[Entrevista Exclusiva] Confira a entrevista com Henrique Pompermaier

Por ocasião da III Jornada de Análise do Comportamento da UEL, em Londrina-PR, tivemos a oportunidade de realizar uma entrevista com o Me. Henrique Pompermaier, que apresentou a palestra Uma discussão sobre o lugar dos eventos privados no comportamentalismo radical. Confira a entrevista, feita por Roberta Seles, abaixo.

  1. Conte um pouco de sua trajetória na Análise do Comportamento

Bom, acho que primeiro veio meu interesse pelo tema do sujeito/subjetividade. Acabei encontrando na Análise do Comportamento um tipo de discussão que me pareceu diferente, pouco “senso comum”, com potencial para uma crítica de um “subjetivismo” e um “individualismo” que me incomodavam como graduando em psicologia. Mas esse encontro, com a Análise do Comportamento, talvez se deva em grande medida pelo contexto em que eu estava – São Carlos. No caso, logo que essas questões foram tomando forma, quem eu encontrei pra pedir orientação e indicações de leitura foram analistas do comportamento (dos bons, hehe). (Talvez se tivesse encontrado com algum professor marxista eu estaria hoje participando de jornadas da sócio-histórica, hehe). Outro fator decisivo foi ter participado de algumas JACs lá em São Carlos e de algumas ABPMCs (graças à oportunidade de ser monitor no evento). Ter visto, por exemplo, o Isaias (Pessotti) falar sobre “o sujeito”, o (José Antonio Damásio) Abib falar sobre “a verdade” e “o comportamento verbal”, o Carlos (Lopes) e a Carol (Laurenti) explorando criticamente “os fundamentos filosóficos do comportamentalismo radical”, me convenceram que a perspectiva comportamentalista podia suscitar questionamentos, críticas e sustentar compreensões bastante interessantes sobre temas que me atraiam, o que me motivou bastante a tentar me arriscar por esses caminhos.

 

  1. Em sua apresentação na III JAC-UEL versou sobre o lugar dos eventos privados no comportamentalismo radical, quais são as implicações desta discussão conceitual para a atuação do analista do comportamento?

(Questão difícil, essa, hehe, mas bem importante. Acho que é do tipo que atormenta todo mundo que faz trabalho teórico-conceitual, hehe)

Acredito que a discussão conceitual nos auxilia a elaborar melhor a forma como nos colocamos diante dos fenômenos. Como o conceito de eventos privados está diretamente relacionado à abordagem dos fenômenos subjetivos, torna-se bastante relevante para a atuação clínica, por exemplo. Mais especificamente, acredito que a discussão crítica desse conceito pode ajudar a fortalecer uma perspectiva contextualista e relacional acerca das emoções, sentimentos, pensamentos. Uma perspectiva que tire a compreensão dos fenômenos subjetivos da polarização entre interno e externo, mente e corpo, e a compreenda tal como ela aparece, na realização dos comportamentos, em nossas formas de estar no mundo.

 

  1. A discussão acerca dos eventos privados é bastante complexa, qual a sua sugestão para os leitores que se interessam pela temática? 

Pois então…

Como disse a Amália na palestra dela nessa JAC, em termos de pesquisa conceitual, esse tema, dos eventos privados, é um dos mais explorados. Especialmente da década de 90 pra cá, há bastante material. Vou indicar alguns nomes e depois uma lista de texto; ai vocês avaliam o que pode ser mais interessante. No Brasil, acho que os principais nomes no assunto são o Abib, o Tourinho, o Carlos Lopes e, mais recentemente, o Diego Zilio. Fora, acho que mais se destaca na abordagem do tema é o Jay Moore. Há também uma edição especial da revista The Behavior Analyst, de 2011 (a edição toda é sobre esse tema, com uma discussão bem interessante sobre a pertinencia ou não da consideração dos eventos privados para explicação do comportamento).

Alguns textos:

Abib, J. A. D. (1982) Skinner, materialista metafísico? Never mind, no matter. In: Bento Prado Junior (Org.). Filosofia e comportamento. São Paulo: Brasiliense

Borba, A.; Tourinho, E. Z. (2010). Instrumentalidade e coerência do conceito de eventos privados. Acta Comportamentalia, 18(2), 279-196.

Lopes, C. E. (2006). Behaviorismo Radical e Subjetividade. Tese de doutorado. São Carlos: Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de São Carlos.

Moore, J. (2009). Why the radical behaviorist conception of private events is interesting, relevant and important.Behavior and Philosophy, 37, 21-37.

Skinner, B.F. (1961). The Operational Analysis of Psychological Terms. Em: B.F. Skinner (Org.), Cumulative Record. New York: Appleton-Century-Crofts. (Trabalho originalmente publicado em 1945).

The Behavior Analyst”, edição 34, n° 2, 2011.

Tourinho, E. Z. (2007). Conceitos científicos e eventos privados como resposta verbal. Interação,  11,  1-9.

Tourinho, E. Z. (2009) Subjetividade e relações comportamentais. São Paulo: Paradigma.

The Behavior Analyst” (edição 34, n° 2, 2011) (a edição toda é sobre esse tema, com uma discussão bem interessante sobre a pertinencia ou não da consideração dos eventos privados para explicação do comportamento).

Zilio, D. & Dittrich, A. (2014). O que fazer com os eventos privados? Reflexões a partir das ideias de Baum, parte I: A definição de privacidade, Acta Comportamentalia, 22(4), 483-496.

 

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Escrito por Raiane Alves

Acadêmica de Psicologia das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros / Montes Claros-MG, cursando atualmente o 10º período.

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