Os Bastidores do ACearáCAST: “nossa questão é fazer um bom uso do ‘cearensês'”

Com certeza você já conhece o ACearácast, o mais divertido e instrutivo podcast de Análise do Comportamento do país. O projeto é uma iniciativa da equipe do LANAC (Laboratório de Análise do Comportamento), vinculado à Universidade Federal do Ceará, que busca ensinar Análise do Comportamento, uma disciplina complexa por definição, de forma leve, divertida, acessível e com baixo custo de resposta para o ouvinte. Com mais de 40 episódios gravados e disponibilizados online, o programa já conquistou Brasil. O que poucos sabem, no entanto, é o que rola nos bastidores das gravações, e nós, do Comporte-se, fizemos questão de descobrir para vocês. Confiram na entrevista exclusiva abaixo:

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Catito, o mascote do ACearáCAST

Comporte-se: Como surgiu o projeto ACearácast?

Catito do ACearácast: A maioria dos analistas do comportamento que conhecemos é meio nerd. E uma coisa em comum entre os nerds é que eles geralmente ouvem muitos podcasts. Então, de tanto ouvir podcasts e achar essa uma mídia de fácil acesso a quem ouve, decidimos criar um sobre Análise do Comportamento, com o objetivo de ser mais um meio de comunicação e somar na divulgação da área.

Na vida não se faz nada sozinho… E atualmente o ACearácast conta com uma equipe de 7 pessoas, além dos colaboradores. O Yan Valderlon foi o idealizador desse podcast e atua como host e é quem faz a edição dos áudios (com a ajuda do Catito, nosso mascote e DJ hahaha). Tem também o Umbelino Neto, que é co-host, é quem geralmente faz o contato com convidados e também atua como o redator da equipe e às vezes roteirista. O Odilon Duarte é outro parceiro, também co-host, editor de áudio, viciado em trocadilhos e piadista de plantão. Já o Maia Olsen é roteirista, diretor de gravação (atua no departamento de falar “isso pode dar m…”) e consultor técnico. E por último e também superimportantes para a coisa toda andar, contamos com a Liana Rosa (consultora técnica), o Damon Ribeiro (artes visuais e suporte de informática) e a Flávia Holanda (artes visuais e divulgação). Com essa galera, nosso podcast é um projeto de extensão dentro do Laboratório de Análise do Comportamento (LANAC) vinculado à Universidade Federal do Ceará (UFC).

Além desse grupo fixo, contamos com um grupo de outras pessoas, analistas do comportamento do Ceará, estudantes ou professores, que fazem parte do time de participantes do podcast e sempre ajudam quando a gente precisa de um apoio na gravação. Vamos citar alguns, mas tem mais gente, mas vale citar esses até para agradecer por todas as vezes que chamamos eles em cima da hora e de pronto já estavam lá ajudando a gente a gravar: a Laís Corrêa (psicoterapeuta clínica e coordenadora ABA da Imagine-Tecnologia Comportamental), a Camille Borges (psicoterapeuta clínica e sócio-fundadora da Tríplice-Núcleo de Análise do Comportamento), o Saylo Moura (AT na Imagine-Tecnologia Comportamental), a Thaís Sousa (atualmente graduanda na UFC-Campus Fortaleza), o Tide Tomaz (já perto de se graduar na UFC-Campus Sobral) e a Amanda Barroso (atualmente mestranda em Ciências Médicas na UFC).

Comporte-se: Como foram definidos o formato e as características do podcast?

Catito do ACearácast: Quatro características: identidade cearense; informações úteis, corretas e de qualidade; leveza, diversão e bom humor; e fácil acesso, com baixo custo de resposta para o ouvinte.

Falando da primeira coisa, nossa questão é fazer um bom uso do “cearensês”, com o nosso sotaque, nossos regionalismos e nossas maneiras de interpretar as coisas sempre procurando o lado engraçado nelas. Isso foi algo que decidimos que daria a identidade ao grupo.

