Comportamento e Redes Sociais Virtuais

Desde sempre o interesse em se comunicar faz parte da vida das pessoas, seja por fumaça, carta, telegrama, telefone, e-mail, sms, mensagem no facebook, twitter, whatsapp etc. Ao longo do tempo as tecnologias foram possibilitando novas formas de se relacionar e se comunicar a respeito de interesses em comum. Hoje as redes sociais images (1)virtuais representam uma nova forma de interação. Elas modificam nossas percepções e comportamentos assim como outras tecnologias fizeram no passado. No entanto, é levantada a hipótese de que estas redes são responsáveis por estarmos construindo relacionamentos menos importantes, transitórios, efêmeros e irrelevantes. De fato, é bastante perceptível o aumento de velocidade e quantidade de informações e opções oferecidas. Junto a isso, há também uma enorme variedade de maneiras de se relacionar virtualmente. Isto não é necessariamente ruim, apenas são formas  diferentes das anteriores e não poderia ser de outra maneira.  As relações humanas sempre se modificaram, modificam-se e continuarão se modificando, assim como as tecnologias (algumas, em um curto espaço de tempo).

Mas, o que faz com que as pessoas se comportem de certas maneiras nas redes sociais virtuais?

Skinner quando escreveu o capítulo “Por que os organismos se comportam” deixou muito claro que “Estamos interessados, então, nas causas do comportamento humano. Queremos saber por que os homens se comportam da maneira como o fazem. Qualquer condição ou evento que tenha algum efeito demonstrável sobre o comportamento deve ser considerado. Descobrindo e analisando estas causas poderemos prever o comportamento; poderemos controlar o comportamento na medida que o possamos manipular.” (Skinner, 1953/2007, pág. 24). No entanto ao falar de causas e efeitos, Skinner se refere às relações funcionais associadas às mudanças nas variáveis (dependentes e independentes). Ou seja, precisamos analisar quais as variáveis controladoras e/ou mantenedoras de determinados comportamentos.

Você já deve ter lido algum texto ou visto algum vídeo (provavelmente em rede social virtual) a respeito do comportamento das pessoas nas redes sociais virtuais. É engraçado até, mas há um paradoxo, pois as informações sobre os prejuízos em relação às redes sociais virtuais são geralmente transmitidas pelas mesmas redes. De fato, algumas informações são importantes e muitas pessoas precisam delas (principalmente em situações de alerta para alguns riscos), mas em alguns casos podem transmitir uma certa imposição a respeito de como as pessoas devem ou não se comportar e não necessariamente causam mudanças nos comportamentos considerados inadequados.

Há quem diga que o modo como as pessoas se comportam nas redes sociais virtuais causa prejuízos na área afetiva, nos relacionamentos, no ambiente de trabalho, no desempenho escolar etc. Provocaria também um distanciamento dos internautas em relação aos acontecimentos não virtuais. Por exemplo; muitas vezes as pessoas têm mantido mais os olhos fixos em seus celulares do que em outros olhos, sem falar da superexposição da intimidade, do engajamento político de sofá, da superficialidade e fragilidade dos envolvimentos, da falsa ostentação de felicidade etc. São tantas redes sociais virtuais que algumas pessoas são “engolidas” para este outro lado e nem percebem. O comportamento nas redes sociais virtuais pode deixar de ser positivo quando a pessoa perde a noção do espaço e do tempo. Ou seja, deixa de realizar atividades que antes eram valorizadas por ela porque passa grande parte do tempo nas redes sociais virtuais, prejudicando sua rotina.

Uma possível causa/função/explicação para o comportamento de acessar excessivamente as redes sociais virtuais pode estar relacionada à facilidade de acesso à internet e à disponibilidade constante destas tecnologias (celulares, computadores portáteis, tablets etc), que consequentemente disponibilizam o reforçamento de curto prazo por meio das redes sociais virtuais (que controlam o comportamento mais do que consequências a longo prazo), e que mantém a alta frequência do comportamento (por exemplo: postar fotos e receber likes, ver vídeos engraçados e/ou interessantes, ouvir músicas agradáveis, conversar com outras pessoas etc). Isso pode ocorrer também em contextos em que o individuo quer se esquivar de situações aversivas, funcionando então como reforço negativo.

E aqui cabe a pergunta: antes destas redes sociais virtuais, como as pessoas obtinham reconhecimento (reforçamento) social? Talvez porimages (6) meio da família ou do trabalho. Hoje, esse reconhecimento se estendeu para além do trabalho e da família (que podem continuar como fontes de reforçamento, mas agora também com curtidas em um post). A quantidade de curtidas pode sinalizar de alguma maneira que o indivíduo é aceito socialmente, embora isto não signifique amor, amizade ou qualquer vínculo duradouro no contato pessoal.

 Mas, será que esse mundo virtual tão falado, por vezes mal falado, e tão vivido hoje em dia, teria também seus benefícios?

Ao apenas falar-se mal dessas redes sociais talvez se desconsiderem os dois lados da moeda ou as vantagens dessas novas formas de comunicação, que estão aí, quer aceitemos ou não, e não são menos reais por serem virtuais. Nas redes sociais virtuais a vida também existe, é possível compartilhar ideias, manter contato com pessoas que estão em outros lugares, apaixonar-se, ficar feliz ou triste com alguma notícia. Para alguns é mais fácil manter uma conversa ou até mesmo “flertar” (por exemplo). Nem todos possuem habilidades sociais suficientes para apresentar em determinados contextos, e relacionar-se ainda que virtualmente, já é um passo para o desenvolvimento daquelas habilidades, que talvez futuramente possam ser exercitadas fora do mundo virtual.

eticaEstas redes são apenas novas formas de comunicação, que, como as anteriores, também estão modificando as nossas relações. Mas quem decide como vai se comportar em relação a elas, quanto tempo dedicará ou o que será compartilhado, é você. E isso vale também para as redes sociais não virtuais. A virtualidade pode ser muito superficial, frágil e efêmera, mas a não virtualidade também pode, tudo vai depender da maneira como você manipula as variáveis que controlam e mantém determinados comportamentos, como você se relaciona e como você constrói suas relações.

Por fim, vale lembrar que o bom senso é bem vindo e bem visto em qualquer tipo de rede social. Não há certo e errado, há o adequado à necessidade e ao objetivo de cada pessoa, mesmo quando não há bom senso. Nestes casos, porém, existem os termos de uso nas redes sociais ou até mesmo algumas consequências que podem colocar alguns comportamentos em extinção ou modelar outros comportamentos.

O lado bom da internet é que todos podem expressar suas opiniões.
O lado ruim da internet é que todos podem expressar suas opiniões.

Referências:

Skinner, B. F. (2007). Ciência e Comportamento Humano (J. C. Todorov, & R. Azzi, Trads.,11ª ed.). São Paulo: Martins fontes (Obra original publicada em 1953).

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Escrito por Débora Dias

Mestre em Análise do Comportamento pela Universidade Estadual de Londrina. Especialista em Recursos Humanos pelo Centro Universitário Filadélfia de Londrina. Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina. Experiência profissional na área Clínica (atendimento psicoterapêutico de crianças e adultos), Acadêmica e Recursos Humanos. Atua no momento no IPAC - Instituto de Psicologia e Análise do Comportamento (Londrina) e na UNOPAR - Universidade Norte do Paraná (Londrina).

Entrevista com Giovana Munhoz da Rocha: Comportamento Antissocial

Leia o 2º volume de 2015 da Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva