[Entrevista Exclusiva] – Profª Ana Lúcia Ulian (VII JAC Salvador)

Última entrevista da série feita durante a VII JAC Salvador, dessa vez com Ana Lúcia Ulian, professora aposentada da Universidade Federal da Bahia e coordenadora do Instituto Baiano de Análise do Comportamento (IBAAC). Ana falou sobre a formação de analistas do comportamento, área de interesse dos seus estudos, e da expectativa para a realização da XX ABPMC. 

Aline – Queria saber um pouco sobre a sua trajetória como analista do comportamento e sobre a sua formação. Como foi que você se aproximou da análise do comportamento e da área clínica, que é seu foco de pesquisa?

Ana Lúcia Ulian – De fato, não tive bem uma escolha como vocês estão tendo a oportunidade de ter. Me formei na Universidade Estadual de Londrina e o curso de lá foi montado por Analistas do Comportamento de Brasília, como Fred Keller, Carolina Bori e Maria Amélia Matos. O curso de Londrina era eminentemente comportamental. Nós tínhamos pouquíssimas disciplinas de outras áreas. Acabei me tornando uma Analista do Comportamento por causa da escola que eu tive.

Depois continuei estudando esta área, pela qual me apaixonei. Ela me ajuda a viver a vida, entender as coisas do mundo com o respaldo que a AC tem na filosofia do Behaviorismo Radical, que por sua vez tem respaldo da filosofia da ciência… No momento me sinto bem com esta abordagem.

A trajetória de Terapeuta Analista do Comportamento aconteceu por força da minha atividade na Universidade Federal da Bahia. A princípio eu era uma professora de princípios básicos, mas gostava muito de ler sobre a área clínica e sempre frequentava, pelo menos uma vez por ano, a reunião da atual Sociedade Brasileira de Psicologia. Na época se chamava Associação Brasileira de Psicologia de Ribeirão Preto (SBPRP) e só depois se tornou SBP.

Na SBPRP, a maioria das pessoas também era Analista do Comportamento naquela época. Isso até os anos 80, depois [a SBPRP] foi abrangendo mais. Nessas reuniões surgiu a idéia de montar uma nova associação, uma associação de terapia, mesmo porque a gente viu que começou a ficar bastante generalizado o congresso. Não só na área de metodologia experimental, que era forte, mas em outras áreas da Psicologia também. Então o Bernard Rangé e o Ricardo Gorayeb propuseram dar início a uma associação de Terapia Comportamental; e assim, naquele ano – isso tem 20 anos –, foi feita a primeira reunião da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental, como ela foi chamada na época.

O Bernard Rangé é cognitivo-comportamental, muito ligado a psiquiatras; inclusive, existem livros organizados por ele que tratam de transtornos psiquiátricos. Por isso que a ABPMC ficou com esse nome. Havia muitos psiquiatras que adotavam a abordagem comportamental em suas clínicas. A primeira reunião foi no Rio de Janeiro e só não fui nesta e em outra porque estava na época do doutorado, muito atarefada. Foi nesse contexto, na época da Associação de Ribeirão Preto, que surgiu a Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental. Com isso Analistas do Comportamento tiveram um campo maior não só para divulgar seus trabalhos, como também para discutir, se reunirem, trocar idéias e conhecimento.

Hoje em dia, participam da ABPMC uma média de 1 500 pessoas. Ela começou com 100. Eu me lembro que no segundo ano que fui, foi em Campinas. O Hélio Guilhardi tinha reservado um hotel pra fazer a reunião. Era um hotel pequeno, com um salão comum. Foram umas 400 pessoas. Ele não esperava que fosse tanta gente e teve que arrumar um galpão de última hora. Foi uma confusão! Mas enfim, foi crescendo mais a cada ano e agora, nós estamos com esta expectativa para esta comemoração de 20 anos da ABPMC.

Geralmente estas reuniões ocorrem no local onde a diretoria está. Por isto, só esteve uma vez em Londrina e outra em Brasília; e agora, ocorre aqui, mesmo sem a diretoria ser daqui. A diretoria é de São Paulo e eles toparam fazer o encontro aqui.

A – Falando da ABPMC, qual é sua expectativa para o evento deste ano quanto à apresentação de trabalhos sobre sua área, a clínica?

ALU – Agora que você me perguntou isso eu me lembrei de que fugi da primeira pergunta, quanto à trajetória como Analista do Comportamento.

