processo de revisão, ampliação e modificação de paradigmas, metodologias de pesquisa e formas de atuação para responder a esse objeto de conhecimento e intervenção. Neste contexto, destacam-se as contribuições advindas da consolidação do campo da Psicologia do Envelhecimento à luz do paradigma lifespan, que tem lançado os fundamentos para os saberes ligados às questões dos idosos, da velhice e do processo de envelhecer e, ao mesmo tempo, tem promovido e se alimentado de um maior diálogo com as demais subdisciplinas teóricas e campos de aplicação da Psicologia. Como efeitos desses avanços, outros campos do saber, tais como a Gerontologia, têm podido se apropriar e se beneficiar do saber psicológico, pois, em conjunto com a Biologia e Sociologia, a Psicologia é uma das ciências que compõem seus pilares. Uma revisão da importância da consolidação do campo teórico da Psicologia do Envelhecimento e de suas implicações práticas para as intervenções em Psicologia e Gerontologia será apresentada. Tendo em vista que, o interesse da psicologia sobre a velhice é relativamente recente, alguns questionamentos devem ser feitos: Se, o homem passa a maior parte de sua existência como adulto, não parece estranho que conheçamos muito menos sobre o desenvolvimento psicológico na vida adulta e na velhice do que nas outras fases do curso de vida? Por que a vida adulta e a velhice só começaram a ser estudadas sistematicamente no final dos anos 50, quando a teorização e a pesquisa sobre a infância já tinham meio século de existência? Que razões de natureza social somaram-se às científicas para produzir a grande expansão do conhecimento sobre a idade adulta e a velhice nos últimos anos? Olhando para esta realidade, no Brasil a Psicologia do Envelhecimento é uma área emergente, acompanhando o processo de envelhecimento populacional e o aumento da consciência social sobre as questões da velhice.
Palavras-chave: envelhecimento; psicologia do envelhecimento; gerontologia.
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O QUE MANTÉM A CULTURA DA PSICOTERAPIA? 
Roberto Alves Banaco (Núcleo Paradigma de Análise do Comportamento e PUC-SP, São Paulo-SP)
A análise do comportamento aplicada é a origem de procedimentos que aplicados à pratica clínica receberam nos Estados Unidos o título de “clinical behavior analysis” e no Brasil “terapia analítico-comportamental”. Esta nova nomenclatura se fez necessária quando os analistas do comportamento procuraram incorporar aos procedimentos de controle de contingências, os conhecimentos gerados pelo estudo do comportamento verbal, assumindo sua utilização na prática de gabinete e/ou em ambiente natural. Os estudos aplicados sobre o comportamento verbal geraram também o que se denomina como terceira onda da terapia comportamental. Várias vertentes dessa modalidade de trabalho parecem ter adquirido “vida própria” e procuraram se destacar do movimento geral da análise do comportamento aplicada. Por outro lado, estudos sobre contingências entrelaçadas ampliaram o conhecimento e as possibilidades de interpretação de como o comportamento verbal em clínica de gabinete (e mesmo fora dele) pode modificar repertórios não verbais dos clientes. Trabalhos a respeito de processo terapêutico que se declara “inclusivo” (por se continuar utilizando dos vários conhecimentos já obtidos pela aplicação de técnicas respondentes e operantes) têm demonstrado como partes dos comportamentos dos clientes são facilitadas por meio de classes verbais de terapeutas analítico-comportamentais. Este trabalho enfocará algumas dessas classes verbais que operam na manutenção da relação terapêutica, tomando por base os efeitos que elas produzem em respostas do tipo “solucionar problemas” por parte dos clientes. Essencialmente serão analisadas as respostas verbais do terapeuta: “Empatia”, “Solicitação de relato”, “Interpretação” e “Solicitação de reflexão”. As respostas do cliente analisadas serão “Relato”, “Metas”, “Estabelecimento de Relações” e “Melhora”. Estas categorias de respostas verbais entrelaçam-se de maneira que ao se falar de comportamento social já foi categorizada como de “Troca recíproca”, ou seja, respostas de uma classe do terapeuta estabelecem-se com funções reforçadoras para classes de respostas do cliente e vice-versa. Obviamente outras contingências de suporte operam sobre essas relações, mantendo-as também, amplificando a complexidade da análise possível. Assim, quando a mudança do comportamento atinge a “melhora” ou a “meta” estabelecida, também produz um efeito sobre a manutenção da relação terapêutica pelo menos enquanto busca da solução de outros problemas presentes ou vindouros. É a melhoria da qualidade de vida dos clientes e dos terapeutas que em última análise virá a ser o produto agregado da prática cultural. No entanto, sem que essas relações recíprocas sejam mantidas, a prática cultural não poderia ser obtida.

