ESTRATÉGIAS DE ENSINO PARA PESSOAS COM TEA NO AMBIENTE ESCOLAR

 

Alteração curricular tornou-se um termo geral para todas as mudanças feitas com o objetivo de atender as necessidades particulares de um estudante. No entanto, é importante entender a diferença entre modificação do currículo e adaptação. Modificação implica alterar o conteúdo ensinado com base nas necessidades e limitações do aluno, mesmo que isso signifique mudar os padrões de avaliação. Já a adaptação curricular, mantem-se a integridade do conteúdo repassado e a forma padrão de avaliação curricular. Porém, considerando as necessidades e limitações do aluno, pode-se apresentar a ementa curricular em um formato diferente ou modificar as estratégias no qual o aluno aprende. Em outras palavras, modificação altera o que é ensinado e como o progresso é medido, enquanto a adaptação muda a forma como o conteúdo é apresentado e/ou acessado, mas não como o progresso é avaliado.

Precisamos compreender que pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), muitas vezes, não aprendem como uma criança neurotípica. Durante o desenvolvimento típico geralmente a criança não necessita de intervenções específicas ou mediação para o aprendizado. Por outro lado, no TEA o processo de aprendizagem é diferente porque “há uma relação diferente entre o cérebro e os sentidos, então as informações nem sempre geram conhecimento” (Cunha, 2009). Portanto, para que uma criança atípica se desenvolva no ambiente escolar, torna-se necessário que o professor manipule diferentes recursos na aprendizagem, pois cada educando aprenderá de forma diferente.

Alunos com TEA, em muitos casos, irão precisar ter alguma alteração acadêmica, uma vez que problemas como déficits motores (por exemplo, segurar um lápis para escrever) e motivação (realização de determinadas atividades, participação em algumas aulas) podem exigir modificações. Assim sendo, as instituições e os educadores precisam ser adequadamente treinados para realizar a inclusão que esses alunos necessitam. Por esse motivo, é importante que as instituições educacionais tenham conhecimento sobre abordagens baseadas em evidências, que explanam adequadamente as necessidades dos alunos com autismo, tracem diretrizes para a identificação de práticas de ensino eficazes e destaquem recursos específicos para o ambiente escolar.

Ao implementar intervenções e estratégias de ensino baseadas em evidências cientificas, os professores precisam de ferramentas para avaliar e apoiar as estratégias a serem implementadas. Uma avaliação baseada em investigação é imprescindível para que haja sucesso nos ambientes educacionais inclusivos e o primeiro passo a ser dado é a realização de uma avaliação que informe as competências atuais do aluno para criar metas mensuráveis. Assim sendo, o programa educacional para um indivíduo com autismo deve ser baseado nas necessidades únicas daquela pessoa, para ajudar a determinar que tipo de ambiente de aprendizagem será melhor para ela.
O segundo passo nesse processo é a construção de um Plano Educação Individualizado (PEI), que é um instrumento que propõe planejar e acompanhar o desenvolvimento de estudantes com dificuldades de aprendizagem com base nas diretrizes escolares, o PEI tem como objetivo orientar o trabalho da escola nas prioridades a serem ensinadas para seu aluno que necessita de adaptações curriculares (Taranto, 2015). Nele, todas as áreas de desenvolvimento do aluno devem ser abordadas, incluindo objetivos acadêmicos, sociais e comportamentais.

Uma vez que o PEI foi estabelecido, o professor deve modificar as atividades e materiais para atender às necessidades dos alunos com TEA, realizando as modificações necessárias para as pessoas com dificuldades de aprendizagem. Por exemplo, essas crianças, geralmente, necessitam da previsibilidade a fim de diminuir a ansiedade. Ser capaz de antecipar as transições e mudanças, tendo um suporte visual que indique quais atividades será realizada durante o dia, pode ser um apoio poderoso para esses alunos. Logo, a introdução de um apoio visual a ser usado na sala de aula, como fotografias, desenhos ou palavras é um recurso particularmente útil para alunos com autismo porque indicam claramente o que foi concluído e o que deve ser feito em seguida. Outro exemplo, é o brincar por meio de pistas visuais, sequencias de imagens que indicam qual será a próxima etapa que a pessoa deverá realizar, esses roteiros auxiliam em brincadeiras como: montar uma estrutura (uma casa), montar um trilho de trem, brincar com blocos e várias outras estruturas do brincar. Através desse modelo, fica evidente que alunos com TEA podem utilizar brinquedos durante o lazer.

Em alguns casos, receber um Acompanhante Terapêutico (AT) é uma estratégia que trará muitos benefícios para o aluno. O AT “é sem dúvida um agente facilitador deste processo de escolarização, para mediar o processo de aprendizagem na instituição” (Gavioli, Ranoya e Abbamonte, 2013), outra consideração importante para o sucesso do aprendizado é a modificação do ambiente do aluno. Desse modo, o professor pode projetar a sala de aula e todos os materiais de instrução para conter suportes e pistas visuais individualizados, fundamentais para minimizar muitos problemas de comportamento.

