Você pode responder esse questionário? Como a Internet pode mudar a coleta de dados

O acesso à internet é cada vez maior no mundo, em especial, entre os jovens, mas o seu uso continua a crescer entre os adultos e idosos. A internet pode ser uma ferramenta importante para coletar dados de pesquisa, em especial por algumas características positivas que essa metodologia possui. Coletas pela internet possuem um menor número de respostas vazias, custos mais baixos que questionários em papel, e aumenta a confiança dos dados obtidos devido ao preenchimento, em geral, ter características de maior segurança que os dados permaneceram sigilosos (Russell, Boggs, Palmer & Rosenberg, 2010).

Atualmente, 1% das pesquisas em Psicologia são realizadas via internet (van Gelder, Bretveld & Roeleveld,2010), contudo esse número deve crescer nos próximos anos. Coletas via internet também facilitam a verificação de inconsistências nos dados durante o preenchimento, o que não ocorre nas pesquisas presenciais em que respostas faltantes e inconsistência serão analisadas somente na digitação dos dados. Ademais, erros de digitação também são evitados (Russell, Boggs, Palmer & Rosenberg, 2010).

Em uma pesquisa com mulheres norte-americanas foram comparadas as metodologias de envio de questionários em papel e coletas online com o uso da internet com mais de 59 mil participantes (Russell, Boggs, Palmer& Rosenberg, 2010). Coletas online demandam 5 etapas a menos que os coletas em papel, em especial, a digitação e tabulação dos dados. Essa pesquisa teve como resultados que as mulheres mais jovens apresentavam taxas de resposta mais altas pela internet, enquanto as mulheres mais velhas pelo papel. Ou seja, apesar do aumento do uso da internet entre pessoas mais velhas, essa forma de coleta aparenta ser mais efetiva com pessoas mais jovens. As participantes que responderam via web tinham o dobro da chance de completar todo o questionário em comparação com as pessoas que preencheram pelo papel, indicando uma melhor resolução de um problema de pesquisa que é o preenchimento completo de questionários. Ademais, o custo do questionário de papel foi quatro vezes maior que o via internet, indicando que a coleta online permite maiores amostras que questionários em papel devido a custos relativos a aplicação (Russell, Boggs, Palmer& Rosenberg, 2010).

Van Gelder, Bretveld, e Roeleveld (2010) apontam que auxílios visuais podem ser adicionados para facilitar o preenchimento, cada página deve possuir entre 4 a 10 questões para evitar a rolagem e aumentar a satisfação dos participantes conforme esses completam o questionário. Outro fator importante é que fornecer os resultados logo em seguida aumenta a taxa de participação, pois o feedback sobre a participação pode ser realizada de maneira imediata. Pesquisas via internet também contam com uma maior privacidade dos participantes, diminuindo a possibilidade um viés social, o que pode tornar as respostas para tópicos sensíveis, como violência e consumo de substâncias, mais próximas da realidade.

Contudo, não há só vantagens nesse formato de coleta de dados, sendo as principais a baixa taxa de respostas via internet para grupos com menor escolaridade, bem como preocupações quanto a validade dos dados, bem como a já citada menor frequência de respondentes mais velhos. Ou seja, a internet como uma ferramenta para coleta de dados tem grandes possibilidades de se tornar uma das maneiras mais eficazes de pesquisas, mas cuidados devem ser considerados quanto a população e formato da coleta.

 

Para saber mais:

vanGelder, M. M. H. J., Bretveld, R. W. &Roeleveld, N. (2010). Web-based Questionnaires: The Future in Epidemiology. American Journal of Epidemiology, 172, 1292-1298.

Russell, C. W., Boggs, D. A., Palmer, J. R. & Rosenberg, L. (2010). Use of a Web-based Questionnaire in the Black Women´s Health Study.American Journal of Epidemiology, 172, 1286-1291.

 

 

 

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Escrito por Sidnei R. Priolo Filho

Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos. Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Forense da Universidade Tuiuti do Paraná em Curitiba.

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