E Se Eu Falar?

Quantas pessoas já não se fizeram essa pergunta? Quantos de nós já nos pegamos a pensar nas consequências em falarmos algo? Porém em algumas ocasiões acho que a pergunta a se fazer seria: Porque não Falar? Com isso não quero dizer que devemos falar tudo o que vier a nossa cabeça sem ponderar as consequências. Mas enquanto algumas pessoas dizem tudo que lhe vem a mente, outras têm imensa dificuldade em expressar seus sentimentos e opiniões, e, consequentemente, não conseguem ser assertivas. É sobre como essas pessoas podem expressar suas opiniões e sentimentos – sem serem ofensivas a outras pessoas – que gostaria de falar, ou seja, vamos falar sobre assertividade.

falar1Segundo Dias e Gabriel (s.a) o comportamento assertivo pode ser definido como aquele que envolve a expressão direta, pela pessoa, das suas necessidades ou preferências, emoções e opiniões sem que, ao fazê-lo, ela experiencie ansiedade indevida ou excessiva, e sem ser hostil para o interlocutor. É, em outras palavras, defender os próprios direitos sem violar os direitos dos outros. Segundo Del Prette e Del Prette (2009) assertividade é expressar sentimentos, falar sobre suas qualidades e defeitos, concordar ou não com outras opiniões, recusar a fazer algo, lidar bem com críticas, defender os próprios interesses, resistir à pressão dos grupos.

Ainda segundo Del Prette e Del Prette (2009), a assertividade é uma classe das habilidades sociais de enfrentamento em situações que envolvem risco de reação indesejável do interlocutor, com controle da ansiedade e expressão apropriada de sentimentos, desejos e opiniões. Ela implica tanto na superação da passividade quanto no autocontrole da agressividade e de outras reações habilidosas.
O comportamento assertivo pode envolver a produção de consequências reforçadoras diversas tanto para o indivíduo que age assertivamente, quanto para o grupo com o qual interage. O comportamento assertivo pode também produzir consequências aversivas, sendo que ambas – as reforçadoras e as aversivas – podem constituir um produto imediato ou atrasado desse comportamento.

Hull e Schroeder (1979) apud Marchezini-Cunha e Tourinho (2010) definem assertividade a partir de critérios funcionais, sugerindo que se trata de uma habilidade para procurar, manter ou aumentar o reforçamento em uma situação interpessoal por meio da expressão de sentimentos ou desejos quando tal expressão envolve riscos de perda de reforçamento ou até de punição.

Segundo Guilhardi (2012) não existem pessoas assertivas, nem inassertivas, não se tratando de assinalar características ou traços de personalidade das pessoas, mas padrões comportamentais que interagem entre si se complementando.

Uma pessoa é identificada como assertiva quando emite, regurlarmente, respostas das classes de comportamentos assertivos. Quais comportamentos compõem tais classes? Comportamentos assertivos, públicos e encobertos, são aqueles que produzem reforços positivos ou minimizam, pospõem ou evitam eventos aversivos para aquele que os emite e para pessoas que lhe são socialmente significativas.
Apesar das habilidades sociais serem aprendidas ao longo da vida, quando as condições desfavorecem essa aquisição, o processo pode ser recuperado por meio de treinamento sistemático, em contextos estruturados e por meio de estratégias grupais bem conduzidas (Del Prette e& Del Prette, 1999).

Num contexto clínico, o terapeuta arranjará contingências para que, em sessão, possa ocorrer o treinamento da Assertividade através da modelação, tarefas de casa e ensaio comportamental.

Segundo Marchezini-Cunha e Tourinho (2010) o comportamento assertivo é comparado usualmente com comportamentos agressivo e passivo. Na literatura da terapia comportamental é muito comum encontrar definições desses comportamentos baseadas em suas características topográficas.

Apesar de definições topográficas auxiliarem na identificação de comportamentos agressivos e passivos seus aspectos funcionais são importantes. Analisando funcionalmente, respostas assertivas/agressivas/passivas geram consequências variadas.

“Uma tentativa de classificar as consequências geradas por comportamentos assertivos/agressivos/passivos consiste em diferenciá-las quanto à questão da aprovação social. Assim, em termos funcionais, pelo menos dois conjuntos de consequências da assertividade/agressividade/passividade são referidos na literatura: (a) as consequências de aprovação/desaprovação e (b) outras consequências (como consequências reforçadoras ou aversivas diversas). As consequências diversas “poderão ser entendidas como satisfação de outras necessidades, consequências mediadas socialmente ou não, mas em sentido diverso àquele específico de aprovação/desaprovação”. Os dois conjuntos de consequências se combinam na manutenção de cada comportamento (assertivo, agressivo ou passivo)” Marchezini-Cunha e Tourinho (2010).

Portanto, se você falar poderá ter uma relação assertiva com as pessoas em sua volta, sendo, de fato, conhecida por elas, podendo ou não aceitar pedidos, expressar sentimentos, de acordo com suas próprias convicções e não para agradar aqueles que vivem em sua volta.

REFERÊNCIAS

Assert yourself, M.D. Galassi e J.P. Galassi, Human Sciences Press, traduzido e adaptado por Catarina Dias e Guiomar Gabriel, GAPsi- Gabinete de Apoio Psicopedagógico

Del Prette, Z. A.P., & Del Prette, A. (2009) Assertividade. Part III Habilidades Sociais Relevantes: análise e intervenção. In: Psicologia da Habilidades Sociais na Infancia: teoria e prática.

Del Prette, A., Del Prette, Z. A. P., & Barreto, M. C. M. (1999). Habilidades sociales en la formación del psicólogo: Análisis de un programa de intervención. Psicología Conductual, Vol. 7, Nº 1, 1999, pp. 27-47. Disponível em: <http://www.behavioralpsycho.com/PDFespanol/1999/art02.1.07.pdf>

Marchezini Cunha. V e Tourinho E.Z. Psicologia: Teoria e Pesquisa Abr-Jun 2010, Vol. 26 n. 2, pp. 295-304 Assertividade e Autocontrole: Interpretação Analítico-Comportamental. Disponível em:

Guilardi, H. (2012). Assertividade–Inassertividade em um Referencial Comportamental. Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento Campinas – SP. Disponível em: <http://www.itcrcampinas.com.br/txt/assertividade.pdf>

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Escrito por Fernanda Cerqueira

Psicóloga Clínica. Mestre em Análise e Evolução do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás). Especializada em Terapia Analítico Comportamental Clínica pela Unijorge. Psicóloga, formada pela União Metropolitana de Educação e Cultura (Unime) Salvador BA.
E-mail para contato:
nandacerqueira-@hotmail.com

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