A utilização de um sistema de comunicação alternativo, como por troca de figuras (PECS) é uma estratégia importante para promover a comunicação dos alunos com TEA. O PECS é especialmente útil quando usado com crianças com TEA que tem habilidades de comunicação limitada. Através da troca de imagens, as crianças aprendem como comunicar suas necessidades e desejos (Hughes, Katsiyannis, McDaniel, Ryan & Polvilhe 2011).

A seguir estão listados outros exemplos de estratégias que, quando individualmente analisadas e planejadas, são potencialmente facilitadoras para o processo de aprendizado em sala de aula:
• Ensinar novas tarefas fornecendo exemplos ou modelos de modo que o aluno tenha uma visão clara dos passos necessários para cumprir determinada tarefa e o desempenho esperado;
• Introduzir atividades adequadas ao nível de dificuldade do aluno envolvido;
• Fornecer instruções ou pistas visuais para tornar a informação mais compreensível para a pessoa;
• Dar previsibilidade para os alunos das atividades que eles irão realizar. Por exemplo, se a classe ciência discutirá as estrelas durante o horário de aula, os pais podem observar um céu noturno com o seu filho/filha. Isto proporciona um processo de familiarização, no qual pode haver uma aceitação do indivíduo a atender às tarefas em uma situação variada;
• Atribuir modelos específicos para que a criança observe e imite diante de atividades em grupo, como tempo na roda ou exercícios em grupo. Em situações de grupo mais fluidas ajudar o indivíduo a selecionar uma função específica que ele ou ela poderá realizar;
• Estruturar sequências de evento em que a atividade menos preferida será seguida pela mais preferida (Primeira __X___, Depois, __X___.).
• Quebrar/fragmentar tarefas em pequenos passos e ensinar casa passo em sequência e de forma estruturada.

Há também intervenções comportamentais específicas que ajudam consideravelmente o processo de inclusão nas instituições escolares regulares. Uma dessas intervenções é a Análise Aplicada do Comportamento (ABA) que é uma prática educativa que envolve o processo de aplicação sistemática de intervenções embasadas nos princípios derivados do comportamento para melhorar condutas socialmente significativos. Ela inclui o ensino de novas habilidades, tais como a vida funcional, comunicação e habilidades sociais; generalização do comportamento de uma situação para outra, como a transferência de habilidades sociais para ambientes naturais; redução da interferência de comportamentos e restrição das condições nas quais os comportamentos inadequados de interferência ocorrem.

Em conclusão, para que uma pessoa com TEA seja inserida no contexto da educação regular, é necessário que se tenha instrumentos que a deixem equiparada às outras pessoas, ferramentas que vão desde a metodologia utilizada até em saber lidar com os diferentes tipos de comportamento que uma pessoa com TEA pode apresentar, como adaptações de currículo, materiais, avaliações, dispensa de disciplinas e substituição por aulas individuais. A educação não é apenas um direito garantido por lei. Mais do que isso, ela é vital para todas as crianças, incluindo aquelas com dificuldade no desenvolvimento. Às instituições, cabe o dever legal e ético de oferecer bases educacionais sólidas e consolidar a equidade como princípio para a criação de ambientes de aprendizagem propícios para que crianças e adolescentes alcancem seu potencial.
BIBLIOGRAFIA

CUNHA, Eugênio. Autismo e Inclusão – psicopedagogia e práticas educativas na escola e na família. Rio de Janeiro – Wak, 2009
Interpretare, Você sabe o que é o plano de educação individual, pei?. Disponível em: <http://interpretare.com.br/prd/v2/2015/04/10/voce-sabe-o-que-e-o-plano-de-educacao-individual-pei/> acesso em 24 de Janeiro de 2017
Movimento Dawn, O Acompanhamento Terapêutico na Inclusão Escolar. Disponível em: <http://www.movimentodown.org.br/2013/01/o-acompanhamento-terapeutico-na-inclusao-escolar-2/> Acesso em 23 de janeiro de 2017
Hughes, E.M., Katsiyannis, A., McDaniel, M., Ryan, J.B., Sprinkle, C. (2011). Council for Exceptional Children, 43(3), 56-64

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Escrito por Monalisa Costa

Graduada em Pedagogia na Universidade Estadual Vale do Acaraú em 2011 e Pós graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional na Universidade Católica de Pernambuco em 2016 e Concluindo Especializaçao em Análise do Comportamento Aplicada ao Transtorno do Espectro Autista na Faculdade Pernambucana de Saúde. Experiência em Transtornos do Desenvolvimento, com o público infantil, jovem e adulto com desenvolvimento atípico. Atua planejando e implementando protocolos de intervenção comportamental, desenvolvendo atividades de capacitação profissional, orientação parental e de cuidadores, e inclusão social e escolar.

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