Treinamento de Habilidades de Regulação Emocional – Como sobreviver num mundo de emoções intensas

Hoje vamos falar do módulo do treinamento de habilidades de regulação emocional. Importante destacar que os módulos vistos no treinamento de habilidades, ainda que divididos em diferentes temas, funcionam em conjunto na vida real. Cada um tem o seu papel preponderante em diferentes áreas afetadas pela desregulação emocional.

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Emoção é algo natural e necessário ao ser humano. A emoção nos avisa que alguma coisa está acontecendo e nos prepara para agir.

Contrariamente ao que aprendemos desde pequenos, não existe emoção boa ou ruim, emoção positiva ou negativa. Existem emoções que geram sensações agradáveis, gostosas que podemos chamar de positivas por estarem conectadas a sensações de prazer. Existem emoções geradas por situações de dor, perda, luto, desagrado, raiva que podemos chamar de negativas por estarem ligadas a sensações de desprazer.

Todas as emoções são úteis e bem-vindas na sua função de assinalar e nos preparar para a ação. As emoções nos ajudam a enfrentar o que temos diante da vida, o verdadeiro problema aparece quando reagimos impulsivamente, “no calor do momento”, sem pensar na consequência. O que algumas vezes pode chegar a ser trágico, trazendo consigo o arrependimento que pode desencadear em uma outra inundação emocional sem que novamente tenhamos o momento para checar os fatos.

Já vimos em artigos anteriores esclarecedoras exposições sobre a Teoria Biossocial. Vimos como a partir da biologia, da hipersensibilidade emocional associada a experiências vividas em um ambiente invalidamente, ou pelo menos percebido como tal, aprendemos que o que sentimos não é o adequado e o mito de que as emoções só servem para nos afastar do adequado e do agir de maneira inteligente. Aprendemos a não escutar nossas emoções, buscando fora o que é bom e adequado (ver os artigos já publicados sobre ambientes invalidantes e vulnerabilidade emocional X auto-invalidação).

O treinamento de habilidades na DBT está orientado a proporcionar a descoberta e aprendizado de novas respostas mais efetivas em áreas da vida onde ainda não encontramos reações diferentes das habituais. Uma das áreas na qual temos um módulo específico de treinamento de habilidades é a de regulação emocional que veremos a seguir.

É importante frisar que, regulação emocional não é sinônimo de controle, supressão ou inibição emocional. Regulação emocional significa reconhecer que algo esta acontecendo (notar, observar – visto no módulo de mindfulness, por exemplo), aceitá-lo e, neste processo de conscientização, descrição e aceitação da emoção, parar naturalmente a escalada emocional e ter a possibilidade de escolher a resposta efetiva para o evento. Desta maneira iniciamos o processo de reconhecer e aumentar o registro de experiências positivas, aumentando assim como nosso repertório de respostas efetivas para momentos difíceis.

Por exemplo o movimento natural da emoção raiva é a resolução imediata deste sentimento e da situação precipitadora. Assim, devolver na mesma moeda o que percebemos como agressão a quem nos destratou tanto e nos causou tanta dor são os comportamentos mais prováveis de acontecer. As substâncias segregadas pelo cérebro em situações de raiva demandam descarga imediata – devido a isso, partir para a briga acaba sendo uma ação automática. O que nos levara a uma situação ainda mais complicada.

No módulo de regulação emocional aprendemos a identificar a emoção, aprendemos que existem reações naturais no cérebro e no corpo que geram sensações físicas intensas e que pode nos levar a exacerbar ainda mais a intensidade de nossa resposta ao evento acreditando que esta seria a única maneira de reagir porque esta é a mensagem que estamos recebendo no nosso corpo. Nesse módulo, também aprendemos que nós não somos a emoção que sentimos. Conhecendo como funciona o processamento emocional, aceitando-o como natural e não julgando nem ao outro nem tampouco a nós mesmos, temos a liberdade de escolher como reagir de maneira efetiva e satisfatória. O que nos deixa como recompensa uma grata sensação de capacidade em manejo de nossa vida.

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Objetivos do módulo de regulação emocional:

1- entender as emoções que experimentamos, o porquê as temos, como funcionam e como identificar as emoções;

2- reduzir a vulnerabilidade emocional ao eventos emocionais negativos, cuidar do corpo como nosso templo, reconhecer e aumentar o registro de emoções positivas, construir maestria e repertório de respostas efetivas (antecipar respostas);

3- reduzir o sofrimento emocional, experimentar as emoções como ondas que vem e vão, deixar passar as emoções dolorosas, mudar a trajetória da emoção dolorosa atuando de maneira oposta ao que ela pede, reduzir a frequência das emoções indesejada.

Nossas emoções necessitam cuidado, cada uma é diferente da outra. Necessitamos escutá-las com atenção, respeito e tentar entendê-las.

Quando estamos abertos a experienciá-las encontramos em nosso repertório respostas efectivas. Quando não as aceitamos elas doem e podem nos fazer sofrer. Nossos sentimentos são nossos, nos pertencem, devemos cuidá-los, tomar conta deles, não abandoná-los. A melhor maneira de cuidar de uma emoção dolorosa é ser gentil com ela, devemos dar todo o espaço necessário para que possa fluir e seguir o seu caminho.

O mais importante para cuidar das emoções é o entendimento e o seu reconhecimento quando estas aparecem. Sabemos que pensamentos geram emoções. Este é um excelente momento para colocar em prática habilidades de como usar a respiração, praticar a aceitação radical ao pensar e falar dessas emoções mais difíceis.

Devemos colocar atenção plena no passo a passo, não podemos esquecer que as respostas automáticas estão sempre alertas para serem disparadas e atuadas. A medida que nos familiarizamos com a identificação e a descrição das emoções e de nossas reações a elas, desenvolvemos maestria e começamos a gerenciar nossas vidas e a regular nossas emoções. Teremos, então, dado um passo a mais, alcançando um novo caminho que já não é aquele onde as emoções tinham o poder de nos arrastar no seu turbilhão sem que tivéssemos o conhecimento para onde estávamos indo. Estaremos então, no caminho de estar escolhendo para onde e como desejamos viver, construindo uma vida que vale viver!

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Escrito por Esther Spach

Conheça o periódico: American Journal of Health Behavior

Boteco Behaviorista 54 – Inteligência