Coluna ContACTo: A dor e a delícia do fim de ano

A dor e a delícia do fim de ano

Rodrigo R.C. Boavista
rodrigorcboavista@gmail.com

 

Ah, os meses de dezembro e janeiro! A expectativa das festividades de final de ano… as quase reais fantasias de férias… praias paradisíacas… viagens há muito aguardadas… Tudo isto geralmente serve de alento para um corpo cansado dos desgastes de um ano inteiro de esforço laboral ou acadêmico.

A experiência clínica mostra que, geralmente, a progressão dos dias do ano é acompanhada pelo aumento de casos de, estresse, estafa, síndrome de esgotamento (Burnout), ou ainda, do jargão tão comum de ser ouvido nos últimos meses do ano: “Estou só o pó!”.

Lamb e Cogan (2015) alertam que o estresse no trabalho encaminha problemas de saúde mental. Estes por sua vez, em longo prazo, geram custos tanto na esfera pessoal quanto na sociopolítica – Michael Blending, colunista da FORBES, estima que o estresse laboral custa cerca de U$190 bilhões anuais ao sistema de saúde estadunidense[1]. A psicologia organizacional há anos busca metodologias capazes de minimizar os impactos do estresse no trabalho e, recentemente, tem mudado da perspectiva de “minimização de estresse” para a instalação de repertórios de “resiliência[2].

Se, em origem, o conceito prevê forças internas capazes de combater as admoestações do cotidiano, uma leitura analítico comportamental do termo pode admitir o estabelecimento de repertórios comprometidos com reforçadores de longo prazo à despeito do contato direto com eventos aversivos.

Autores da ACT têm se perguntado se as tecnologias concebidas a partir do modelo seriam úteis no cuidado e prevenção de patologias vinculadas ao ambiente de trabalho: e a resposta parece ser promissora!

Vilardaga et al. (2011) identificaram que treinamento em mindfulness e processos terapêuticos dirigidos à esquiva experencial, fusão cognitiva e compromisso com valores são especialmente benéficos na minimização de casos da Síndrome de Burnout.

Flaxman e Bond (2010) compararam o efeito da ACT, treinamento de inoculação de estresse (SIT)[3] e uma lista de espera. Os autores concluíram que o grupo alvo da ACT apresentou maiores índices de flexibilidade psicológica do que os demais. Ademais, perceberam que a redução nas “cognições disfuncionais” não era um mediador de mudanças, ou seja, “mudar o que o individuo pensa sobre o trabalho” não alterava seus índices de sofrimento laboral.

Bond e Bunce (2003) investigaram o papel do repertório de aceitação[4] sobre a saúde mental e efetividade comportamental de trabalhadores. Os autores observaram que maiores índices de aceitação prediziam melhores: escores de saúde mental, medidas objetivas de performance e controle do trabalho.

Não há como negar o papel revitalizador de um par de dias sob o sol do Nordeste brasileiro (Axé, minha Bahia!) na companhia de uma agua de côco gelada. Não obstante, a literatura da ACT vem demonstrando que o treino de repertórios de aceitação e mindfulness, bem como a redução de frequência de esquiva experencial são fundamentais para a manutenção da saúde biopsicossocial de um indivíduo enquanto as férias não chegam!

[1] Ver http://www.forbes.com/sites/hbsworkingknowledge/2015/01/26/workplace-stress-responsible-for-up-to-190-billion-in-annual-u-s-heathcare-costs/#3449a3854333

[2] Os autores definem resiliência como a “adaptação a, ou até mesmo, ser bem sucedido em face de adversidades” (Lamb & Cogan, 2015).

[3] O treino de inoculação de estresse (SIT, da sigla em inglês) consiste num protocolo de intervenção de base cognitivo comportamental composto de dois componentes: treino de relaxamento  e reestruturação cognitiva.

[4] Aceitação é definida pelos autores como “a disponibilidade em experenciar pensamentos, sentimentos e sensações fisiológicas sem tentar controla-las ou deixa-las determinar cursos de ação” (Bond & Bunce, 2003, tradução nossa).

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Escrito por Rodrigo Boavista

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