Então… Sempre me interessei pela clínica, mas foi justamente na época que alguns alunos me pediram pra dar supervisão de estágio e não podia dar porque eu não sabia, não trabalhava com clínica, que se iniciou esta trajetória. Como é que eu ia dar supervisão de uma coisa que eu não fazia? Eu só falava. É aquilo que falei hoje: eu sabia “falar sobre”, mas não sabia “fazer como”. Aí resolvi, só na segunda e quinta feira à noite, ir pra clínica lá no próprio serviço de Psicologia. Atendia três clientes lá na escola mesmo. Meu caminho por esta área da clínica aconteceu por aí; muito por conta da exigência do aluno, senão talvez eu tivesse ficado na Universidade, como a maioria que acaba não tendo oportunidade de realmente ir à prática. A Universidade acaba não permitindo. Uma coisa que eu acho que é um contra-senso, mas enfim.

A Então sua trajetória na clínica foi muito baseada na sua trajetória acadêmica, não é? […] E sua tese de doutorado, em 2007, foi sobre a formação de analistas do comportamento. E desde então, você sabe de alguma mudança na área, se estão havendo mais pesquisas sobre isso, e se vai ser apresentado algo na ABPMC sobre o assunto?

ALU – Ah, com certeza. Cresceu muito esta área da formação. Inclusive fiquei feliz porque esse meu trabalho foi muito referenciado. Agora, na última reunião lá em Campos do Jordão, uma pessoa que eu não conhecia – de Botucatu –, disse: “Olha, Ana, eu tô usando o seu trabalho direto”. E vários outros tem usado. Isso é uma coisa boa, porque não fica na prateleira. Ele foi feito pra isso.

Então… Eu tenho observado que tem aparecido sim, na literatura. Ainda não foram abertas as inscrições da ABPMC, então não sabemos que trabalhos virão, mas eu tenho a impressão que virão trabalhos nesta área de formação, com certeza. Na área de aplicação, de estudo de caso – geralmente é o que mais aparece – e na área de pesquisa básica, porque agora, a Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental foi extinta. Nós temos agora a Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental. Isso porque nas reuniões aparecia muita gente da área de Análise do Comportamento que não atuava na clínica, mas que dava respaldo importante para a clínica. Por isso que a gente precisa da pesquisa básica.

Nós, que estamos na ativa, precisamos dizer para o pessoal da básica as nossas dificuldades. E eles, que estão lá na básica, vão resolver. Vão lutar para resolver.

A – Dificuldades conceituais, não é?

ALU – Isso.

A – Hoje você está aqui, falando na JAC, e deu um minicurso sobre o assunto. Queria saber de você, que foi e ainda é uma formadora de Analistas do Comportamento, qual é o papel das JACs na disseminação e na formação dos Analistas do Comportamento?

ALU – Extremamente importantes essas reuniões. […] Uma Jornada é um período curto que traz pessoas que podem explicar e divulgar qual é a nossa pretensão, a pretensão do analista do comportamento, que de certa forma é promover a recuperação de vidas. Eu estou falando aqui uma coisa grande demais, aparentemente, mas é isso… É uma filosofia de vida. E que na medida em que você adota uma filosofia dessas, de olhar para você mesmo e olhar para o contexto em que você vive, a probabilidade de você saber gerir sua vida de forma mais adequada existe. [É melhor] do que ficar com elucubrações… [como quando] a nossa sociedade, nossa cultura acaba incentivando as pessoas a sonhar e a criar expectativas que nunca se realizarão – quer dizer, a probabilidade é pequeníssima. Então eu acho que é muito mais pé no chão… E saudável.

A – Para finalizar, queria saber se você tem alguma dica ou sugestão pra aquelas pessoas que estão começando sua formação em Análise do Comportamento, ou mesmo pra aquelas pessoas que já são especialistas e estão começando a prática.

ALU – A dica é: participe destes eventos, porque nestes eventos você tem oportunidade de conhecer muitas pessoas, colegas, discutir assuntos. É assim que a gente aprende. Nós, serem eminentemente sociais que aprendem com os outros, precisamos dos outros para viver. E leitura, muita leitura. Não só de uma coisa. Por exemplo, a gente está aqui estudando Análise do Comportamento, mas você deve ler outras coisas, deve frequentar muitos lugares diferentes, porque a diversidade é que faz você aprender a analisar melhor os acontecimentos. Então, quanto mais conhecimento você tiver, mais liberdade você terá.
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Escrito por Aline Couto

Tem 22 anos e reside em Salvador, BA. Formada em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Durante o curso, aproximou-se da Análise do Comportamento, da Psicologia Cognitivo-Comportamental e da Neuropsicologia. Participou de grupos de pesquisa sobre Neuropsicologia Clínica e Cognitiva e Análise do Comportamento e Cibercultura na sua faculdade, além de grupos de estudo sobre Behaviorismo Radical.

Reforçamento Positivo na Análise do Comportamento Definição e aplicações clinicas

Resumo – VII JAC Salvador 2011