A vida de B.F. Skinner parte VII: Minnesota

Este é o sétimo artigo de uma série que discute a vida de Burrhus Frederic Skinner. Recomenda-se que o leitor interessado leia os artigos anteriores disponibilizados pelo Comporte-se, para que consiga compreender melhor o texto. Quem é o homem por trás da teoria que inspira tantas pessoas até hoje? O objetivo desta série é reconstruir o caminho percorrido por Skinner, apontando aspectos de sua vida pessoal que determinaram seu comportamento e, consequentemente, o de muitos outros. Espera-se que esta narrativa possa não apenas cativar o leitor, mas também tornar natural e humano aquilo que mais nos fascina.

A mudança de Harvard para Minnesota, de estudante para professor, de solteiro para casado não foi tão tranquila. A principal dificuldade foi convencer a então noiva, Yvonne (apelidada Eve), a se juntar a ele nesta nova jornada. Em uma visita logo antes do casamento, a jovem acostumada com a vida social universitária agitada de Chicago teve dúvidas ao se ver em uma posição de dona de casa casada com um professor universitário. Contudo, após se reconciliarem em uma viagem de Skinner (apelidado Fred) a Chicago, os jovens se casaram em uma cerimônia familiar na casa dos pais de Yvonne no primeiro dia de novembro de 1936.

Ao se mudarem para Minnesota, Eve não foi fascinada pela comunidade universitária ou pela vida local. Yvonne se refugiava nos livros, uma paixão compartilhada com o marido, no entanto, a provável função de fuga revelava um obstáculo a ser enfrentado pelo casal.

Foi nesse contexto que o casal teve a sua primeira filha, Julie. Os Skinners ficaram extremamente felizes com a chegada da nova membra de família, assim como seus pais, agora avós. Ambos ficavam encantados com as novas habilidades que a filha aprendia, ainda assim Skinner destacou em uma carta a Fred Keller que “ainda não precisou recorrer ao conceito de insight para explicar o comportamento dela” (Skinner, 1938).

As condições do Departamento de Psicologia eram ótimas para as pesquisas, a carga horária como professor era leve e os colegas, apesar de não serem grandes pesquisadores, eram agradáveis e encorajavam a produção de conhecimento original (Bjork, 1997). Fred se encontrou pela primeira vez numa posição em que tinha alunos interessados em desenvolver trabalhos sob sua orientação. Apesar de sua tendência inicial de preterir o ensino em detrimento da pesquisa, Skinner obteve grande satisfação no ensino e na formação de analistas do comportamento.

No entanto, o contexto sócio-político era de guerra mundial. Na volta de um encontro da Associação Americana de Psicologia em 1940, pensando sobre bombardeios feitos por aviões na guerra, Skinner teve uma ideia. Ao olhar para a janela, viu alguns pombos voando em formação e pensou que caso eles fossem treinados para guiar misseis (que na época eram guiados por um giroscópio), poderia ajudar o exército a aumentar a precisão de seus ataques (Skinner, 1979).

Foi nesta época ele deu início ao chamado Project Pigeon (projeto pombo, em português). Após comprar pombos de um aviário chinês na cidade, Skinner e alguns colegas e estudantes, montaram um galpão de testes, modelando respostas de bicar e orientação de cabeça de um pombo em direção a alvos específicos. Fred entrou em contato com o reitor da universidade que forneceu um modesto financiamento para a empreitada. O projeto tomou mais corpo quando uma empresa privada, a General Mills Company, financiou as pesquisas e quando a universidade lhe garantiu um ano sabático para que pudesse se dedicar ao estudo.

Protótipo desenvolvido pelo Project Pigeon
Protótipo desenvolvido pelo Project Pigeon. 

Contudo os treinos com os pombos não ocorriam em condições semelhantes às do combate e, mesmo com um subsequente apoio financeiro do governo, as forças armadas relutavam em fornecer informações precisas sobre como equipamento em que os pombos seriam colocados seria. Além disso, os oficiais do exército estavam hesitantes em apostar em animais para fazer um trabalho que estava, cada vez mais, sendo feito por máquinas. Com a negativa do governo americano, o projeto não foi para frente.

Contudo, com o projeto, Skinner descobriu o poder do condicionamento operante e seu potencial de aplicação a questões sociais. Além disso, ficou maravilhado com o comportamento dos pombos, passando a preferir o uso deles ao invés de ratos em estudos posteriores. Skinner estava cada dia mais pronto para modelar o comportamento de muitas pessoas em direção a uma mudança social fundamentada em uma ciência do comportamento humano.

Não perca o resto desta jornada!

Referências:

Bjork, D. W. (1997). B.F. Skinner: A life. Washington, DC, US: American Psychological Association.

Skinner, B. F. (1979). The shaping of a behaviorist: Part two of an autobiography. New York: Alfred A. Knopf.

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Escrito por Cainã Gomes

Formado em Psicologia pela PUC-SP e especialista em Clínica Analítico-Comportamental. É pesquisador do Paradigma - Centro de Ciências do Comportamento, onde também atua como terapeuta. Tem experiência na área de Análise do Comportamento, com ênfase com Comportamento Governado por Regra e RFT (Relational Frame Theory). Foi coordenador da Comissão de História de Análise do Comportamento da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC) na gestão 2015-2016. Além disso, é mestrando do programa de Psicologia Experimental: Análise do Comportamento da PUC-SP com período sanduíche na Universidade de Gent, sob orientação do Prof. Dermot Barnes-Holmes. Está cursando o Intensive Training em DBT do Behavioral Tech, Linehan Institute.

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