[Entrevista Exclusiva] Carmem Bandini – O trabalho com crianças surdas

Entrevista concedida ao Comporte-se: Psicologia Científica por Carmen Bandini, durante o III Encontro de Análise do Comportamento do Vale do São Francisco, promovido pela UNIVASF – Universidade do Vale do São Francisco, Campus Petrolina. 

Carmem é Doutora em Filosofia pela UFSCar. Professora e pesquisadora da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas e coordenadora do Núcleo Informatizado de Estudos da Linguagem, vinculado a Faculdade de Fonoaudiologia de Alagoas. Membro do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Comportamento Cognição e Ensino. Professora no Centro Universitário Cesmac de Maceió. Editora do periódico Acta Comportamentalia. Desenvolve pesquisas na área de programação de ensino e de aquisição de repertórios de leitura e escrita. 
Entrevista baseada na palestra: Intervenção profissional e pesquisa na interface com a Fonoaudiologia, realizada durante o III EAC do Vale. 
1. O seu trabalho é realizado em conjunto com profissionais da fonoaudiologia, entre outros. Diante disso, você poderia expor dificuldades ou facilidades que tenham surgido nesta relação com a fonoaudiologia e em que uma área tem a contribuir com outra? 
Algumas fonoaudiólogas tem me dito que a principal melhoria que elas tem tido com a apresentação da Análise do Comportamento no trabalho é a sistematização dos procedimentos. Parece que a fonoaudiologia tem um corpo muito grande de conhecimento na área, mas eles não são tão sistemáticos como a análise do comportamento pode ser. Então, eles tem ganhado muito com isso. O procedimento de ensino tinha uma lógica, mas não está fundamentada dessa forma. Agora, de nosso ponto de vista é total o ganho, por que a gente aprende a conhecer o universo do deficiente auditivo e outros universos e pode atuar de outra maneira com o nosso próprio trabalho. 
2. Se o erro não é parte necessária do processo de aprendizagem por inúmeras questões (respostas emocionais eliciadas, impedimento da ocorrência de novas respostas, etc), como ele pode ser evitado a partir de um planejamento de ensino individualizado? 
Na verdade, você tem vários procedimentos já disponíveis da Análise do Comportamento que podem favorecer a não ocorrência do erro. Por exemplo, os procedimentos de fade in e fade out de alguns estímulos, os procedimentos de exclusão, além de outras técnicas. Agora existe o corpo teórico que é necessário para realizar tais procedimentos e que vocês podem ter acesso. 

3. Em seu trabalho com crianças surdas (as que falam libras e as que usam aparelho auditivo), você disse ter adaptado os procedimentos para possibilitar o ensino adequado diante das necessidades advindas da perda auditiva. Como tem sido esse trabalho e a quais resultados tem chegado? 
Com esse procedimento, na adaptação tem sido utilizados os recursos de que a fonoaudiologia dispõe, o uso dos aparelhos auditivos para a amplificação do som e o uso do recurso do FM, que é um recurso bem conhecido dos surdos para melhorar isso. Já para usuários de libras é outra história, por que eles não estão dependentes do som, mas sim dos sinais. Então nós ainda não temos um corpo muito bem criado lá no laboratório para eles. Nós ainda estamos desenvolvendo um programa baseado nesse que eu mostrei. Os resultados tem sido bons, embora não sejam como desejávamos, pois talvez o ensino tenha sido mais difícil para essas crianças, mas alguns ajustes devem favorecer a aprendizagem delas. 

4. Você, ao fim da apresentação, falou da importância de o Behaviorista saber divulgar e fazer circular seu trabalho, melhorando a linguagem utilizada. Poderia, então, falar um pouco mais sobre o assunto para os leitores do Comporte-se? 
Eu acho que podemos fazer isso sem deixar de ser preciso e filosoficamente corresponder ao que o Skinner queria dizer – ou qualquer outro analista do comportamento que tenha vindo depois. Acho muito bom pararmos de falar uma linguagem que só a nós mesmos entendemos, com termos técnicos. É como se um engenheiro chegasse para a gente falando de uma estrutura de um prédio, por exemplo, que a gente não faz idéia do que seja. Ou ele fala numa linguagem em que possamos entender ou não se fala. Então algumas áreas do Behaviorismo são um pouco piores e acho que isso dificulta muito que as pessoas se aproximem dele. Há uma necessidade que a gente tenha uma veiculação um pouco mais simples e isso não simplifica o que se faz, apenas simplifica como se fala sobre o que se faz. É diferente. Acho que é isso. 
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Escrito por Júlia Ferraz

Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNIVASF. Fez iniciação científica pelo PIVIC: “Efeitos do Controle Verbal em Microculturas Experimentais”; organização dos Encontros de Análise do Comportamento do Vale do São Francisco; monitoria na disciplina de Análise Experimental do Comportamento; está na Liga Acadêmica de Análise do Comportamento do Vale do São Francisco (LAAC-VASF) e é uma das organizadoras do Grupo de Estudos vinculado à Liga.

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