Dois na gangorra

Dois na gangorra

Entendimento de contextos da conjugalidade

 

Quando um casal começa o relacionamento tudo tende a ser mágico, maravilhoso, como um verdadeiro conto de fadas. Com o passar dos anos muitas vezes esse cenário não permanece tão encantado assim e muitos se questionam o que aconteceu. Afinal, porque a magia acabou?

“Ele era tão compreensivo e não é mais”, “Ela não era tão autoritária assim”, “Nós costumávamos fazer mais coisas juntos”, são algumas frases que as pessoas tendem a dizer na busca de uma explicação para o que aconteceu. “Porque nós chegamos até aqui e porque não conseguimos sair mais disso? ”

A verdade é que muitas vezes “(…)o retrato do casamento idealizado pela mídia não prepara os casais para enfrentar os desapontamentos, as frustrações e os atritos. Tão logo os desentendimentos e os conflitos se combinam para incendiar os rancores e ressentimentos, a pessoa antes vista como amante, aliada e companheira passa a ser vista como um antagonista”. (Beck, A., 1995)

Mas o que será que mudou tanto? Comecemos a pensar sobre as diferenças da fase do namoro e da conjugalidade. Na primeira fase os encontros são espaçados e preenchidos com muito carinho, afeto, diálogo e atenção para com o parceiro, não há contato com muitos problemas cotidianos e, características, preferências e hábitos individuais diferentes aparecem de forma mais sutil ou nem aparecem. Daí surgem a criação de ideais de alma gêmea, perfeição ou de que são feitos um para o outro. Com a conjugalidade, muitos casais se deparam com o aparecimento de mais responsabilidades e passam a dispender menos tempo para promoção de cuidado, afeto, diálogo. E a afirmação tão comum passa a ser “Ele (a) não era assim”. Será que não era ou o contexto diferente que não proporcionava o contato necessário para tal conhecimento? E mais, porque será que o tempo deveria passar a se encarregar de cuidar sozinho do relacionamento, sem um correspondente de ação concreta para tal?

Outro ponto importante é que a interação da conjugalidade não apaga todo o histórico de vida precedente de cada um dos cônjuges, ou seja, cada um veio de uma história de vida, com arranjos singulares de acontecimentos e pessoas, que colaboraram na formação de quem aquele indivíduo se tornou ao chegar naquela relação. Claro que a própria relação se tornará mais uma fonte de influência e aprendizado, mas isso não anula todo o processo anterior. Nesse sentido um dos maiores desafios da satisfação conjugal reside na busca pelo equilíbrio de duas individualidades e uma conjugalidade, ou seja, dois indivíduos com histórias e reforçadores diferentes numa conjugalidade que busca concatenar um projeto de vida a dois e uma identidade conjugal.

Se pudéssemos elencar uma metáfora para os relacionamentos poderíamos pensar numa gangorra, típica de parques infantis. Para que a brincadeira ocorra nela há uma alternância em quem está “no alto” e quem está “abaixo”, e por vezes ficam ambos no meio. Isso pode nos remeter a importância do dinamismo e da fluidez nos relacionamentos, onde o equilíbrio se encontraria exatamente na alternância de ceder e requerer, sem perder de vista a possibilidade do meio, onde ambos trabalham para se manter estáveis.

O contexto cultural também influencia fortemente os relacionamentos amorosos, seja pela disseminação de características idealizadas de parceiro, seja pelo pouco estímulo a manutenção e resolução de contextos aversivos ou ainda pelo não incentivo a busca e orientação profissional preventiva e não paliativa. Ou seja, raros são os casos em que os casais entendem a importância de constantemente investirem em sua formação e aperfeiçoamento pessoal e conjugal para a manutenção de sua satisfação.

Diante de tantos contextos que permeiam a conjugalidade, a psicologia comportamental tem se colocado na direção ao aperfeiçoamento de habilidades sociais e promoção de ações concretas e contínuas dos cônjuges.

 

Referências Bibliográficas

Beck, A. (1995). Para além do amor: como os casais podem superar os desentendimentos, resolver os conflitos e encontrar uma solução para os problemas de relacionamento através da terapia cognitiva. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos

Féres-Carneiro, T. (1998). Casamento contemporâneo: O difícil convívio da individualidade com a conjugalidade. Psicologia: Reflexão e Crítica, 11, pp.379-394.

Gonçalves, M.M.O. (2006). Análise das contingências que atuam na manutenção dos vínculos conjugais contemporâneos. (Monografia de conclusão de curso) – Faculdade de Psicologia, Centro Universitário de Brasília, Brasília

Otero, V. R. L. & Ingberman, Y. K. (2004). Terapia Comportamental de Casais: da teoria à prática. Em:M. Z. S. Brandão, F. C. S. Conte, F. S. Brandão, Y. K. Ingberman, V. L. M. Silva & S. M. Oliani. Sobre Comportamento e Cognição: contingências e metacontingências – contextos sócio-verbais e o comportamento do terapeuta. v.13, pp. 363-373. Santo André: Estec.

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Escrito por Mariana Poubel

Graduada em Psicologia pela UFRJ (2012) e mestre em Saúde Mental pelo IPUB/UFRJ (2015). Fez curso de formação em Terapia Cognitivo Comportamental para adultos e infanto juvenil, curso de capacitação em análise do comportamento e formação em terapias contextuais.
Atua como terapeuta, supervisora e mentora.

Email para contato: marianapoubel@gmail.com

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