Palavras-chave: Relação terapêutica, contingências entrelaçadas, comportamento verbal.
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EDUCAÇÃO EM VALORES: UMA ANÁLISE DO PAPEL DA ESCOLA
Solange Maria Beggiato Mezzaroba (Departamento de Psicologia Social e Institucional. Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR)
O mundo contemporâneo é palco de mudanças drásticas tanto no âmbito das instituições tradicionais (família, escola trabalho) como nas relações pessoais e interpessoais. Tais mudanças têm origem na intervenção avassaladora e sem retorno dos avanços científicos e tecnológicos o que refletem nos valores tradicionais que orientavam os relacionamentos. As regras, normas e valores necessários para o equilíbrio e bem estar de todos se vêm estremecidas e/ou modificadas, o que leva diferentes segmentos a afirmarem que vivemos numa crise de valores ou mesmo a destituição destes. O ambiente escolar é diretamente afetado por estas transformações. Pais e mães, nas novas conformações familiares, a fim de atender suas necessidades básicas se vêm compelidos a assumirem jornadas de trabalhos extensivas e exaustivas os impedindo de uma atenção a todos os aspectos do desenvolvimento de seus filhos, incluindo as atividades escolares. Neste contexto a escola, além de realizar suas tarefas acadêmicas tem que tomar para si a tarefa de educar em valores. Nem sempre a instituição escolar acredita ser este um papel a ser por ela desenvolvido, haja vista, a ausência de atividades com este objetivo. Os Parâmetros Curriculares Nacionais documento oficial que sistematiza propostas de intervenção transversal sobre ética e valores, não são adotados no estado do Paraná, no discurso de muitos gestores educacionais as questões de Educação Moral já estariam contempladas nas Diretrizes Curriculares, próprias do estado. Uma análise das mesmas, no entanto, aponta que tal não ocorre como Tema Transversal, mas estão reduzidas à disciplina de Ensino Religioso no sexto e sétimos anos, que dispõe sobre aspectos teóricos do tema. Tal postura em muito se distancia do que seria um trabalho de Educação Moral que, segundo nossa compreensão, deveria ocorrer pela criação de espaços não coercitivos, de valorização dos sentimentos e opiniões de todos, por intermédio do estímulo à reflexão e à argumentação, do estabelecimento de uma relação de respeito mútuo. Ao não se ver com a responsabilidade de educar sistematicamente para a cooperação, solidariedade e uma convivência mais pacífica a escola deixa que estas questões caiam no espontaneísmo ficando a critério de cada educador que medida tomar diante conflitos e situações de violência que ocorrem em suas salas de aula. Acreditamos ser sim, uma tarefa da escola propiciar a educação em valores a seus estudantes devendo tal tarefa ser realizada de forma sistemática, planejada e por todos os educadores presentes na escola, sejam eles professores, gestores ou outros colaboradores. Se quisermos deixar a posição de espectadores da tão propalada crise de valores devemos assumir nossa responsabilidade ampliando o debate, aproximando as instituições produtoras do saber teórico e cientifico da realidade cotidiana das escolas.
Palavras-chave: autonomia, educação moral, intervenção.

