O que você realmente pensa sobre violência?

É notório que precisamos de uma compreensão mais profunda sobre a violência em relacionamentos amorosos. Em especial, é necessário compreender se as pessoas possuem visões realistas das consequências da violência. A hipótese mais discutida é que pessoas que possuem crenças mais favoráveis à violência teriam maiores chances de praticá-la contra um parceiro amoroso.

Estudos longitudinais na área são escassos, sendo a maioria dos estudos transversais e com amostras reduzidas. Hipoteticamente, praticar violência seria inconsistente com crenças negativas sobre a violência ou ainda de que esta seria inaceitável, dessa forma, os estudos têm buscado compreender como essas pessoas buscarão reduzir a dissonância cognitiva entre esses fatores.

Uma das pesquisas mais interessantes sobre essa temática foi realizada por Mueller, Jouriles, McDonald, & Rosenfield (2012) com 101 adolescentes entre 14 e 17 anos, realizando duas coletas de dados com três meses entre elas. Na linha de base (primeira coleta de dados), todos os adolescentes estavam envolvidos em um relacionamento amoroso e 40% reportaram terem praticado ao menos um ato de violência física ou sexual nos últimos três meses contra o parceiro. Os resultados obtidos indicaram que praticar violência aumenta a chance do adolescente apresentar crenças de aceitação da violência, mas o contrário não ocorre. Dessa forma, poderia ser verificada a hipótese de que os adolescentes podem alterar suas crenças para justificar a violência. Em especial, a perpetração pode reforçar crenças de aceitação se há consequências positivas para o agressor da violência. Esses dados indicam que as crenças sobre violência são maleáveis na adolescência, e podem ser afetadas de acordo com as experiências amorosas daqueles participantes.

Resultados semelhantes foram obtidos por Eckhardt, Samper, Suhr e Holtzworth-Munroe (2012), que ao estudar casais adultos obtiveram como resultados que homens que praticavam violência contra a parceira mostravam mais crenças implícitas sobre a aceitação da violência e associações entre mulheres e violência. Esses resultados sugerem que essas crenças seriam gatilhos para comportamentos violência sem muita apreciação por parte do agressor. Ou seja, os antecedentes do ambiente e da história desses homens foram reforçados de tal maneira que pouca análise e avaliação eram realizadas por eles dos seus atos. Investigar aspectos implícitos torna-se importante para conseguir verificar se outros antecedentes podem afetar os comportamentos agressivos.

Em uma pesquisa realizada com estudantes do ensino médio de Portugal Ventura, Frederico-Ferreira, e Magalhães (2013) observaram que a maior percentagem (68,9%) discordava de crenças e atitudes legitimadoras da violência. Os estudantes do sexo masculino apresentam respostas mais concordantes com a legitimação da violência, tanto no Global da Escala como em cada um dos fatores de legitimação.

Importante notar que os diferentes tipos de violência devem ser verificados de maneira separada de forma a ser possível confirmar que essas crenças gerais não se aplicam a todos os comportamentos e, assim, conseguir identificar quais seriam os tipos de violência que necessitam de maior atenção dos profissionais em grupos específicos como uma forma de melhor planejamento de programas de prevenção.

Para saber mais:

Eckhardt, C., Samper, R., Suhr, L., & Holtzworth-Munroe, A. (2012). Implicit Attitudes Toward Violence Among Male Perpetrators of Intimate Partner Violence: A Preliminary Investigation. Journal Of Interpersonal Violence, 27(3), 471-491. http://dx.doi.org/10.1177/0886260511421677

Mueller, V., Jouriles, E., McDonald, R., & Rosenfield, D. (2012). Adolescent Beliefs About the Acceptability of Dating Violence: Does Violent Behavior Change Them? Journal Of Interpersonal Violence, 28(2), 436-450. doi:10.1177/0886260512454716

Ventura, M., Frederico-Ferreira, M., & Magalhães, M. (2013). Violência nas relações de intimidade: crenças e atitudes de estudantes do ensino secundário. Revista De Enfermagem Referência, III Série(11), 95-103. http://dx.doi.org/10.12707/riii12120

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Escrito por Sidnei R. Priolo Filho

Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos. Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Forense da Universidade Tuiuti do Paraná em Curitiba.

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