Para o podcast ser instrutivo, a gente busca coerência teórica, busca referências e bibliografia, busca convidados especialistas no assunto e assim a gente vai tentando produzir um conteúdo de qualidade.

Mas a Análise do Comportamento, com o seu rigor teórico-metodológico, pode acabar ficando um pouco difícil e pesada, daí o bom humor foi uma maneira que encontramos para tornar a coisa mais leve. Se você ver, tratar do assunto com bom humor é uma maneira de tornar esse assunto um reforçador condicionado, aumentando a chance de quem ouve emitir comportamentos relacionados à Análise do Comportamento. Mas obviamente isso precisa ser equilibrado, para não virar besteirol. Daí a preocupação com a qualidade teórica e instrutiva que a gente estava falando.

A quarta coisa é pegar tudo isso e facilitar o acesso. Não adianta produzir se a coisa não chega na audiência. Nosso podcast não é uma mesa de evento acadêmico, nem uma aula de faculdade, é mais um bate-papo instrutivo. Não temos (pelo menos por enquanto) o objetivo de aprofundar muito os temas e procuramos abordar os assuntos do modo mais simples possível. A gente visa bastante o público que está na graduação. Quem ouve nosso podcast sabe que ele é muito prático, pois você acessa os conteúdos, tem uma visão geral e introdutória, depois, se quiser, pode pesquisar mais sobre. Por isso, na sinopse dos episódios, há sempre algumas dicas de leitura sobre os temas. Uma das questões também sobre o custo de resposta é o tempo. Nosso objetivo é de episódios com cerca de 35min., justamente para não cansar os ouvintes ou para evitar que eles tenham que parar um episódio para ouvir depois. Mas obviamente, quando o assunto ou a conversa são muito bons, esses minutos aumentam.

Daí que a gente definiu esses quatro pontos para governar o nosso comportamento na hora de definir temas, tópicos de discussão nos roteiros, forma de atuar na gravação, forma de editar e divulgar o material.

Comporte-se: De que forma são escolhidos os temas e os nomes dos convidados?

Catito do ACearácast: Temos um banco de temas e tentamos seguir um cronograma de pelo menos dois episódios por mês. Então pegamos dois desses temas e nos preparamos em cima deles. Alguns temas e formatos exigem mais leitura da gente e outros nem tanto. Então, a gente vai escolhendo para dar certo considerando nossa carga-horária de outras atividades laborais e de vida pessoal.

Nessa brincadeira, fomos inventando alguns formatos de episódio: “Behavioristas Comentam”, em que a gente analisa algumas notícias, geralmente bizarras, e extraímos possíveis interpretações comportamentais para elas; “Reforça, Pune ou dá Extinção (RPE)”, no qual a gente também pega notícias interessantes, com a diferença de que aí consequenciamos alguns comportamentos-alvo dos indivíduos noticiados; “Behavioristas no Cinema”, em que fazemos análises de filmes, discutindo questões evolutivas, questões de aprendizagem individual e questões culturais relacionadas aos personagens; tem também o “Top 10”, em que fazemos uma lista de 10 coisas sobre determinado assunto; outro formato é o “Behavioristas no controle”, em que a gente tenta analisar a engenharia comportamental por trás de alguns jogos de videogame. O outro formato básico é o de temas específicos, com algum assunto da Psicologia ou conceitual, em que a gente busca explicar a coisa didaticamente. Quanto aos convidados geralmente vai de acordo com um tema específico, quando chamamos alguém que a gente sabe que é especialista no assunto e que a gente também sabe (isso é importante) que é uma pessoa acessível e descontraída.

Comporte-se: Qual era a expectativa inicial ao criar o ACearácast?

Catito do ACearácast: Superar o Boteco Behaviorista! kkkkkkkkkkkkk…. Brincadeira! A expectativa sempre foi a de somar com a divulgação da Análise do Comportamento no Brasil. Ser mais um meio, como o Comporte-se e o Boteco Behaviorista são, que as pessoas podem indicar para quem quer acessar um conteúdo de AC e que facilita a aprendizagem de algum conceito ou desperta o interesse das pessoas sobre qual abordagem seguir. Outra coisa é a de rebater algumas críticas que, muitas vezes, são disseminadas por pessoas com pouca leitura ou pouco diálogo com o que é produzido na área.