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SEXUALIDADE HUMANA: AS DIFERENTES POSSIBILIDADES DE SUA EXPRESSÃO
Vânia Lucia Pestana Sant’Ana (Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Psicologia, Unidade de Psicologia Aplicada, Maringá, PR)
A sexualidade humana tem sido objeto de estudos há muito tempo e em uma retrospectiva histórica pode-se perceber que as formas como tem se expressado varia de cultura para cultura e também de acordo com a época em que se apresenta. Pode-se afirmar que a forma como uma resposta sexual e apresentada depende dos mesmos processos pelos quais as demais respostas de um organismo são adquiridas e mantidas, ou seja, estão relacionadas aos três níveis de seleção propostos por Skinner. Assim, tem-se que o comportamento sexual em seus aspectos biológicos e de reprodução e determinado pelas variáveis filogenéticas do mesmo modo que a maneira que o comportamento sexual assume para ser expressa esta diretamente relacionada às variáveis ontogenéticas. A filogênese pode ter selecionado comportamentos sexuais em função de estes terem sido uteis tanto para o próprio individuo quanto para sua prole podendo ter sido selecionados padrões em função das vantagens evolutivas para a espécie humana. No nível ontogenético, reforçamento positivo e negativo, generalização, imitação e punição de padrões sexuais de acordo ou divergentes dos padrões sócio culturais vigentes podem ter levado a uma aparente padronização das respostas sexuais entre os indivíduos pertencentes a uma mesma cultura ou a culturas com regras semelhantes para a expressão da sexualidade. No entanto, este controle cultural parece ter sido insuficiente para impedir que variações de tais respostas sexuais surgissem ao logo do tempo e em cada uma das culturas existentes desde a remota historia da espécie humana ate os dias atuais. Na tentativa de explicar tal variação existem pesquisas que concluem sobre a relevância das primeiras experiências com caráter erótico ocorridas no inicio da adolescência como sendo um fator determinante da orientação sexual e pode-se inferir que estes mesmos fatores – idade e caráter erótico da atividade sexual – estariam na base da definição das demais formas de expressão da sexualidade, embora algumas categorias de comportamento transgênero pareçam sofrer influência de estímulos mais sutis em idades não tão claramente delimitadas. Considerando que a sexualidade permeia importantes relações nas atividades cotidianas desempenhadas por cada individuo, entender como a expressão da resposta sexual foi adquirida e como se relaciona com os demais comportamentos emitidos nos diferentes contextos, aos quais cada pessoa está exposta pode levar a uma maior compreensão tanto das variáveis relacionadas à sexualidade da maioria das pessoas quanto daquelas pessoas com respostas sexuais diferentes ou de baixa frequência na população em geral e, também, das formas de aquisição e manutenção das disfunções sexuais.

Palavras-chave: sexualidade humana, aprendizagem, disfunção sexual.

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UMA INTRODUÇÃO A TEORIA DOS QUADROS RELACIONAIS (RFT) E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A CLÍNICA ANALÍTICO COMPORTAMENTAL
Yara Nico (Instituto Paradigma – SP, Brasil)
A Teoria dos Quadros Relacionais (RFT) vem sendo desenvolvida desde início dos anos 90 e se origina dos estudos sobre Equivalência de Estímulos e Comportamento Verbal. A RFT tem como objeto de estudo o responder relacional arbitrariamente aplicável (RRAA), operante generalizado de relacionar estímulos arbitrários. Esse operante é diretamente aprendido via treino de múltiplos exemplares. A aquisição do RRAA começa com a abstração de relações físicas entre estímulos: um objeto é maior que outro; algo está abaixo de outra coisa; um evento ocorre antes que outro… No ensino desse operante, a comunidade verbal fornece dicas contextuais que sinalizam qual a relação entre os estímulos que será critério para o reforçamento: “pega a bola igual a essa”; “qual dessas moedas é menor?”