Habilidades Sociais: como enfrentar críticas?

Continuando a série sobre Habilidades Sociais, na qual trato de questões do dia-a-dia com base nos textos do Caballo (2006) através de discussões das idéias apresentadas por ele, falarei hoje sobre Como Enfrentar Críticas. 
Conforme explica o autor, não importa o quanto sejam boas as nossas relações, seremos criticados de vez em quando. A maneira como enfrentamos as observações críticas tem um papel importante na determinação da qualidade das nossas relações (p. 264). Maioria das pessoas, no entanto, fecha-se diante da crítica, evitando discutí-la, negando-a diretamente, ou procurando diminuir a importância da mesma; o que, embora possa evitar um conflito, também atrapalha a resolução do problema. Responder com outra crítica pode ser mais grave ainda, posto que o outro está irritado, e poderá se enfurecer ainda mais com a sua resposta.
Caballo explica que o modo mais adequado de receber uma crítica é deixá-la seguir seu rumo, sem acrescentar mais informação ou combustível ao sistema (p. 265) tentando respondê-la ou explicar-se. Ressalta também a importância de deixarmos que o outro finalize sua crítica primeiro, não interrompendo-o; para, só então, nos manifestarmos a respeito. Alerta, além disso, que se estivermos errados, o melhor é não tentarmos nos defender e assumir a responsabilidade sobre o erro, simplesmente nos desculpando, sem grandes explicações sobre os motivos que levaram ao erro. 
Garner (citado por Caballo, 2006) recomenda a seguinte conduta para que a crítica seja recebida de forma construtiva:
1) Peça detalhes sobre as objeções do outro, ou o que o incomodou, para que assim, seja possível uma análise mais cuidadosa do problema;
2) Esteja de acordo com a crítica, o que pode ocorrer de duas maneiras, sendo elas: 
 a. Estar de acordo com a verdade: importante lembrar-se, nesta situação, que geralmente a crítica vem acompanhada de termos absolutos, como “sempre”, “nunca”, “todos”; ou estarão rotulando a nós, e não ao nosso comportamento. Conforme explica Caballo (2006), nestas situações devemos estar de acordo com a parte que se refere àquele comportamento específico, e ignorar as generalizações. 
b. Estar de acordo com o direito do outro de criticar: não precisamos concordar sempre com a crítica, mas é importante reconhecermos que nosso comportamento pode ter causado incômodo no outro. Fazer isso nos ajudará a pensar em pontos de vista diferentes, enquanto, ao mesmo tempo, nos ajudará a manter a nossa própria opinião (p.266). 

Procedimentos Defensivos
Embora seja bastante construtivo abordar a crítica do modo explicado no tópico anterior, pode ser que às vezes precisemos adotar o que Caballo chama de Procedimentos Defensivos (p. 267) quando a situação está de fato se agravando. Eis alguns deles:
1) O disco riscado: não prestamos atenção aos outros temas da conversação que não sejam aqueles que nos interessam. Repetimos continuamente o ponto principal que queremos expressar do modo mais preciso possível. As frases chave são do tipo “sim, mas…” ou “mas o fato é que…”. Não devemos, conforme explica Caballo, dar razões, desculpas ou explicações sobre nosso interesse,  e centrarmo-nos no ponto que queremos enfatizar.
2) O recorte: técnica apropriada para situações onde não temos certeza se erramos ou não. Através do recorte, respondemos apenas “sim” ou “não”, com a menor quantidade de livre informação possível, a fim de que o outro fale mais, e esclareça o assunto, o que evita também a inserção de mais combustível ao conflito por meio de informações desnecessárias.
3) Ignorar seletivamente: selecionar a quais aspectos da fala da pessoa iremos atender. Geralmente uma crítica vem acompanhada de generalizações e rotulações, as quais devem ser ignoradas. Damos atenção apenas o que é relevante à resolução do problema.
4) Separar os temas: às vezes, em durante uma critica,  temas ou idéias se misturam (ex: não poder emprestar o carro e ser seu amigo). Separar tema por tema ajuda bastante na compreensão e resolução do problema.

5)  Desarmar a Ira: ignorar o conteúdo da mensagem irada e centrarmo-nos no fato de que a outra pessoa está aborrecida, interrompendo a conversa e retomando logo que a pessoa estiver mais calma. Com a pessoa aborrecida, a dificuldade em se chegar a um acordo é bem maior do que se esperássemos que ela se acalmasse.
6) Oferecer Desculpas: pedir desculpas quando nos sentimos mal pelo que fizemos, também sem grandes explicações sobre os motivos que nos levaram a cometer o erro.
7) Perguntas: podem representar um meio efetivo para ajudar o outro a dar-se conta de uma ação não pensava (ex: o vendedor faz cara ruim quando pedimos que embrulhe o pacote, e perguntamos: “está incomodado porque te pedí que embrulhasse o pacote?. Ele é útil pois, muitas vezes, as pessoas são agressivas sem perceber isso. 
8) Banco de Névoa: o indivíduo repete ou parafraseia o que o outro disse, acrescentando: “sinto muito, mas não posso fazer isso”.Quem utiliza esta técnica parece estar de acordo com o outro indivíduo, que “pode ter razão“, mas não diz que ele tem razão, pernamecendo imóvel em sua posição (p. 270). Conforme explica o autor, o emprego desta técnica justifica-se pela explicação de que tentarmos resistir ou lutar contra uma pessoa que está nos recriminando, estamos dando atenção a ela; e, por consequinte, aumentando as chances de que ela continue a reprimenda (p.271).
9) Interrogação Negativa: suscita mais críticas, porém, sacia (ex: há algo mais que não lhe agrada?). Este procedimento pode ser eficaz quando sabemos que estamos sendo criticados injustamente.Após a pessoa falar o que tiver para falar, não lhe dê mais atenção até que se acalme.
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Escrito por Esequias Caetano de Almeida Neto

Terapeuta Comportamental, com especialização em Clínica Comportamental pelo Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento (Campinas, SP), com Treinamento Intensivo em Terapia Comportamental Dialética pelo Behavioral Tech | A Linehan Institute Training Company (Seattle, Washington/ EUA) e Formação em Terapia de Aceitação E Compromisso e Terapia Analítica Funcional pelo Instituto Continuum (Londrina, PR). É sócio da Ello: Núcleo de Psicologia e Ciências do Comportamento, onde atende a adultos individualmente, em terapia de casais e terapia de família, além de prover Supervisão Clínica e Treinamento para Terapeutas Comportamentais. É fundador e diretor geral do Portal Comporte-se: Psicologia e Análise do Comportamento (www.comportese.com), onde também coordena a equipe de colunistas de Terapia Comportamental Dialética. Coorganizou os livros Terapia Analítico Comportamental: dos pressupostos teóricos às possibilidades de aplicação (Ed. Esetec, 2012) e Depressão: Psicopatologia e Terapia Analítico Comportamental (Ed. Juruá, 2015). Atua como consultor de Comportamento e Cultura para a Rádio Clube (AM 770) de Patos de Minas e escreve sobre Psicologia e Saúde Mental para o jornal Clube Notícia (https://www.clubenoticia.com.br). É sócio afiliado da Associação Brasileira de Análise do Comportamento (ACBr) e, entre os anos de 2015 e 2017, foi membro da Comissão de Comunicação da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC).

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