Avaliação Psicológica em Saúde

Quando nos deparamos com a psicologia da Saúde, muitas vezes imaginamos que seu caráter é interventivo. Esta proposição não é inadequada, porém, para que se possa chegar a intervenção, faz-se necessário a avaliação psicológica.

A formação em psicologia nos ensina que o processo de avaliação psicológica deve sempre ser detalhado e desenvolvido com a maior riqueza de dados possíveis para que os resultados encontrados possam de fato ser considerados fidedignos. De acordo com a Resolução de N.º 007/2003 do Conselho Federal de Psicologia (CFP), a avaliação psicológica é um processo técnico-científico de coleta de dados, estudos e interpretação de informações a respeito dos fenômenos psicológicos, que resultam-se da relação do indivíduo com a sociedade e são realizados através de estratégias psicológicas (testes, entrevistas, observações e análise de documentos). Tais avaliações podem analisar diferentes aspectos do comportamento humano, como: interesses, atitudes, aptidões, desenvolvimento e maturidade, condições emocionais e de conduta, bem como as mais diversas reações frente a determinados estímulos ou situações espontâneas ou previamente planejadas (CFP, 2007; CRP/PR, 2011).

Em saúde geralmente as avaliações psicológicas são necessárias para se avaliar se o indivíduo tem condições emocionais para a realização de determinados procedimentos. Tais solicitações decorrem de dois momentos bastante específicos e que determinarão qual deve ser a conduta do profissional em atuação.

A primeira delas refere-se a um procedimento de urgência ou emergência e neste caso o profissional muitas vezes tem apenas um encontro com o indivíduo, quando muito algumas horas, no qual precisa organizar, avaliar e dar a devolutiva de qual a condição emocional daquele paciente para aquela situação. Neste contexto, muitas vezes a avaliação acaba sendo muito mais para se ter acesso aos dados para serem trabalhados após o procedimento, uma vez que como o próprio nome diz, emergência, é sinal de que esse indivíduo precisa do procedimento para que possa sair da faixa de risco de morte. A avaliação psicológica muitas vezes serve para apresentar a equipe os prováveis comportamentos que essa pessoa poderá ter no momento pós cirúrgico e para que a equipe de psicologia possa organizar uma estratégia de trabalho posterior. Neste cenário algumas vezes o psicólogo nem é chamado para fazer a avaliação psicológica em si, mas para fazer um breve preparo do paciente. Às vezes a própria equipe que solicita a avaliação, na verdade gostaria que fosse realizada uma preparação psicológica.

A segunda refere-se a um processo considerado eletivo. Significa que o indivíduo precisa daquele procedimento, porém há um tempo para que se possa avaliar as reais condições emocionais dele para o mesmo e até mesmo quando as condições não são adequadas, elas podem ser trabalhadas e o indivíduo adquirir o repertório necessário para enfrentar o procedimento. Neste caso há condições para um número maior de encontros e muitas vezes o psicólogo pode dialogar com o restante da equipe de quanto tempo precisa para realizar não apenas a avaliação daquele individuo, mas o tempo que precisará para prepará-lo. Também há tempo para o trabalho com os cuidadores deste mesmo indivíduo.

Importante ficar claro que esta avaliação em geral segue um protocolo que se procura utilizar na maior parte dos serviços de saúde que realizam o mesmo procedimento. Isso é fundamental para que a comunicação entre os serviços possam cada vez mais ser melhor estruturadas e também que se avalie da mesma forma, mesmo que em diferentes contextos.

Como pode-se perceber o foco da avaliação psicológica em saúde refere-se muito mais aos aspectos emocionais para enfrentar um procedimento, seja ele de urgência ou eletivo, mas para isso é importante que se faça um preparo para este tipo de avaliação, pois embora ela siga todos os princípios éticos e metodológicos propostos para este tipo de atividade, muitas vezes ela precisa ser realizada de forma mais rápida devido às necessidades dos pacientes e da equipe para a intervenção.

 

Referências:

Conselho Federal de Psicologia (CFP). (2003). Resolução CFP nº 007/2003. Brasília, DF. Disponível em: http://www.crpsp.org.br/portal/orientacao/resolucoes_cfp/fr_cfp_00703_manual_elabo doc.aspx 007-2003

 

Conselho Federal de Psicologia (CFP). (2007). Cartilha sobre Avaliação Psicológica. Brasília: Autor. Disponível em: http://www.fag.edu.br/professores/tdavaucher/Cartilha%20sobre%20%20%20%20%20%20%20avalia%E7%E3o%20psicol%F3gica.pdf

 

Conselho Regional de Psicologia (CRP) – PR. (2011). Caderno de Orientação: Conselho Regional de Psicologia do Paraná, 2º ed. Disponível em: http://www.crppr.org.br/editor/file/legislacao/Caderno_Orientacao_CRPPR_2011.pdf

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Escrito por Ana Lucia Ivatiuk

Possui graduação em Psicologia (CRP: 08/07292-8) pela UFPR (1998) e formação em Fotografia pela escola Portfólio (2011); Especialização em Psicoterapia Comportamental e Cognitiva pela USP (2002); Mestrado em Psicologia Clínica pela PUC – Campinas (2004); Doutorado em Psicologia pela PUC – Campinas (2009). Atualmente é Professora Auxiliar na Faculdade Evangélica do Paraná e Psicóloga Preceptora do Ambulatório de Cirurgia Bariátrica do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba. Experiência de 8 anos na área da Saúde, principalmente o campo hospitalar. Também atua como Psicóloga e Coordenadora Administrativa do Crescer com Afeto - Centro de Estudos em Psicologia Clínica e Saúde.

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