. Na medida em que esse operante passa a ser contextualmente controlado, a dica contextual pode ser utilizada pela comunidade (e posteriormente pelo próprio sujeito) para relacionar estímulos sem que exista qualquer propriedade física na base da relação entre eles. Por exemplo, a dica contextual “igual a” pode ser então aplicada pela comunidade para estabelecer relações arbitrárias entre estímulos: bom “é igual a”, good e bueno ou felicidade “é igual a” contato com natureza ou “igual a” sucesso e dinheiro. A comunidade verbal ensina também seus membros desde pequenos a implicarem mutuamente e combinatoriamente os estímulos relacionados. Então, por exemplo, ensina que se A é maior que B, B é menor que A (implicação mútua); se A vem antes que B e esse antes que C, logo C vem depois de A e A vem antes que C (implicação combinatória). Depois de um treino extensivo, diante de quaisquer pares de estímulos arbitrariamente relacionados o sujeito será capaz de implicá-los mútua e combinatoriamente sem que seja preciso a liberação de reforço por outro indivíduo naquele momento. Ocorre então a derivação de relações não diretamente aprendidas (relações derivadas) constituindo-se, assim, como um operante de ordem superior. Será apresentada uma introdução aos conceitos centrais dessa teoria: o responder relacional com um tipo de abstração contextualmente controlada; os diferentes tipos de relações arbitrárias especificados em cada Quadro Relacional (coordenação; oposição; comparação; hierárquico; temporal; espacial; deítico); as características desse operante (implicação mútua, implicação combinatória e transformação de função) e dados empíricos que embasam essa teoria. Tais conceitos e dados empíricos servem de base para compreender fenômenos clínicos que se originam de processos simbólicos. Além disso, permitem a elaboração de novos entendimentos para a questão “como a “conversa” entre Terapeuta e Cliente pode produzir mudanças na vida do Cliente?”
Palavras-chave: quadros relacionais, terapia analítico comportamental, análise do comportamento.
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O TRABALHO CONJUNTO ENTRE ANÁLISE EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO E AS NEUROCIÊNCIAS: UMA PARCERIA CIENTÍFICA PROMISSORA
Maria Helena Leite Hunziker (Departamento de Psicologia Experimental – USP).
A Análise Experimental do Comportamento, ciência que decorre do Behaviorismo Radical proposto por B. F. Skinner, vem desde seus primórdios dialogando com as ciências biológicas. Apesar de serem ciências independentes entre si, elas sempre andaram paralelas, com alguns intercruzamentos que se revelaram altamente benéficos a uma e outra. Como exemplo, o condicionamento respondente, identificado pelo fisiologista Pavlov, mudou os rumos da Psicologia Experimental no início do século XX. Nos dias atuais, as neurociências têm gerado informações e tecnologias inovadoras, levando alguns autores a questionarem se ela ocupará o lugar da Psicologia. A presente palestra visa discutir que essa fusão entre essas ciências não é o caminho a ser trilhado pelos estudiosos do comportamento, sendo necessária a manutenção da independência entre elas uma vez que os objetos de estudo e os níveis de análise são diferentes. Contudo, elas podem e devem trabalhar de forma complementar, favorecendo a compreensão mais ampla do comportamento. Essa complementaridade torna-se possível dado elas terem pressupostos filosóficos comuns, tais como serem monistas e naturalistas em essência, com a principal diferença que suas análises se dão em diferentes níveis da interação do organismo com o seu ambiente. Ao longo da palestra, serão discutidos dados experimentais de pesquisas realizadas em diferentes áreas inseridas nas neurociências, dentre elas a neurofisiologia (envolvendo estudos sobre o reforçamento do “pensar”), a farmacologia (analisando-se efeitos comportamentais de drogas de ação no sistema nervoso central) e análise do comportamento na perspectiva biocomportamental (com ênfase nos estudos sobre dois modelos animais de depressão, o desamparo aprendido e o chronic mild stress – CMS). Serão discutidas as implicações teórico/conceituais dos experimentos citados, com desdobramentos para o estudo dos estados internos e o uso de modelos animais de psicopatologias. Os experimentos analisados serão aqueles de maior impacto dentre aqueles realizados em diferentes centros de pesquisas, tanto no Brasil quanto no exterior. Espera-se, com essa apresentação, propiciar elementos que favoreçam a análise crítica sobre a relevância da pareceria entre a AEC e as neurociências, suas vantagens e desvantagens, além da revisão de posturas tradicionais que perdem força frente à evolução atual da ciência. Ao final, esperamos concluir que a ampliação dessa parceria poderá contribuir para o avanço do estudo do comportamento, preenchendo lacunas anteriormente inacessíveis ao cientista experimental.