Comporte-se: Já gravados 39 episódios, qual a avaliação da equipe sobre a criação e realização do ACearácast? Que resultados foram conquistados?

Catito do ACearácast: Creio que nosso objetivo principal foi alcançado: produzir conteúdo de qualidade e com bom humor. Isso é muito reforçador e vem mantendo, sobretudo por reforçadores sociais, várias classes de resposta ocorrendo (reuniões, produção, gravações, edição, divulgação, etc.). Os números do podcast também são reforçadores para nossas classes de resposta envolvidas na produção. De setembro de 2014 a setembro de 2016, foram lançados 39 episódios, contabilizando 65.915 plays/downloads. Para um podcast de um tema tão específico assim, voltado para uma comunidade tão específica, achamos nossos números satisfatórios.

Comporte-se: Ao longo de toda a história do podcast, quais foram os momentos mais marcantes?

Catito do ACearácast: O reconhecimento por parte de grandes analistas do comportamento e da comunidade de modo geral (como ser convidado pelo Comporte-se a dar esta entrevista). Pensar que algo que surgiu quase como brincadeira e hoje é projeto de extensão e desempenha um papel relevante na comunidade fortalece muito o entrelaçamento do grupo que faz o podcast.

Também foi muito marcante uma vez em que a gente passou duas horas e meia gravando com uma professora convidada, ela altamente ocupada, e o arquivo da gravação deu tilt. Super aversivo esse dia. Ainda bem que a professora foi uma fofa e aceitou de boas gravar outro dia!

Comporte-se: Houve vontade de desistir em algum momento? Como foi e como a superaram?

Catito do ACearácast: Na verdade, isso nunca foi uma questão. Nunca tivemos esse problema, pelo menos não até hoje felizmente. Por mais que o custo de resposta seja alto, fazer o podcast é muito reforçador, não só pelo reconhecimento externo, mas pela convivência que temos entre nós do grupo. Cada um mora muito longe um do outro, fora do Ceará inclusive, e é todo mundo muito atarefado. Muito embora não nos encontremos pessoalmente, praticamente todos os dias trocamos ideias, sugestões sobre os trabalhos uns dos outros e, o mais importante, fazemos muitas piadas de muitas coisas. Algumas viram memes, outras não podem ser ditas em público (hehehe). As gravações sempre são muito divertidas, jogamos conversa fora e fazemos piada antes, durante e depois das gravações.

No mais, problemas mesmo só quando atrasamos episódios por causa de outras atividades, pois fazemos o podcast no contra-turno, afinal, no grupo temos professores, alunos de graduação, doutorandos, mestrandos e terapeutas.

Comporte-se: Como vocês avaliam a recepção do público ao podcast?

Catito do ACearácast: Muito boa. Pessoas mandam mensagens (tentamos responder a todos, mesmo quando demora), fazem sugestões de temas, perguntam e, o principal, elogiam e indicam a outras pessoas. Inclusive, alguns professores já indicaram nosso podcast aos alunos.

Comporte-se: Que mensagens vocês gostariam de deixar para os ouvintes de todo o Brasil?

Catito do ACearácast: Olha aí, Skinner chamou isso de comportamento governado por regras. Vamos lá: Sabe aquela viagem de ônibus que você tem que fazer quase todo dia pro trabalho ou pra faculdade? Sabe aquela faxina? Sabe aquele tempo mentalmente ocioso da academia? Que tal aproveitar esse tempo pra ouvir um pouco mais sobre análise do comportamento? Afinal, o que que custa pôr um fone de ouvido do celular e dar o play enquanto faz essas coisas? Esse é o nosso objetivo, facilitar a vida de quem se interessa ou está aprendendo Análise do Comportamento.

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Escrito por Portal Comporte-se

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