Palavras-chave: AEC; Neurociências; Análise Biocomportamental.
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UMA CULTURA DA SUSTENTABILIDADE: É POSSÍVEL PRODUZI-LA?
Maria Amalia Pie Abib Andery (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo-SP)
Culturas evoluem no sentido de que ambientes sociais geograficamente demarcados e temporalmente estendidos são continuamente transformados. As transformações culturais são produzidas por mudanças nos ambientes físicos, mas são principalmente produzidas pela ação humana. Práticas comportamentais e culturais selecionadas por suas conseqüências para indivíduos e grupos são os processos que promovem a constituição e mudança do que chamamos cultura. A constituição e a transformação dos ambientes sociais não ocorrem independentemente do ambiente físico e impacta o ambiente físico do planeta em processo que parece aumentar vertiginosamente a taxa de mudança de tal ambiente. Desastrosas conseqüências para a própria sobrevivência humana têm sido previstas como resultado das mudanças ambientais que decorrem da ação humana e há crescente preocupação e debate com a questão. Este é o contexto da discussão sobre a importância de seleção de culturas de sustentabilidade, ou seja, de culturas que promovam impacto ambiental que é compatível com a reprodução da vida e das próprias práticas culturais. A emergência e seleção de culturas de sustentabilidade, entretanto, dependem de que práticas já selecionadas por suas consequências para indivíduos e grupos sejam substituídas por outras, as quais não produzirão tais consequências. Assim, para uma cultura e sustentabilidade é preciso promover mudanças, que são de ordem distintas, tais como: (a) ambientes sociais facilitadores da emergência, por variação, imitação, modelação e instrução de novos padrões de ação, (b) ambientes sociais facilitadores da produção de eventos com função selecionadora sobre comportamentos individuais e práticas culturais, (c) ambientes sociais facilitadores da transmissão intra e intergeracional de práticas comportamentais e culturais promotoras de sustentabilidade, (d) ambientes sociais sensíveis às mudanças que são conseqüências de comportamentos individuais e práticas culturais, ou seja, ambientes com capacidade autoreguladora. Além das dificuldades envolvidas em promover a emergência de novas práticas e de aumentar a probabilidade de que variações desejadas sejam selecionadas, a seleção de culturas de sustentabilidade depende de que os padrões comportamentais e as práticas culturais dominantes nas complexas sociedades contemporâneas percam força e prevalência, o que é difícil, uma vez que tais práticas criam elas mesmas os ambientes facilitadores de sua reprodução e expansão. As descrições dos processos comportamentais e culturais relevantes para culturas de sustentabilidade e de suas conseqüências para a sobrevivência dos indivíduos, culturas e do ambiente físico é o primeiro passo na construção de culturas de sustentabilidade. A divulgação de tais descrições é um segundo passo importante, de que tais descrições possam funcionar como variável evocativa de novas práticas comportamentais e culturais e que, uma vez evocadas, tais práticas possam ser selecionadas por uma ambiente social já modificado pela descrição de suas consequências.
Palavras-chave: sustentabilidade, práticas culturais, seleção pelas consequências.

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Escrito por Aline Couto

Tem 22 anos e reside em Salvador, BA. Formada em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Durante o curso, aproximou-se da Análise do Comportamento, da Psicologia Cognitivo-Comportamental e da Neuropsicologia. Participou de grupos de pesquisa sobre Neuropsicologia Clínica e Cognitiva e Análise do Comportamento e Cibercultura na sua faculdade, além de grupos de estudo sobre Behaviorismo Radical.

Tô curtindo Análise do Comportamento, e agora? Segunda parte

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